Quando a 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia seria dificil imaginar que no fim de dezembro de 2023 houvesse, na Europa, uma guerra de trincheiras ainda sem desfecho. A resistência ucraniana está baseada num tripé assente na resiliência do povo ucraniano, na capacidade inesgotável de liderança, comunicação e diplomacia de Zelensky e da nem sempre fiável cooperação internacional.

Mas hoje todo o território da Ucrânia acordou sob alerta aéreo, depois de a Rússia ter lançado uma série de ataques a várias cidades, incluindo a capital, Kiev, Kharkiv (nordeste), Lviv (oeste) e Odessa (sul). Volodymyr Zelensky apressou-se a denunciar que a Rússia lançou cerca de 110 mísseis e ‘drones’ (aeronaves sem tripulação) contra alvos ucranianos durante a noite, num dos maiores ataques do género do ano.

As forças russas utilizaram uma grande variedade de armas, incluindo mísseis balísticos e de cruzeiro, disse Zelensky, citado pela agência norte-americana AP.

O porta-voz da Força Aérea ucraniana, Yurii Ihnat, disse que a Rússia “aparentemente lançou tudo o que tinha” contra alvos em toda a Ucrânia.

O ataque de cerca de 18 horas, que começou na quinta-feira e continuou durante a noite, atingiu seis cidades, incluindo a capital Kiev, e outras áreas do leste ao oeste da Ucrânia, segundo as autoridades.

Este foi o maior ataque russo desde a invasão, tendo a Rússia lançado 122 mísseis e 36 'drones' contra alvos em toda a Ucrânia, matando pelo menos 18 civis, segundo dados divulgados pelas autoridades ucranianas. Mas sabe-se também que um desses mísseis russos entrou no espaço aéreo de um país da NATO, a Polónia, antes de o deixar em direção à Ucrânia, alvo de uma vaga mortífera de ataques russos, anunciaram as autoridades polacas.

O comandante operacional do exército polaco, general Maciej Klisz, disse que o míssil sobrevoou o espaço aéreo polaco durante três minutos, a uma distância de cerca de quarenta quilómetros. Na sequência do incidente, as autoridades civis e militares polacas realizaram reuniões de emergência e o Presidente Andrzej Duda manteve conversações com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.

Além da reação de alerta e prevenção da Polónia, mais reações fizeram sentir-se pelo mundo. Umas mais diplomáticas, outras mais penetrantes. Por um lado, o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, condenou os ataques russos com mísseis e 'drones' contra várias cidades ucranianas, que mataram, pelo menos 30 civis. Por outro, o Presidente dos EUA, Joe Biden, pediu ao Congresso para "agir sem mais demoras" nas negociações em curso sobre um dispendioso pacote de ajuda militar à Ucrânia, após os "bombardeamentos maciços" russos em território ucraniano. E o Reino Unido prometeu entregar à Ucrânia cerca de 200 mísseis antiaéreos para que o país sob ataque russo reforce as suas defesas, anunciou hoje o ministro britânico da Defesa, Grant Shapps.

E se se começou a falar na capacidade de Zelensky, o Presidente Ucraniano volta a mostrar o seu papel na contra-ofensiva. E, depois de um ataque sem precedentes, informou hoje ter visitado Avdiivka, uma cidade na frente oriental que há meses sofre repetidos ataques das forças russas que tentam cercá-la.

“Avdiivka. Visitei as posições da 110ª brigada mecanizada”, escreveu Zelensky na rede social Telegram, acompanhando a mensagem com um vídeo que o mostrava em frente a uma placa com o nome da cidade, onde foi entregar condecorações a soldados.

Salientando que esta é “uma das áreas mais difíceis da linha da frente”, Zelensky disse que “agradeceu pessoalmente aos soldados” e “discutiu com o comandante a situação de defesa e as necessidades essenciais” da unidade.

“Agradeço a todos os que estão na linha da frente pelo seu serviço, por este ano em que todo o país sobreviveu graças a estes soldados”, acrescentou o líder ucraniano.

*Com Lusa