Ao final do dia desta quarta-feira, 14 de setembro, a primeira-ministra social-democrata, Magdalena Andersson, reconheceu a derrota nas eleições suecas face à vitória do bloco de direita, composto pelos Moderados, os Democratas da Suécia, os Cristãos Democratas e os Liberais. Juntos, reúnem 176 dos 349 assentos parlamentares.
"No Parlamento, eles têm uma vantagem de um ou dois mandatos. É uma maioria curta, mas é uma maioria", admitiu, citada pela Reuters. "Sendo assim, amanhã [esta quinta-feira] pedirei a demissão das minhas funções de primeira-ministra e, depois disso, a responsabilidade vai recair no presidente do Parlamento", acrescentou.
Entretanto, o líder do partido Moderado, Ulf Kristersson, já disse que vai começar a trabalhar para formar este governo à direita. Mas o destaque destas eleições vai para o Democratas da Suécia (SD), liderado por Jimmie Åkesson, um partido nacionalista e anti-imigração, com raízes no neonazismo e que, ao que tudo indica, irá ser o segundo maior partido da Suécia.
Ainda que faltem contar alguns votos é pouco provável que estes influenciem os resultados finais, que apontam para 30,4% para os sociais-democratas, liderados por Magdalena Andersson, 20,6% para os democratas da Suécia e 19,1% para os Moderados.
Ainda que os Moderados reúnam menos votos, Jimmie Akesson, líder dos Democratas da Suécia não reune consenso suficiente à direita para tentar liderar um governo. Assim, escreve a Reuters, Kristersson deverá formar governo com os Cristãos Democratas e contar com o apoio parlamentar dos Democratas da Suécia e dos Liberais.
Isto representa uma mudança de fundo para um país percecionado como tolerante e progressista.
O SD quer uma Suécia mais dura nas políticas de imigração, incluindo legislação que permita recusar asilo com base na religião ou em questões de identidade de género. O partido quer ainda reduzir os apoios económicos dos imigrantes e dar mais poder à polícia.
E se a vitória da direita na Suécia apanhou a comunidade internacional de surpresa, os mais atentos estavam alerta para esta possibilidade.
David Crouch, que esteve a fazer a cobertura para as eleições para o The Guardian, disse à jornalista Nimo Omer, da mesma publicação, que o resultado não devia causar grande estranheza: "Já vimos partidos anti-imigração e da extrema-direita ter votos significativos em países escandinavos".
David Hinde, um especialista na Suécia que tem estado a viajar pelo país desde junho, explica que o país "atravessa uma crise política", com os sociais-democratas a governar em coligação e a enfrentarem sérias dificuldades para conseguir passar leis. Isto permitiu à oposição passar uma mensagem de "caos" associada a uma governação à esquerda.
Paralelamente, e apesar da ideia generalizada de que estamos perante um país próspero, com grande qualidade de vida, serviços públicos de qualidade, muitas garantias sociais e uma tradição progressista, muitos suecos estão frustrados e descontentes com a forma como o país tem sido governado, resume Nimo Omer.
"Tem havido um declínio massivo da qualidade dos serviços públicos, o sistema de saúde sueco é uma sombra do que já foi e o sistema educativo está em sofrimento", diz Hinde. Esta sensação de declínio, associada a um discurso anti-imigração, piorou desde que o país recebeu, por causa da crise de refugiados de 2015, mais de 150 mil requerentes de asilo — num país com cerca de 10 milhões de habitantes.
A hospitalidade inicial acabou por ser substituída por suspeição, com narrativas que associam a entrada no país destas pessoas a um aumento da criminalidade.
Ontem, Magdalena Andersson dava voz à preocupação de muitos daqueles que vêm a ascensão de um partido como o dos Democratas da Suécia uma ameaça. "Vejo a vossa preocupação e partilho dela", disse.
Entretanto, Ulf Kristersson, que não terá uma tarefa fácil pela frente, com uma maioria curta para governar e dependente de apoios parlamentares, comprometeu-se a criar um governo "para todos na Suécia e para todos os cidadãos".
"Há uma grande frustração na sociedade, o medo da violência, preocupação em torno da economia, o mundo está muito incerto e a polarização tornou-se demasiado grande, até na Suécia. Portanto, a minha mensagem é de união e não de divisão".
"Um governo de direita, no entanto, terá de enfrentar tensões internas muito fortes", considera Ulf Bjereld, professor de Ciências Políticas da Universidade de Gotemburgo. "O SD tem as suas raízes no neonazismo. Do outro lado, os liberais representam o completo oposto", nota.
Muitas vezes considerada um exemplo, a "Suécia sempre pontuou muito bem em Index de marcas nacionais, com muito boa reputação diplomática e bom histórico de direitos humanos", diz Hinde. "E isto é integral para a política sueca e para a forma como os suecos se percepcionam a si mesmos", acrescenta.
Será por isso interessante acompanhar no que se traduz este novo rumo político no norte da Europa.
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