Alguns desses laboratórios de uvas pertencem à Symington Family Estates, uma produtora de vinhos que há mais de 20 anos se dedica à investigação na área da viticultura no Douro.

A empresa criou vinhas experimentais na Quinta do Ataíde, no Vale da Vilariça, e na Quinta do Bomfim, no Pinhão, concelho de Alijó, em zonas de climas diferentes.

Fernando Alves, responsável pela área de desenvolvimento e investigação da Symington, afirmou que é preciso, por um lado, perceber as alterações climáticas e, por outro, tornar o Douro mais resistente.

Nestas vinhas laboratório estuda-se o comportamento de 53 castas de uvas, analisando os aspetos enológicos, vitícolas e, principalmente, fenológicos porque permitem conhecer a dinâmica do ciclo de cada uma das castas, desde o abrolhamento ao pintor e ao período de maturação.

“No fundo, para também começarmos a conhecer castas que podem funcionar como mecanismos alternativos para eventuais alterações que nos conduzam para diferentes comportamentos climáticos na região”, frisou.

Algumas castas, como a touriga nacional e a touriga francesa, têm tido uma atenção especial no plano de trabalhos da Symington. Conjuntamente com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), estão a ser estudados os mecanismos que estas castas utilizam para “terem tanta resiliência a fenómenos de secura ou temperatura elevada como os que se verificaram em 2017”.

A recolha de dados na vinha experimental do Bonfim começou este ano vitícola, que foi, segundo o responsável, um ano de “muita aprendizagem” devido ao verão prolongado e à seca.

“Foi um ano bastante severo e permitiu-nos, por exemplo, contra algumas expectativas, mesmo em plantas novas, perceber alguns limites de resiliência de castas que temos no Douro e algumas deixaram-nos francamente surpreendidos com a boa capacidade de adaptação”, sublinhou.

De acordo com o responsável, o Douro, a par com algumas regiões vitícolas de encosta, tem demonstrado “uma grande resiliência às alterações climáticas, desde logo pela orografia mas também pela variedade genética a nível de castas".

Ou seja, o material genético é diversificado e os produtores podem escolher as castas mais resistentes às alterações climáticas e também ao excesso de calor.

Fernando Alves contou que o fenómeno de alterações tem ocorrido ao longo de séculos e também o Douro soube, através de diferentes práticas e técnicas culturais e de diferentes formas de instalar a vinha e diferentes escolhas de variedades, fazer essa adaptação.

“Esperemos ter habilidade para continuar a fazê-la”, frisou.

A empresa começou a apostar na investigação há 20 anos, com a plantação de uma parcela experimental para estudo do comportamento de diferentes castas e dos porta-enxertos, cujos resultados têm sido úteis para a escolha de material vegetativo.