“Para nós é importante reposicionar a obra de Vieira da Silva e de a pôr num contexto internacional com três galerias muito conhecidas. Algumas das obras pertencem à nossa galeria, outras a coleções privadas e outras a galerias com quem trabalhamos”, disse Emmanuel Jaeger, diretor da galeria Jeanne Bucher Jaeger, em declarações à agência Lusa na inauguração da mostra, na noite de quinta-feira.
Entre 1933 e 1992, ano da sua morte, Maria Helena Vieira da Silva foi sempre representada na capital francesa pela galeria Jeanne Bucher Jaeger, tendo estabelecido, segundo Emmanuel Jaeger, “uma rara ligação” duradoura entre uma artista e os seus promotores.
Nos cerca de quarenta quadros expostos a partir de hoje, e que ficam em Paris até 16 de novembro, estão representados os diferentes períodos da pintora desde a obra “Le jeu de cartes”, de 1937, até outras executadas em 1991, poucos meses antes da morte (1992).
Um menu que abre o apetite aos colecionadores. “Há algumas obras que eu já conhecia, mas há ali uma, por exemplo, que eu não conhecia. Este ‘Echec-mate’, apesar de ser de 1946, mostra exatamente a síntese entre a paisagem fugaz que se vai desenvolver mais tarde e, ao mesmo tempo, o tabuleiro e o jogo”, afirmou Stanislas Ract-Madoux, da coleção De Bueil & Ract-Madoux Paris.
Este colecionador privado já tem obras de Vieira da Silva na sua coleção, mas considera que, tal como muitos artistas franceses do pós-Segunda Guerra Mundial, a pintora ainda não tem o lugar “merecido” no mercado, apesar de ser reconhecida pelos especialistas.
Para Portugal, uma nova mostra de Vieira da Silva na capital francesa representa uma oportunidade para introduzir também novos artistas nacionais.
“Depois de termos recebido a boa notícia de que o Presidente Macron e a sua mulher decidiram ter duas obras de Vieira da Silva no Eliseu, tivemos a rua Vieira da Silva [em Paris] e, de certa maneira, esta exposição vem consolidar a sua presença. Este é o tipo de consciencialização do público francês que precisamos para depois podermos mostrar outros artistas”, disse à Lusa Jorge Torres Pereira, Embaixador de Portugal em França, que marcou presença na abertura desta exposição.
As obras vão depois seguir para Londres, onde serão exibidas entre o fim de novembro e fevereiro, na galeria Waddington Custot, e para Nova Iorque, onde serão mostradas de março a maio de 2020, na Galeria Di Donna.
Para Maria Helena Vieira da Silva ocupar “o lugar que merece” como figura da arte contemporânea, Emmanuel Jaeger considera que há um passo importante a dar.
“É preciso organizar uma exposição num grande museu, ou num grande museu francês, ou num grande museu internacional. Ela teve grandes exposições, mas é preciso que os grandes museus hoje lhe prestem atenção e continuem a comprar as suas obras”, referiu.
Sem desvendar o programa das temporadas cruzadas entre França e Portugal, que vai acontecer entre o verão de 2021 e a primavera de 2022, Jorge Torres Pereira antevê um lugar de destaque para Vieira da Silva.
“A temática da mulher será muito importante e aí vê-se logo como Viera da Silva terá, seguramente, o seu papel. Não quer dizer que não estejamos a pensar refazer uma grande exposição só com Vieira da Silva, mas seguramente será integrante do que viermos a fazer”, referiu o diplomata português.
A galeria Jeanne Bucher Jaeger foi fundada por Jeanne Bucher, em 1925, que começou por abrir uma livraria de obras estrangeiras, quando chegou a Paris, porque tinha muitos amigos escritores e poetas, dedicando-se depois às artes plásticas, expondo trabalhos de Kandinsky, Giacometti, Léger, Picasso, assim como de Vieira da Silva.
Em janeiro de 2018, a galeria escolheu a cidade de Lisboa para abrir a sua primeira delegação fora de França.
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