Apesar de todo o sucesso, Paula Rego passou por graves períodos de falência e de depressão que marcaram a sua vida. São estes momentos íntimos e pessoais da pintora que Nick Willing, o seu filho, vem retratar no documentário sobre a mãe “Paula Rego, Histórias & Segredos”. Nick tem no currículo vários filmes premiados e decidiu criar este documentário com o objetivo de melhor conhecer a sua mãe enquanto pessoa e de expor a complexidade da sua arte e vida artística ao mundo. Ao longo de dois anos entrevistou pessoas que influenciaram a carreira da pintora, ao mesmo tempo que explorou em conjunto com a mãe, os temas que mais são abordados nas diferentes fases da sua obra artística. Produzido em parceria com a BBC, o filme estreou em Londres a 26 de Março e em Lisboa a 6 de Abril.
Não foi um trabalho fácil, sobretudo por se tratar de um filho que conta a história de uma pintora, uma personalidade complexa, que é sua mãe. O realizador confessou que se tratou de um grande esforço pessoal ter de expôr a vida da sua mãe e todos os seus momentos de fraqueza perante uma grande audiência. Um trabalho difícil, sublinha, que só foi possível pela forma destemida com que a mãe embarcou no projeto, apesar de ser uma artista bastante reservada.
O documentário começa com uma espécie de apresentação da sua família de Paula Rego, da mãe, com quem nunca teve uma relação muito próxima, ao pai, que foi o grande pilar da sua vida e que a apoiou nos momentos mais difíceis. A história passa em seguida para os árduos momentos da vida universitária em Londres, cidade onde Paula Rego conhece Victor Willing, com quem casaria, mas também onde decorrem episódios traumatizantes para a pintora. O filme centra-se essencialmente na sua relação íntima com Victor Willing (“Vic”) e na forma como sempre viveu uma vida dupla, de artista e de mulher de família.
Todos os episódios e todas as confissões são contados com engenho pelo cineasta, e filho da pintora, durante os 90 minutos que compõem o documentário. O tempo flui permitindo-nos viajar pela vida da pintora de forma muito natural e oferecendo-nos a sensação de fazer parte da sua história. Curiosa é também a forma como nos é mostrada a utilização que Paula faz da pintura para dissecar as suas emoções mais ocultas e opiniões mais controversas, caricaturando pessoas de quem não gosta e fazendo analogias à sua vida pessoal através de monstros e bonecos sombrios.
Há um ponderado balanço entre as diferentes etapas da sua vida e um bom equilíbrio entre fotografias, quadros, filmagens e diálogos que são conjugados com um excelente trabalho de editing. Acompanhando as entrevistas e as memórias está a música nostálgica que liga todo o filme. Um documentário a não perder e que está em exibição no cinema Ideal, em Lisboa, em cinco sessões diárias.
Em paralelo com o filme está em Cascais, na Casa das Histórias, uma exposição das 80 obras mais relevantes que são mencionadas ao longo do filme, tanto da pintora, como do marido Victor Willing. A exposição está distribuída por oito salas temáticas, que capturam as várias fases da vida de Paula Rego, trazendo ainda objetos pessoais que recriam o atelier da artista. Embora curta, a exposição é muito rica e complementa o filme com uma coleção de arte que ajuda a ilustrar as questões biográficas que aí são apresentadas.
Ainda em Lisboa, a Cinemateca vai reproduzir até ao final do mês de Abril um ciclo de filmes escolhidos pela própria Paula Rego. Para quem aprecia arte, esta exposição, acompanhada do documentário e do ciclo de filmes, é um programa diferente e de muita qualidade que nos ajuda a compreender quem é Paula Rego e como é que esta artista de tanto renome conseguiu chegar à hegemonia seguindo sempre a sua paixão artística.
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