Em entrevista à Lusa, quase um ano depois do lançamento de “Miramar Confidencial”, o músico gaiense contou como a pandemia da covid-19 o ajudou a avançar com este novo vídeoálbum, intitulado “Raiashopping”, que sai na sexta-feira, desta vez sem contar estórias de personagens imaginadas, mas num passeio às suas próprias recordações de férias passadas em Figueira de Castelo Rodrigo, na Guarda.

“Fiz isto em tempo recorde, porque para os outros andei a recolher estórias e a inspirar-me, este já tem muitos anos de histórias guardadas. As letras são poemas simples de que me fui lembrando, os instrumentais foram feitos para alimentar a letra – diferente dos outros discos –, porque pensava em ‘Salamanca by Naite’ ou ‘Festa da Espuma’ e no que encaixava ali. Estava pronto no final do ano passado, não sabia quando o ia lançar e a covid-19 deu um empurrão. O áudio estava pronto no final ano passado”, contou, acrescentando que o confinamento serviu para se dedicar à parte vídeo.

Membro da primeira geração da família a nascer num centro urbano, David Bruno desde sempre quis “fazer um disco sobre o Portugal profundo”, retratando a altura em que ia passar férias para casa dos avós no interior ou em França, de onde faria a “viagem de emigrante” no mês de julho.

“Este [álbum] é sobre histórias da minha infância e adolescência, é o mais pessoal e mais puro de todos. O vídeo também é o mais puro porque não há só imagens de arquivo, mais de metade das imagens são de cassetes VHS que eram da minha família. Aqueles arquivos é mesmo o tipo de coisa que ninguém daria cinco tostões, mas é um Portugal genuíno. Não tem tanta invenção, é puro”, referiu.

Ao mesmo tempo, é o trabalho mais curto por “sair muito em cima do anterior”, que “não teve muita hipótese de andar na estrada” e houve também a preocupação de “não querer saturar as pessoas”, já que este é o terceiro trabalho a solo no espaço de três anos.

“Tinha material para mais coisas, vozes e arranjos, que não coloquei porque quis meter a cena que saiu à primeira. Nada substitui o primeiro ‘take’ e, tudo o que me saiu num curto espaço de tempo sobre histórias mais relevantes, foi da forma mais pura e quando o comecei a ver formado pensei em não acrescentar mais nada. Está o diamante bruto. Não está limado, tem poucos arranjos de voz e está feito para ser como uma cassete”, acrescentou.

O nome do álbum faz a ligação entre Vila Nova de Gaia e a zona “de contrabandistas e de compras” da raia histórica, com os espanhóis a virem a Portugal “comprar jogos de banho e mantas” e os portugueses, a irem no sentido inverso “comprar caramelos e chocolates, como o praliné”, numa área em que as línguas são faladas com pronúncias cerradas, mas todos se entendem, com imagens que não são especiais, mas representam a cultura portuguesa daquela zona.

“A ‘Café Central’ era o café do meu avô, as histórias de lobisomens e bruxaria eram da minha avó. A ‘Salamanca By Naite’ ia para lá muitas vezes com amigos e havia um bar em que éramos conhecidos por ser os fecha-bares. A ‘Praliné’ é o fascínio de ir a Espanha comprar chocolates, a ‘Flan Chino Mandarim’ é um pudim pré-feito que as minhas avós tinham sempre lá em casa quando eu ia lá. A ‘Doucement’ foi uma coisa que eu ouvi lá no café central, o contramã, camiã [contramão, camião]”, explicou acerca das faixas.

“Raiashopping” é marcado também pela ausência de colaborações externas – à exceção do habitual guitarrista Marco Duarte – apesar das várias oportunidades que foram surgindo, mas decidiu assim por “escolha própria” já que, se “fosse convidar alguém, como é que iria explicar o que é aquela realidade”?

A pandemia obrigou ao cancelamento ou adiamento alguns concertos de apresentação de “Miramar Confidencial” - destacando o do Primavera Sound como “o mais amargo” - o que afetou a equipa do músico, que recorreu às redes sociais para leiloar uma série de objetos de ‘merchandising’, também de Conjunto Corona ou “4400 OG”, arrecadando uma soma que entregou à equipa.

“Fiz um leilão de objetos pessoais e não estava à espera porque achava que as pessoas estavam a gozar e não iam pagar. Aqueles valores absurdos, no dia seguinte, já os tinha recebido e distribuído. Houve coisas a valerem 300 euros e t-shirts a 150. Peguei no dinheiro e disse à minha equipa para distribuírem entre eles consoante as necessidades de cada um”, recordou.

Sobre o futuro, confessou que Conjunto Corona vai ter de esperar, já que gostaria de passar o ano a apresentar este “Raiashopping” – em conjunto com “Miramar Confidencial” – numa espécie de concerto excursão. Tem ainda algumas colaborações no horizonte, nomeadamente com Chico da Tina e Mike El Nite, e vai ainda lançar o formato físico do novo trabalho, mantendo o mistério acerca do mesmo.

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