Um homem caminha, devagarinho, com o seu andarilho, num jardim em Inglaterra. Chama-se Tom. Tom Moore. Tem quase cem anos. Há setenta e poucos andou na Segunda Guerra Mundial. Agora, anda no pátio, em casa.

Tom desafiou os britânicos: percorreria cem vezes os 25 metros de comprimento do jardim de casa antes de completar o 100.º aniversário em troca de mil libras (cerca de de 1.130 euros) para o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla inglesa).

Mas este veterano, capitão com carreira militar na Índia e no antigo Mianmar, acabou por juntar mais de 27 milhões de libras (30 milhões de euros) para o sistema de saúde britânico.

Tom faz anos no dia 30. Era essa a data limite do desafio, que já cumpriu. Agora, tem a caixa do correio cheia: já recebeu mais de 25 mil postais de aniversário — e o número pode aumentar.

“Ninguém aqui na equipa conheceu alguém que recebesse tanto correio”, disse Stephen James, o responsável pelo centro de correio das South Midlands.

O volume é tal que o centro teve de adaptar o equipamento para lidar com o número de cartões remetidos a Tom. As máquinas de separação foram reprogramadas, estando agora a dirigir o correio endereçado ao veterano diretamente para uma caixa — à velocidade máxima, as máquinas são capazes de processar 40 mil objetos por hora.

Gareth Eales, representante sindical, conta à BBC que os trabalhadores estimam vir a ter de lidar com centenas de milhares de cartas nos próximos dias. Até aqui, Tom “é uma inspiração para todos”, diz Gareth. “Este é o tempo dos heróis, coisa que, certamente, o Capitão Tom e todos os trabalhadores essenciais são”.

A Royal Mail, empresa responsável pelos correios no Reino Unido, vai mesmo usar um carimbo postal especial para desejar um feliz aniversário ao veterano: a partir da próxima semana, todo o correio com selo naquele país terá a mensagem.

O antigo militar residente em Bedfordshire, 80 quilómetros a norte de Londres, queria agradecer aos profissionais do NHS pela assistência que recebeu quando foi tratado a um cancro e foi operado à anca.

Porém, a campanha começou a receber cobertura mediática e os donativos somaram-se, com quase um milhão de pessoas a contribuir — incluindo gente de fora do país. E embora o desafio do veterano já tenha terminado, as doações continuaram: no total, segundo a agência France-Presse, cerca de 900 mil pessoas responderam ao apelo.

Entre eles, o príncipe William, segundo o Palácio Kensington, que não revelou o valor de sua contribuição. Tom Moore tornou-se numa "verdadeira lenda", disse o neto da rainha Elizabeth II à BBC.

O ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, também elogiou o “Capitão Tom”, dizendo que “é uma inspiração para todos”, e agradecendo-lhe o gesto.

"É absolutamente fora de série. Em nenhum momento quando começámos esta atividade podíamos prever que conseguiríamos algo perto desta quantia em dinheiro”, confessou o capitão à BBC, ainda durante o desafio.

"Obrigado a todos pelo maravilhoso apoio. Foi uma experiência memorável", escreveu Moore na quinta-feira no Twitter ao terminar a caminhada. A última parte do percurso foi acompanhada por uma Guarda de Honra do Regimento de Yorkshire, e transmitida ao vivo pela televisão britânica.

O número de óbitos durante a pandemia de covid-19 no Reino Unido subiu hoje para os 17.337 após ter sido registada a morte de mais 823 pessoas infetadas nas últimas 24 horas. O número total de casos de contágio, contabilizado até às 09:00 de hoje, é agora de 129.044, mais 4.301 do que no dia anterior, anunciou o ministério da Saúde britânico.

Na segunda-feira, tinham sido registadas mais 449 mortes, a variação diária mais baixa no espaço de duas semanas, e mais 4.676 novos casos de pessoas infetadas relativamente ao dia anterior.

No entanto, os responsáveis das autoridades sanitárias acautelaram para uma interpretação de que o pico da curva epidemiológica já teria sido ultrapassado, embora tenham reconhecido que existem sinais positivos em termos de redução de casos de contágio e hospitalizações.

Os números das mortes são compilados a partir de dados das direções regionais de Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte e referem-se a óbitos registados até às 17:00 da véspera apenas em hospitais.

Estatísticas oficiais publicadas hoje indicam que morreram pelo menos mais 1.500 pessoas até 10 de abril do que estimado pelo governo, incluindo 1.043 óbitos em lares de idosos em Inglaterra e País de Gales e mais de 500 outras pessoas em instituições e casas particulares.

No meio da desolação, surgem histórias como a de Tom, ou, a de Connie, uma mulher de 106 anos foi na semana passada celebrada como a mais velha sobrevivente da pandemia da covid-19 no Reino Unido.

Connie Titchen, nascida em 1913, tinha sido admitida no hospital City de Birmingham em meados de março com suspeitas de pneumonia e foi diagnosticada pouco depois, tendo recebido alta na terça-feira, revelou no passado dia 15 a unidade de saúde.

“Sinto-me muito sortuda por ter conseguido derrotar este vírus. Estou ansiosa por ver a minha família”, disse Titchen, que tem cinco netos e oito bisnetos, citada num comunicado do hospital.

A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 170 mil mortos e infetou quase 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Em Portugal, que vive em estado de emergência desde 19 de março, morreram 762 pessoas das 21.379 registadas como infetadas, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.