Perante um auditório cheio de militantes e simpatizantes do PS, António Vitorino, antigo ministro e dirigente socialista, fez um diagnóstico extremamente negativo sobre o atual estado da União Europeia, em particular no que respeita à zona euro.
"A maneira como o euro está a funcionar aprofunda a convicção de que começa a esboçar-se um cenário em que os seus Estados-membros se dividem em dois grupos: a dos ganhadores e perdedores, com a subtileza que há ganhadores e perdedores permanentes, o que é inédito na União Europeia e coloca em causa a essência do projeto europeu", disse.
No Convento de São Francisco, em Coimbra, perante o painel "Uma Europa de todos", o antigo comissário europeu defendeu que Bruxelas tem de assumir-se como "um regulador da globalização" - e não pode ser encarada com a desconfiança de que é na realidade "um cavalo de troia" da desregulação financeira -, e mostrou-se apreensivo com as consequências de haver faixas de eleitorado significativas (tanto na União Europeia, como nos Estados Unidos) que aderem aos populismos por se encontrarem marginalizadas do ponto de vista económico.
"Para evitar que a União Europeia se torne refém da leitura dos xenófobos e dos populistas, que é a leitura daqueles que são contra a União Europeia, é preciso que algo mude. A questão do ressentimento social dos perdedores e ganhadores da globalização está a fazer-se sentir, pois encontrámo-la no 'brexit' [no referendo europeu no Reino Unido], mas também a encontramos na campanha presidencial norte-americana", apontou.
António Vitorino advertiu ainda para consequências muito negativas a prazo em vários Estados-membros europeus caso se mantenham em níveis elevados as taxas de desemprego jovem.
"Não se trata de colocar idosos contra jovens. Mas, se nada for feito, está em causa a coesão social", sustentou, num discurso em que também lamentou "a perda de peso da progressividade ao nível da política fiscal".
Segundo o antigo ministro socialista, em vários países europeus, essa progressividade no campo das políticas de impostos está a perder gradualmente terreno face a estratégias de concorrência fiscal entre os diferentes países.
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