No encerramento do segundo encontro “Lisbon Addictions”, o diretor científico do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, sedeado em Lisboa, destacou à agência Lusa como uma "chamada de alerta" a conclusão de que chegou à Europa o problema dos opióides sintéticos de alta potência, que nos Estados Unidos é "uma enorme crise de saúde pública".

Paul Griffiths destacou ainda o interesse de vários países pela legalização da canábis, uma realidade que os leva a olhar para Portugal e para a sua “política sobre o uso de substâncias equilibrada e orientada para a saúde pública”.

O subdiretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências, Manuel Cardoso, declarou à agência Lusa que os delegados de mais de 70 países juntaram no debate global dependências de drogas, álcool, tabaco e comportamentais, como a do jogo.

O responsável afirmou que o “’boom’ da legalização [da canábis] tem sempre por trás a descriminalização dos consumos”, área em que Portugal tem sido “visto como modelo de sucesso”.

Mas a legalização total traz “problemas que começam a surgir”, como por exemplo, modelos de consumo que podem constituir “riscos para terceiros”.

“Por exemplo, ouvimos falar de pizzas ou bolos de canábis. E se ficam numa mesa e uma criança os consome? Há coisas para as quais ainda não estamos suficientemente preparados”, alertou.

Falta ainda estudar melhor “o que é isso de as pessoas poderem consumir [canábis] de qualquer modo, de uma forma mais fácil”, num cenário de legalização.

Manuel Cardoso defendeu que, seja qual for a dependência, o foco científico e político deve estar “na pessoa” e “não na substância”.

“São pessoas que precisam de ajuda, é preciso encontrar uma forma de ajudar aquela pessoa que precisa, ou por ser dependente ou por a dependência lhe criar problemas de inserção, sociais ou de outro tipo”, afirmou.

Afirmou ainda que é “importante descriminalizar” os consumos. “Para resolver os problemas, tem que se ir muitíssimo mais longe, numa intervenção integrada”.

“Não é porque é heroinómano ou um jogador compulsivo que uma pessoa vai ser abandonada, até porque todos os comportamentos aditivos têm uma raiz comum, em termos biopsicológicos”, indicou.

A riqueza do encontro que decorreu desde segunda-feira foi juntar cientistas, representantes de instituições governamentais e técnicos que estudam e atuam em todas as áreas das dependências.

Manuel Cardoso anunciou ainda que o terceiro “Lisbon Addictions” decorrerá de 23 a 25 de outubro de 2019.