Com o tema “Curar e Reparar”, a segunda edição da bienal anozero vai decorrer de 11 de novembro a 30 de dezembro e coloca mais uma vez a arte contemporânea a dialogar com o património da cidade, ocupando, entre outros espaços, o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, o Colégio das Artes, a Maternidade Bissaya Barreto ou a igreja do Convento São Francisco.
Na cidade, vão estar obras de 34 artistas, 18 estrangeiros e 16 nacionais, das quais 17 foram produzidas a convite da bienal, cuja produção está a cargo do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC).
O sul-africano William Kentridge, a francesa Dominique Gonzalez-Foerster, a escultora franco-americana Louise Bourgeois (falecida em 2010), o escultor americano Jimmie Durham, a artista americana Jill Magid, o belga Francis Alÿs, os artistas portugueses Fernanda Fragateiro e Julião Sarmento, o vietnamita Danh Vo e o escultor português Franklin Vilas Boas (há muito falecido) são alguns dos nomes que vão estar representados no evento, que teve a sua primeira edição em 2015, anunciou hoje a organização.
Durante a conferência de imprensa, o curador do anozero, Delfim Sardo, explicou que na escolha dos artistas houve a preocupação de garantir diversidade, seja na origem dos artistas (Europa, América, África e Ásia), no género (procurou-se “algum equilíbrio de artistas de sexo masculino e feminino”), ou no suporte – há pintura, escultura, peças sonoras, vídeo, fotografia, instalação e performance.
Para Delfim Sardo, a segunda edição simboliza um “point of no return [ponto sem retorno]”, em que, a partir de agora, não há volta atrás possível – “tem mesmo que continuar o caminho”.
Numa bienal encarada pelo curador como uma grande exposição, os artistas foram desafiados a responder ao tema “Curar e Reparar”, sem com isso se assumirem como ilustradores do mesmo.
O tema escolhido, recorda Delfim Sardo, surgiu por se viver num “momento muito difícil”, num “mundo doente” – ainda mais doente do que quando escolheu o tema, há dois anos, notou.
O curador explanou que a ideia de cura surge “no processo curativo que é o ensino” e também na necessidade de a universidade se curar, por ser “uma instituição saudavelmente em crise, que necessita de se reconfigurar”.
Já a ideia da reparação explora os seus diferentes sentidos – de conserto, de compensação ou de “parar para ver melhor”.
Apesar de não querer descrever as obras que vão estar presentes, Delfim Sardo afirmou que há diferentes respostas ao desafio lançado pela bienal, face ao espetro “semântico muito amplo que o tema tinha”.
Há quem utilize a expressão reparar “no sentido de chamar a atenção”, há um artista concentrado sobre o sono, outro sobre “a autoconsciência do corpo numa peça de luz”, um debruça-se sobre a questão da apropriação colonial “e de que maneira se pode lidar com ela”, aclarou.
Todas as exposições são gratuitas (com exceção das obras instaladas em espaço do circuito turístico da Universidade de Coimbra), sendo que poderão ser visitadas numa ordem aleatória, tirando as obras no Mosteiro de Santa Clara a Nova.
Aí, haverá “um circuito”, levando o visitante por diferentes zonas, “mais frias, mais analíticas, mais emocionais, mais contemplativas”, num espaço de “10 a 12 mil metros quadrados”, enalteceu Delfim Sardo, sublinhando a escala “absolutamente avassaladora” daquele espaço.
A bienal, organizada em conjunto pelo CAPC, Câmara de Coimbra e Universidade de Coimbra, tem um orçamento de 325 mil euros, sendo que grande parte do investimento (230 mil euros) surge do projeto apoiado por fundos comunitários “Lugares Património Mundial do Centro”.
Na conferência de imprensa, também participaram a vereadora da Câmara, Carina Gomes, a vice-reitora, Clara Almeida Santos, o presidente da Turismo Centro, Pedro Machado, a diretora do Museu da Ciência, Carlota Simões, e o diretor do CAPC, Carlos Antunes.
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