“Há sempre destino a dar. E, neste caso, concretamente, trata-se de usá-los na catedral de novo”, disse aos jornalistas o bispo do Funchal, Nuno Brás, acrescentando que o montante será aplicado “na continuação das obras de restauro da catedral”.

“Porque uma igreja como esta, de há 500 anos, e tão grande, necessita de obras de restauro profundo, caras, porque têm de ser feitas de acordo com as regras todas e havemos de as seguir sempre”, salientou.

A paroquia da Sé Catedral do Funchal recebeu hoje o Prémio Gulbenkian Património — Maria Tereza e Vasco Vilalva pelo projeto de restauro dos tetos mudéjares, numa cerimónia que contou com a presença do representante da República para a Madeira, Ireneu Barreto, do presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues, e do presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque.

O bispo do Funchal defendeu que o prémio “representa o reconhecimento, em primeiro lugar, do trabalho que foi feito”, mas também “a importância da própria catedral”.

“Não foram apenas os trabalhos que foram feitos, mas a própria catedral em si é uma realidade única, no sentido de uma manutenção de uma realidade de há 500 anos que está artisticamente preservada, culturalmente também preservada e que é, podemos dizer, o coração da vida cristã da diocese e de uma forma muito particular da cidade”, sustentou Nuno Brás.

“Mas, depois também creio que representa o próprio coração da ilha. É muito bonito que no Funchal tudo converge para aqui, ao contrário de outras cidades em que a catedral está no canto”, apontou.

Num comunicado divulgado pela Fundação Calouste Gulbenkian, em 31 de maio, o júri do prémio destacou não só a “exemplaridade da intervenção”, mas também a “relevância patrimonial, artística e social” do projeto.

“O trabalho de conservação e restauro efetuado no âmbito desta recuperação prolonga a arte mudéjar no tempo”, acrescentou o júri, que distinguiu por unanimidade esta candidatura, de entre 19 submetidas.

A arte mudéjar da ilha da Madeira inscreve-se numa tradição que mergulha as suas raízes na arte islâmica andaluz e que teve ampla difusão peninsular, referiu a Gulbenkian, acrescentando que “a sofisticação das laçarias em madeira”, tipicamente mudéjar, “está representada em todo o seu esplendor nesta intervenção”.

O projeto de recuperação abrangeu uma área de cerca de 1.500 metros quadrados, no qual colaboraram 36 especialistas de várias nacionalidades, cujo trabalho conjunto possibilitou não só a descodificação do ‘modus operandi’ dos artesãos, como também o estudo dos materiais e a adequada forma de os recuperar.

O Prémio Gulbenkian Património — Maria Tereza e Vasco Vilalva foi criado em 2007 e distingue anualmente um projeto de excelência na área da conservação, recuperação, valorização ou divulgação do património cultural português, imóvel ou móvel.