• Com as forças russas às portas de Kiev, Vladimir Putin pediu hoje aos militares ucranianos para "tomarem o poder" em Kiev, derrubando o presidente Volodymyr Zelensky e a sua equipa, que descreveu como "neo-nazis" e "viciados em drogas". "Tomem o poder nas vossas mãos. Parece-me que será mais fácil negociar entre mim e vocês", lançou Putin ao exército ucraniano numa intervenção transmitida pela televisão russa, afirmando não combater unidades do exército, mas formações nacionalistas que se comportam "como terroristas" usando civis "como escudos humanos".
  • Apesar de Zelensky ter origem judaica, Moscovo chama "neo-nazis" ou "junta" às autoridades ucranianas desde 2014, quando começou a guerra no leste da Ucrânia, entre separatistas pró-Rússia e forças de Kiev. As acusações de "viciado em drogas" referem-se a declarações feitas pelos detratores de Zelensky durante as eleições presidenciais de 2019, que ganhou com larga margem.
  • Antes do apelo de Putin, porém, o porta-voz do presidente russo disse que "Vladimir Putin está disposto a enviar uma delegação russa a Minsk, ao nível dos ministérios da Defesa e dos Negócios Estrangeiros e de elementos da administração presidencial, para negociações com uma delegação ucraniana”.
  • Dmitri Peskov aludiu a uma recente declaração de Volodymyr Zelensky, que se disse disposto a discutir o estatuto de neutralidade do país, o que pressuporia renunciar à sua aspiração de aderir à NATO. A Rússia insiste que o desejo de Kiev de aderir à Aliança Atlântica é uma ameaça direta à sua segurança, como outros planos de expansão da NATO para território pós-soviético.
  • E ainda antes, o presidente russo disse hoje ao homólogo chinês, Xi Jinping, que está disposto a realizar “negociações de alto nível” com a Ucrânia. Citado pela televisão estatal CCTV, Xi Jinping apelou a que Kiev e Moscovo “resolvam os seus problemas por meio de negociações”. O líder chinês acrescentou que Pequim “respeita a soberania e a integridade territorial dos Estados”, mas ressalvou que é “importante respeitar as preocupações legítimas de segurança de todos os países envolvidos”.
  • Zelensky voltou hoje a pedir a Putin que se sente à mesa das negociações para travar a operação militar russa na Ucrânia, que começou na madrugada de quinta-feira: “Quero dirigir-me mais uma vez ao presidente da Rússia. Em todo o território da Ucrânia há combates. Vamos sentar-nos à mesa das negociações para acabar com a morte de seres humanos", disse numa mensagem televisiva.
  • O porta-voz do Kremlin também comunicou hoje uma conversa entre Putin e o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, que estaria disposto a "criar todas as condições" para o início de negociações, em Minsk, entre Kiev e Moscovo, que desde quinta-feira não têm relações diplomáticas.
  • Entretanto, Zelensky, que, apesar dos rumores de fuga, comprovou manter-se na capital cercada da Ucrânia, lamentou que a resposta da Europa à invasão russa esteja a ser muito lenta e convidou os europeus com experiência de combate a viajar para a Ucrânia e repelir o exército russo. “Como é que vocês se vão defender, se são tão lentos a ajudar a Ucrânia?”, perguntou Volodymyr Zelensky, numa comunicação a jornalistas internacionais, em que criticou a resposta europeia à invasão russa em curso. "Cancelar vistos para russos? Desconexão do SWIFT (rede interbancária)? Isolamento total da Rússia? Chamada de embaixadores? Embargo de petróleo? Hoje, tudo deve ser feito, porque se trata de uma ameaça para todos nós, para toda a Europa”, pediu Zelensky.
  • Ao fim do dia, chegou a novidade da parte do porta-voz do Presidente ucraniano de que a Ucrânia e Rússia estão a discutir um encontro para debater possível cessar-fogo. "A Ucrânia esteve e está preparada para falar sobre um cessar-fogo e paz", referiu Sergii Nyfyforov, segundo a Reuters.
  • No entanto, em contradição a esta aparente mudança de rumo, também Zelensky adiantou que os russos vão “tentar tomar” Kiev esta noite, pedindo ao povo que defenda a cidade. “Não podemos perder a capital. Dirijo-me aos nossos defensores, homens e mulheres de todas as frentes: esta noite o inimigo vai usar todas as suas forças para romper as nossas defesas da maneira mais vil, dura e desumana. Esta noite vão tentar tomar” Kiev, afirmou. O aviso do líder ucraniano surge horas depois do Pentágono ter afirmado que os russos estão a enfrentar mais resistência do que esperavam. Contudo, o funcionário do Pentágono destacou que a Rússia deslocou para a Ucrânia apenas um terço das forças que acumulou nas últimas semanas nas fronteiras deste país e que o objetivo de Moscovo de tomar Kiev para instalar um regime pró-russo não se alterou.
  • Entretanto, nas mais altas instâncias, a Rússia serviu-se do seu estatuto de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU para vetar uma resolução condenando a agressão a Kiev. O texto, copatrocinado por dezenas de países de todo o mundo, obteve o apoio de 11 dos 15 membros do Conselho de Segurança, três abstenções e um único voto contra, da Rússia. No entanto, noutro cenário, o Conselho da Europa decidiu nesta sexta-feira "suspender" a participação de diplomatas e delegados russos nas principais instâncias da organização pan-europeia "com efeito imediato" em resposta ao "ataque armado" contra a Ucrânia.
  • Os chefes da diplomacia da União Europeia (UE) chegaram hoje a acordo para sancionar o presidente russo, Vladimir Putin, e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, com congelamento de ativos financeiros, após a invasão da Ucrânia. Os ministros das Finanças da União Europeia (UE) comprometeram-se entretanto a aplicar “o tempo que for necessário” as sanções financeiras acordadas, prometendo que “serão complementadas por decisões adicionais”.
  • Mais tarde, EUA e Reino Unido juntaram-se nas sanções a estes dois líderes russos, avançando para o congelamento dos seus bens financeiros. O Tesouro britânico divulgou que adicionou as duas figuras russas, à sua lista de entidades e indivíduos alvo de sanções, devido ao papel de “destabilizar a Ucrânia” ou “ameaçar a sua integridade territorial”.
  • Em resposta a estas sanções, o Kremlin apelidou-as "um exemplo e uma demonstração da absoluta impotência da própria política externa" do Ocidente e que as relações se aproximam de um "ponto sem retorno"
  • O primeiro-ministro português, António Costa, anunciou também que uma companhia do Exército português composta por 174 militares será enviada para a Roménia “nas próximas semanas”. “Vários outros países neste momento também ou a antecipar ou a reforçar, ou a decidir reforçar a sua participação junto destes países [limítrofes da Ucrânia] de forma a termos uma posição clara de unidade e de dissuasão relativamente à atuação da Rússia”, acrescentou.
  • António Costa disse ainda que a Rússia "não pode sequer sonhar" com uma agressão à NATO ou aos seus amigos, depois de o ministério dos Negócios Estrangeiros russo ter afirmado que uma adesão da Finlândia à Aliança teria repercussões. “A Rússia tem de compreender que, não só tem que parar a agressão militar contra a Ucrânia, como não pode sequer sonhar em ter qualquer ação agressiva relativamente a qualquer país da NATO, ou qualquer país amigo da NATO, como é o caso da Suécia e da Finlândia”, vincou o primeiro-ministro.
  • Costa falava numa conferência de imprensa no ministério da Defesa, pouco depois de ter participado numa cimeira extraordinária de chefes de Estado e de governo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês), que decorreu por videoconferência, e em que também participaram os líderes da Suécia e da Finlândia, centrada na invasão da Ucrânia pela Rússia.
  • Após o ministério dos Negócios Estrangeiros russo ter publicado, na sua conta oficial da rede social Twitter, uma mensagem em que afirmava que “a adesão da Finlândia à NATO teria graves repercussões militares e políticas”, António Costa salientou que “a Rússia tem de perceber que qualquer país que é independente, é livre na sua autodeterminação”. “Portanto, a Suécia e a Finlândia são Estados independentes, são repúblicas democráticas e são países que, com liberdade, podem decidir com quem participam, com quem não participam, de quem são aliados, de quem não são aliados”, indicou.
  • António Costa afirmou que, apesar de a Suécia e a Finlândia não serem “parte integrante da NATO”, são países “que decidiram estar junto com a NATO neste momento, numa afirmação muito clara de que a Rússia tem de compreender que não só tem que parar a agressão militar contra a Ucrânia”, mas também abster-se de agressões contra países da Aliança.
  • No seguimento desta cimeira, a Aliança Atlântica mobilizou pela primeira vez elementos da sua força de reação rápida, que inclui militares portugueses, para "evitar transgressões em território da NATO". Esta força conta com 40.000 soldados e inclui uma força operacional conjunta de altíssimo nível de prontidão (VJTF), de 8.000 soldados, atualmente comandados pela França.
  • A pressão à Rússia segue em várias frentes: depois de perder a final da Champions, a Rússia “não irá participar” no 66.º Festival Eurovisão da Canção, marcado para maio em Turim, Itália, anunciou hoje a União Europeia de Radiodifusão (EBU), que promove o concurso. Na quarta-feira, a emissora pública da Ucrânia, numa carta aberta, apelou à EBU para a exclusão da estação pública da Rússia da União Europeia de Radiodifusão, apelidando-a de “porta-voz do Kremlin e uma peça chave da propaganda política financiada pelo Orçamento do Estado russo”.
  • Em retaliação às restrições impostas pelo Facebook na quinta-feira à agência estatal RIA Novosti, ao canal de televisão estatal Zvezda e aos ‘sites’ pró-Kremlin lenta.ru e gazeta.ru, as autoridades russas anunciaram hoje uma "restrição parcial" no acesso à rede social. O regulador russo das comunicações, Rozkomnadzor, afirmou que a “restrição parcial” ao Facebook tem efeito já hoje, sem clarificar exatamente o que é que significa essa tomada de posição.