A organização do evento, a decorrer de 31 de agosto a 2 de setembro, a cargo da Câmara Municipal de Braga, convidou a artista plástica Madalena Martins para criar uma instalação artística de grande escala, tendo assim surgido o Brarroco: "Uma linha branca gigante que se vai multiplicar em cores quando a noite chegar e revelar emoções constantes transmitidas pela luz que irradia", explanou, durante uma visita de jornalistas à cadeia de Braga para ver o decorrer dos trabalhos.
Aquela linha de luz está a ser criada pelas mãos de Pedro (38 anos), Marco (37), Diogo (25), Luís (30), tendo ainda tido a participação de "dois outros companheiros" que entretanto abandonaram o projeto - um saiu em liberdade, o segundo foi transferido para outro estabelecimento.
Aos homens cabe criar o Brarroco através do "corte, do modelar, do limpar e encaixar" mais de seis mil garrafas de plástico por dentro das quais serão colocadas luzes, ladeadas com tecidos cortados por um outro grupo do estabelecimento prisional de Paços de Ferreira e cujo resultado final vai ser instalado em oito ruas do centro da cidade bracarense.
"Dias bem passados, com alegria e com o compromisso de responsabilidade. É bom saber que o nosso trabalho vai ser reconhecido", leu numa carta escrita à mão pelo grupo, com alguma emoção na voz, o "porta-voz" dos quatro homens.
Rígidos na postura e de rostos sérios enquanto a artista explicava o projeto, os reclusos deram resposta rápida e espontânea quando lhes foi perguntado se aquela linha que ali estavam a criar os fez pensar sobre as linhas do destino que os levaram ali: "Sem dúvida. Deu-nos algumas horas de descontração, de convívio, para nos sentirmos úteis", respondeu o mais velho e o mais reservado do grupo nos primeiros momentos do encontro.
Cada um deles ganhou 100 euros pelo trabalho. "Claro que também nos dá jeito, mas o sentirmo-nos úteis, o sabermos que as nossas famílias vão ver algo que nós fizemos e o podermos participar na Noite Branca, onde até já fui um ano, é a melhor paga", disse Luís.
Já com o sorriso aberto, as mãos descontraídas e virados para os visitantes, todos foram unânimes numa leitura: naquelas garrafas está "um pouco da liberdade" que perderam.
"De certa forma com isto vamos estar lá fora, livres", referiu Diogo, tendo o restante grupo concordado.
"A fazermos isto somos pessoas, cidadãos como os outros. Trabalhar aqui é muito importante para nós, o acompanhamento psicológico é muito importante, sem dúvida, mas isto é essencial para nós", disse Marco.
Para o presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, também presente na visita, a ligação entre e a autarquia e o estabelecimento prisional de Braga é uma mais-valia.
"É uma forma de o município trabalhar na reinserção destas pessoas que a determinado momento da vida seguiram por um caminho errado e mostrar que há espaço e lugar para eles na sociedade", disse.
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