Se o PS eleger os quatro lugares da emigração vence as eleições. O resultado é altamente improvável, mas não impossível. Se eleger apenas três e o voto que resta for para AD dá-se um empate técnico. Se eleger dois e o Chega eleger outros dois, voltamos a ter PS e AD empatados. E num empate técnico vence o partido com maior número de votos absoluto.
Foram estes os cenários que os resultados das eleições do passado dia 10 obrigaram a traçar. Agora, os olhos estão postos nos votos dos emigrantes. Afinal, há portugueses espalhados por todo o mundo — e esses são também considerados para os resultados das eleições.
Nestas legislativas, no que diz respeito aos votos por via postal, foram enviadas mais de um milhão e meio de cartas para 189 destinos e até terça-feira tinham chegado para contagem 311.113. Na Europa, por exemplo, vota-se mais em França e na Suíça.
Como é feita a contagem dos votos?
As assembleias de recolha e contagem de votos dos portugueses residentes no estrangeiro para as legislativas de 10 de março estão a funcionar no Centro de Congressos de Lisboa desde dia 18 de março.
Fernando Anastácio, porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE) disse aos jornalistas, no início dos trabalhos de contagem de votos, que serão contabilizadas todas as cartas com os boletins de voto, recebidas até às 17:00 desta quarta-feira.
Após a contabilização dos votos, será feito o apuramento geral, com a consequente publicação dos resultados eleitorais, o que acontecerá apenas na próxima sexta-feira, 22 de março, tendo em conta a necessidade do prazo para eventuais reclamações.
Quantos portugueses votaram no estrangeiro?
Segundo informação disponibilizada pela Secretaria-geral do Ministério da Administração Interna, foram expedidas "de 4 de fevereiro até 7 de março de 2024 um total de 1.541.873 cartas de envio" para 189 destinos, contendo "no seu interior um boletim de voto do respetivo círculo eleitoral, um envelope de cor verde onde deve ser colocado o boletim de voto após a votação, um envelope branco (envelope de resposta, com franquia paga) e um folheto que contém as instruções de preenchimento e devolução (em português, inglês e francês).
Há ainda registo de 5.283 eleitores no estrangeiro que optaram por votar presencialmente.
De acordo com os dados mais recentes da Administração Eleitoral, até terça-feira, 19 de março, tinham sido recebidas 311.113 cartas com votos de eleitores residentes no estrangeiro, a maioria provenientes da Europa (233.580 — 75%), seguida da América (65.507 — 21%), da Ásia e Oceânia (9.708 — 3%) e de África (2.318 — 1%).
Na Europa, os países com mais eleitores são:
- França — 381.301 (votaram 86.267 — 22,62%)
- Reino Unido e Irlanda do Norte — 170.636 (votaram 34 983 — 20,50%)
- Suíça — 147.531 (votaram 48.864 — 33,12%)
- Alemanha — 75.621 (votaram 21.121 — 27,93%)
- Espanha — 45.169 (votaram 9.288 — 20,56%)
- Luxemburgo — 36.815 (votaram 13.583 — 36,90%)
Já nos EUA, há um total de 65.034 votantes e sabe-se que até agora foram recebidos os votos de 9.939, o que representa 15,28% dos eleitores. No Canadá, estão registados 54.160 cidadãos portugueses e votaram 12.894 (23,81%).
Por sua vez, na América do Sul, no Brasil estavam inscritos 255.031 cidadãos eleitores e foram recebidos votos de 41.937, o que representa 16,44% dos votantes, e na Venezuela estavam inscritos 46.756 e apenas 215 votaram (0,46%).
Na Ásia, destaque para a China com 48.756 eleitores (5.572 votaram, 11,43%), para Israel com 31.801 inscritos e 1.852 votantes (5,82%), para a Índia, com 13. 924 eleitores (883 votaram, 6,34%) e para os Emirados Árabes Unidos, com 2.554 inscritos (votaram 133, 5,21%).
Em África, a maioria dos inscritos está na África do Sul, com 30.257 inscritos, mas apenas votaram 33 (0,11%). Em Angola existem 16.118 eleitores (488 votaram, 3,03%), em Cabo Verde 4.443 (719 votaram, 16,18%) e em Moçambique 8.231 (740 votaram, 8,99%).
Desta vez votaram mais emigrantes?
Sim. Os dados indicam que chegaram a Portugal 20,18% dos votos, o que representa um aumento de cinco pontos percentuais em relação aos rececionados em 2022 (15,17%).
Até segunda-feira, tinham sido devolvidas 120.706 cartas com os votos, quando nas últimas legislativas esse número era 174.970, de acordo com a informação disponibilizada na terça-feira.
No que se refere aos motivos indicados para a devolução dos envelopes, destaca-se a indicação de destinatário “Desconhecido” na morada indicada, com 59,45%, e de “Não Reclamado”, com 17,21%.
No que resultam estes votos?
Os votos dos emigrantes portugueses irão resultar na eleição de quatro deputados, que poderão influenciar o resultado final das legislativas, uma vez que a coligação Aliança Democrática (PSD/CDS/PPM) elegeu 79 deputados e o PS 77.
Só depois desta quarta-feira, último dia da recolha e contagem destes votos, o presidente da República, que tem estado a ouvir todos os partidos com assento parlamentar, indigitará o novo primeiro-ministro.
Como foram os resultados da emigração nas últimas legislativas?
Nas legislativas de 2022, o PS conquistou os dois lugares da Europa e dividiu o círculo de Fora da Europa com o PSD.
Para já, como vão as contas destas eleições de 2024?
A Aliança Democrática (AD), que junta PSD, CDS e PPM, com 29,49% dos votos apurados, conseguiu 79 deputados na Assembleia da República, nas eleições legislativas de 10 de março, contra 77 do PS (28,66%), seguindo-se o Chega com 48 deputados eleitos (18,06%).
A IL, com oito lugares, o BE, com cinco, e o PAN, com um, mantiveram o número de deputados. O Livre passou de um para quatro eleitos enquanto a CDU perdeu dois lugares e ficou com quatro deputados.
No que diz respeito à emigração, ao fim do primeiro dia, com metade dos votos contados, o Chega ia à frente para eleger dois deputados e o PS e a AD ficavam com um cada.
E Pedro Nuno Santos continua a assumir a derrota. Em declarações aos jornalistas após a audiência com o presidente da República, o líder do PS lembrou que "não se perspetiva nenhuma alteração profunda dos resultados eleitorais de domingo".
Questionado se considera, tal como Alexandra Leitão defendeu este domingo, que o PS deve ser convidado a formar Governo caso os círculos eleitorais da emigração lhe deem a vitória, Pedro Nuno Santos considerou que “não faz sentido estar a laborar sobre cenários que não têm quase nenhuma probabilidade de se verificarem”.
“Não ganhamos nada com isso. Esclareci desde logo no domingo e julgo que a contagem nos vai dar razão. (…) Não vou fazer nenhuma conjetura sobre cenários que não têm grande probabilidade de se verificarem”, afirmou.
"Por isso, chegamos a esta audiência com o senhor presidente da República sem uma solução de governo apoiada por uma maioria. E esse é o facto mais relevante: o país precisa de um governo estável, o Partido Socialista não tem uma maioria para apresentar", apontou.
"Depois do resultado de domingo, o líder da coligação vencedora apresenta-se não só como vencedor mas com a possibilidade de ser indigitado para formar governo. Aquilo que se espera é que o líder da coligação amanhã apresente uma solução de governo estável. O país precisa de um governo forte e estável, mas precisa também de uma oposição forte e sólida e é isso que nós seremos", acrescentou Pedro Nuno Santos.
O líder do PS referiu também que o partido será uma "oposição responsável", na medida em que "não votará documentos ou iniciativas legislativas com as quais não concorda", mas "em matérias onde há pontos de vista em comum, onde há possibilidade de entendimento" o PS vai fazer por chegar a acordo.
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