Único candidato formal a secretário-geral das Nações Unidas, por ter sido o único a ser nomeado por um Estado-membro (Portugal) e a ser validado pelo Conselho de Segurança e Assembleia Geral da ONU, António Guterres apresentou-se hoje à Assembleia Geral da ONU, na sede, em Nova Iorque, para uma sessão de diálogo informal com os representantes dos Estados-membros e para responder a perguntas da sociedade civil.
É a segunda vez que Guterres é candidato a secretário-geral, depois de ter sido eleito em 2016, após ser nomeado pelo Governo português.
No seu discurso introdutório, proferido em inglês, francês e espanhol, António Guterres declarou que desde jovem tinha a vontade de “lutar por um mundo melhor, para superar a desigualdade, a pobreza e garantir que as pessoas sejam livres e tenham acesso às oportunidades”, o que o fez entrar na política e o guiou durante o mandato como primeiro-ministro de Portugal, entre 1995 e 2002.
Mais tarde, como alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, o candidato disse ter sido confrontado “com algumas das pessoas mais vulneráveis do planeta”.
No entanto, recordou que a proteção das pessoas mais pobres e vulneráveis, durante os dez anos em que esteve no cargo, se mostrou insuficiente para impedir as causas iniciais conflitos.
“Enquanto fornecíamos proteção e ajuda humanitária a milhões de pessoas, a nossa resposta era paliativa e de remédio. Não lidava com as causas subjacentes que levavam ao sofrimento em primeiro lugar”, disse Guterres.
“Não existem soluções humanitárias para os problemas humanitários. A solução é sempre política”, afirmou o candidato.
Por esse motivo decidiu candidatar-se a secretário-geral, cargo que iniciou em 1 de janeiro de 2017.
Depois de, em março, ter dado a conhecer a sua visão (“Vision Statement”), Guterres aproveitou o diálogo de hoje para “um testemunho mais pessoal”, prometendo lidar com “os complexos desafios” da atualidade com uma “abordagem humilde”.
“O secretário-geral sozinho não tem todas as respostas, nem procura impor seus pontos de vista”, afirmou António Guterres, defendendo o apoio mútuo entre a ONU e 193 Estados-membros, posicionando-se como “convocador, um mediador, um construtor de pontes e um intermediário honesto” para ajudar a encontrar “soluções que beneficiem a todos”.
Declarando-se “afortunado” com as oportunidades que teve na vida, disse querer “honrá-las no serviço da humanidade, para um propósito maior e com extrema humildade”.
Continuou por fazer alusão à história portuguesa e por explicar a sua experiência na ditadura e na Revolução dos Cravos, “trabalhando para a emergente democracia no próprio país”.
António Guterres voltou a sublinhar alguns dos princípios guiadores no seu mandato: crise climática, degradação ambiental, desigualdades, ciberataques, proliferação nuclear, direitos humanos como “riscos existenciais”.
Satisfeito com “alguns progressos”, Guterres declarou ser preciso “superar alguns dos legados do século 20 e uma série de contradições” na ONU, como as guerras e “conflitos que são mais complexos que nunca”.
O secretário-geral criticou que a “globalização, progresso tecnológico e económico, sistemas que se baseiam no consumo infinito e ignoram a coesão social, o desenvolvimento sustentável e bem-estar, também contribuíram para o crescimento de desigualdades, criando divisões, principalmente na área digital, e causando estragos à natureza e ao clima”.
Em francês, o candidato voltou a defender um “Novo Contrato Social” para a reconstrução da sociedade depois da pandemia de covid-19 e declarou que a ONU juntou todos os esforços para distribuir vacinas em todo o mundo.
“Acredito que estamos num ponto de viragem na história”, acrescentou, dizendo que é imperativo “superar a falsa dicotomia entre soberania nacional e direitos humanos” e lembrando que, “apesar da maior conectividade, as sociedades estão a tornar-se mais fragmentadas”.
Nesta sessão da Assembleia Geral, segue-se um momento de perguntas por parte dos Estados-membros e da sociedade civil.
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