Depois de ter passado pelo programa de Cristina Ferreira, na SIC, António Costa esteve direto no "Você na TV", na TVI.
A entrevista começou com um tom descontraído e com uma referência a um momento insólito desta quinta-feira, quando o primeiro-ministro cumprimentou Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação, com um perto de mão no final da conferência de imprensa de anúncio das medidas para o ensino. "Pedi desculpa pelo mau exemplo que dei (...) todos somos humanos e há um momento em que falhamos", disse Costa entre sorrisos.
Mas a conversa rapidamente avançou. Questionado sobre se ainda estamos longe do pico, o primeiro-ministro, revelando ainda desconhecer os números desta sexta-feira, afirmou "com segurança" que as medidas de contenção adotadas tiveram "um enorme impacto a desacelerar o ritmo de crescimento" do número de casos em Portugal. Porém, António Costa disse que ainda não há dados suficientes para se afirmar que já se tenha atingido o planalto, isto é, a estabilização da curva. "O fim de semana da Páscoa é um momento absolutamente crítico (...) não podemos estragar aquilo que já conseguimos", declarou.
"Mesmo que já tenhamos atingido o dito planalto, há uma coisa que é segura, não estamos ainda a descer para o sopé. Quanto mais tempo? Não lhe sei dizer. Ainda não vi os epidemiologistas e os matemáticos a terem o suficiente consenso para isso. Isso para nós significa manter a disciplina como temos mantido até agora. Quanto mais rigorosos somos agora, mais depressa saímos disto".
O exemplo Português
Manuel Luís Goucha trouxe depois a discussão o elogio da imprensa internacional, nomeadamente de alguns meios norte-americanos, franceses e espanhóis. "Foi gabada a sua postura e a obediência dos portugueses", referiu o apresentador.
"É um motivo de orgulho para o país, mas quando foi decretado o estado de emergência já os portugueses se tinham imposto ao autoisolamento", respondeu o primeiro-ministro.
O líder do executivo não deixou de sublinhar, porém, que "estes cinco dias [entre quinta-feira e segunda-feira] vão ser um teste muitíssimo importante" e que as situações de incumprimento e desobediência às medidas do estado de emergência têm sido "muito pontuais".
Quanto inquirido sobre a possibilidade da Direção Geral de Saúde ter desvalorizado a gravidade do vírus e a possibilidade deste chegar a Portugal, António Gosta respondeu com a dificuldade da DGS "tomar qualquer decisão que não fosse acompanhada pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças".
"Todos já disseram e pensaram coisas e tiveram de rever a sua posição (...) Quando chefes de estado e de governo começaram por dizer que isto não tinha importância nenhuma? Olhe, o meu colega britânico. E acabou ele próprio nos cuidados intensivos. O meu entendimento foi sempre desejar o melhor, temer o pior e procurar agir".
"Mas não houve falhas na prevenção ao nível dos meios de proteção?", ripostou Manuel Luís Goucha.
"Se todos soubéssemos o que sabemos hoje, se calhar tinha anunciado o fecho das escolas no dia 10", e não a 12, como aconteceu, respondeu António Costa. "Temos de ir tomando as medidas em função da informação que temos", acrescentou.
Segunda vaga do surto
Acusado de ser sempre optimista, António Costa mantém-se pessimista quanto à possibilidade de uma segunda vaga do surto do novo coronavírus no Inverno. "Até haver uma vacina ou até haver um medicamento, seguramente vai surgir", disse.
Mais, "cada vez que levantarmos uma destas medidas [de contenção] o risco de contaminação vai outra vez subir", declarou o líder do executivo.
Falta de material médico
"Todos os dias oiço aqui em direto enfermeiros e médicos a dizer que falta muita coisa", disse o apresentador sobre uma eventual falta de material médico nos hospitais.
António Costa respondeu dizendo que "não vai alimentar essa polémica". Polémica, disse, que é entre "aquilo que é essencial ter, o que é necessário ter e o que as pessoas julgam que necessitam ter". "A falta de material existe à escala mundial", acrescentou.
"O melhor meio de proteção que [médicos e enfermeiros] podem ter é a nossa responsabilidade; responsabilidade de nos mantermos fechados em casa e de contactar-mos com o menor número de pessoas", disse ainda o primeiro-ministro sobre este tema.
António Costa ainda não foi testado
Manuel Luís Goucha questionou o primeiro-ministro sobre se este já tinha feito o teste ao Covid-19. O primeiro-ministro respondeu que não.
"Não fiz porque não tenho sintomas e porque não tenho estado em contacto com pessoas de risco, deixei de visitar a minha mãe, por exemplo (...) Não vou estar a consumir um teste que só satisfaz a minha curiosidade".
Afirmando que "é verdade" que faltam testes, António Costa justificou que essa carência acontece porque "não existem à escala global” testes suficientes para serem adquiridos pelos países, sendo que o mesmo acontece com as zaragatoas e os reagentes, por exemplo.
"Nada estava produzido à escala global para uma pandemia desta dimensão", acrescentou, salientando que Portugal entrou na mesma “luta em que todo o mundo está para conseguir comprar” estes materiais.
Retirar estado de emergência seria dar "sinal errado ao país"
Na entrevista, o primeiro-ministro considerou ainda que retirar o estado de emergência devido à Covid-19 seria dar "um sinal errado ao país".
"Ainda não podemos começar a aliviar [as medidas de contenção], pelo contrário”, assinalou, apontando que “este é o momento mais difícil" porque a "fadiga vai-se acumulando", mas é preciso não perder o foco.
"Ficaria muito surpreendido se o Presidente da República, para a semana, não propusesse a renovação do estado de emergência, ainda que possa propor a alteração de medidas".
Portugal regista 435 mortos associados à covid-19 e 15.472 infetados, indica o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
A pandemia do novo coronavírus já matou 96.340 pessoas em todo o mundo e infetou quase 1,6 milhões em 193 países e territórios desde o início da pandemia, em dezembro passado, na China.
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