Poucos dias depois de o parlamento ter aprovado cinco projetos partidários no sentido da despenalização da eutanásia, Manuel Clemente na sua mensagem não esquece o tema, embora não o aborde explicitamente, voltando a defender a aposta nos cuidados paliativos.
“A consciência, religiosamente considerada, leva-nos a ver os outros como Deus os vê e a cuidar deles como Deus cuida de nós, em tantas mãos que aceitam prolongar as que nos estendeu em Cristo. Mãos que amparam a fragilidade dos outros e os envolvem em todas as fases da vida, sobretudo quando mais fragilizada”, escreveu o cardeal na mensagem hoje divulgada na página do Patriarcado de Lisboa na internet.
Segundo Manuel Clemente, “é este envolvimento cuidadoso que a palavra ‘paliativo’ significa”.
Para o cardeal patriarca, “mesmo falando em termos positivos e aceitáveis por crentes e não crentes, trata-se de exercitar uma humanidade mais consciente e conjugada, para que todos vivam e ninguém desista de viver”.
O também presidente da Conferência Episcopal sublinhou no documento que a Quaresma “é tempo de exame de consciência” e “tudo se torna (…) uma ‘questão de consciência’, a qual, pela atenção à totalidade do real é precisamente o contrário das chamadas ‘questões fraturantes’, que tomam a parte pelo todo e contra o todo, reduzindo-o à disposição individual e ignorando as consequências negativas de tal atitude”.
“A Quaresma que iniciamos alarga-nos à maneira divina de ver, julgar e agir, como em Cristo se revelou. À sua luz, formaremos plenamente a consciência, nunca perdendo de vista a finalidade das coisas, quando atendemos a cada uma em particular. Assim ganharemos a liberdade de consciência, pois a verdade liberta. Assim faremos a objeção de consciência, sempre que for o caso”, acrescentou o cardeal patriarca de Lisboa.
Na sua mensagem dirigida aos católicos do Patriarcado, Manuel Clemente faz também um apelo à rejeição das “tentações do ter, do parecer e do poder, que são a substância negativa de todo o pecado, capital ou venial que seja”.
“É fácil termos tudo como nosso, na posse ou no desejo, os outros como alheios e as coisas como consumos. Assim sendo, tudo se torna relativo a cada um, conforme esteja ou queira estar – e enquanto quiser estar. Enfraquece em nós a essência da vida, quando se rarefaz a convivência”, reconheceu o prelado.
A mensagem foi também aproveitada para revelar que o produto da renúncia quaresmal no Patriarcado de Lisboa será este ano destinada à diocese de Palai, na Índia, para financiar um hospital que atenderá a população mais pobre.
Em 2019, a renúncia quaresmal diocesana junto mais de 236 mil euros, que foram destinados à Cáritas da Venezuela.
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