Com cerca de 526 mil seguidores, o perfil @ElonJet usava dados públicos para indicar automaticamente quando e onde descolava e aterrava a aeronave de Musk, também dono das empresas SpaceX e Tesla.

O bilionário tinha dito publicamente que não mexeria nessa conta depois de adquirir o Twitter, compra concretizada no fim de outubro por 44 mil milhões de dólares. “O meu compromisso com a liberdade de expressão estende-se inclusive a não proibir a conta que segue o meu avião, ainda que isso seja um risco direto para minha segurança pessoal”, afirmou no início de novembro.

No entanto, tanto o @ElonJet como o perfil pessoal do seu autor, Jack Sweeney, foram alvo de suspensões ao longo desta semana, num processo com curvas e contracurvas.

De início ambas as contas foram suspensas sem aviso prévio, sendo a @ElonJet reativada pouco depois, com o Twitter a informar que atualizou a sua política para proibir mensagens que, na maioria dos casos, revelam a localização de alguém em tempo real.

Sweeney tentou apresentar um requerimento para reaver a sua conta pessoal, sem sucesso, recebendo uma mensagem a dizer que violou as regras do Twitter “contra manipulação da plataforma e spam”.

Noutro volte-face, todavia, a conta que seguia o jato de Musk voltou a ser suspensa horas mais tarde, uma vez mais sem justificação. A punição, contudo, foi feita depois de Musk escrever que um veículo em Los Angeles que transportava um dos seus filhos foi seguido por "um perseguidor maluco" que saltou para o capô da viatura e deu a entender que atribuía o suposto incidente ao rastreamento do seu jato particular.

“Qualquer conta a fazer doxxing (revelação pública de dados pessoais) com informações de localização em tempo real será suspensa, porque é uma violação física de segurança", escreveu, dizendo que o mesmo também se aplica à “publicação de links para websites com informações em tempo real". No entanto, Musk sublinhou que “publicar locais onde alguém foi com um ligeiro atraso não significa um problema de segurança, por isso é ok”.

Nesta sequência de mensagens, o magnata afirmou ter adotado ações legais contra a pessoa que operava a conta @ElonJet. No entanto, como escreve a Associated Press, Musk não explicou qual a base legal para processar alguém que criou uma conta que publicava dados de voo públicos.

Sites de acompanhamento de voos e diversas contas do Twitter oferecem dados em tempo real do tráfego aéreo. Fazê-lo é possível e legal porque as normas dos Estados Unidos exigem que aviões em áreas designadas estejam equipados com tecnologia que transmita as suas posições utilizando sinais que podem ser captados por dispositivos relativamente simples.

A política apresentada por Musk de suspender não só quem revele localizações em tempo real, como também quem alegadamente partilhe esses dados ou amplifique essas informações, parece estar em curso, já que hoje as contas de alguns jornalistas da CNN, dos jornais The New York Times e The Washington Post e também de jornalistas independentes foram suspensas — todos eles tendo em comum o facto de acompanharem Musk e terem escrito sobre o caso do @ElonJet.

O Twitter não apresentou explicações oficiais para a suspensão das contas dos jornalistas, mas Musk escreveu numa sequência de publicações que “as mesmas regras quanto ao doxxing aplicam-se a ‘jornalista’ como a toda a gente”. “Eles publicaram a minha localização exata em tempo real, basicamente coordenadas para o meu assassinato, numa (óbvia) violação direta dos termos de serviço”.

A União Europeia reagiu ao caso, alertando nesta sexta-feira que pode aplicar sanções contra o Twitter.

"A notícia sobre a suspensão de jornalistas do Twitter é preocupante (...) Elon Musk deve saber disso. Existem linhas vermelhas. E, em breve, haverá sanções", disse a comissária europeia para Transparência, Vera Jourova, num tweet, referindo-se a uma das duas leis que a UE aprovou em julho deste ano e com as quais o bloco vai regulamentar a atividade dos gigantes do setor e das principais plataformas do bloco.

Uma conta da rede social Mastodon, rival do Twitter, também foi suspensa, alegadamente por escrever um tweet a remeter para a conta @ElonJet. Além do Twitter, Jack Sweeney faz a mesma monitorização ao jato de Musk noutras plataformas como o Facebook e o Instagram. Partilhar links para contas análogas à @ElonJet também vale uma suspensão, como reporta a Verge.

Sweeney também detém outras contas de Twitter que acompanhavam os jatos de magnatas como Jeff Bezos ou Bill Gates e de oligarcas russos. No entanto, também essas foram suspensas.

Este caso ocorre depois do cofundador e ex-CEO do Twitter, Jack Dorsey, defender publicamente os funcionários da empresa de tecnologia, criticados pelo bilionário por decisões relacionadas à moderação de conteúdo.

“Acredito firmemente que qualquer conteúdo produzido por alguém para a internet deve ser permanente até que o autor original escolha apagá-lo”, escreveu Dorsey.

Desde que assumiu o Twitter, Musk enviou mensagens contraditórias sobre o que é autorizado ou não na plataforma. Restaurou contas antes suspensas pela rede, incluindo a do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, e de pessoas associadas à extrema-direita e à supremacia branca. No entanto, também cancelou a página do rapper Kanye West após a publicação de mensagens consideradas antissemitas e rejeitou o regresso de Alex Jones, condenado a pagar uma indemnização de 1,5 mil milhões de dólares por desacreditar o massacre da escola Sandy Hook em 2012.

*com agências