Durante a conferência, a diretora-geral da Saúde disse crer que está "previsto para dia 18 ou dia 19" o levantamento da cerca sanitária no concelho de Ovar.

A 17 de março, o Governo declarou o estado de calamidade pública no concelho de Ovar, que no dia seguinte ficou sujeito a cerco sanitário com controlo de entradas e saídas no concelho, e encerramento de toda a atividade empresarial que não envolvesse bens de primeira necessidade. Após várias exceções autorizadas a ritmo gradual, na terça-feira passaram a laborar mais 300 unidades industriais locais, mediante planos de contingência específicos.

Para Graça Freitas, o município foi "alvo de medidas proporcionais e extraordinárias, porque tinha uma dinâmica da doença muito intensa", mas que dada a "evolução da situação em Ovar e a avaliação do risco epidemiológico, indica que já não é uma situação especial", tendo "características da epidemia semelhantes a outras zonas do país".

Segundo a diretora-geral da Saúde, as autoridades locais — tanto as autoridades de saúde como a Câmara Municipal de Ovar e a Proteção Civil — chegaram "à conclusão de que estavam reunidas as condições para que Ovar deixasse de ser uma zona de exceção", tendo submetido o pedido de retirada da cerca sanitária às autoridades superiores.

Medidas como esta, disse o secretário de Estado da Saúde, vão de encontro ao novo projeto de decreto proposto pelo Presidente da República, que renova o Estado de Emergência até 2 de maio, mas que prevê a possibilidade de uma "abertura gradual, faseada ou alternada de serviços, empresas ou estabelecimentos comerciais".

Segundo António Lacerda Sales, o conteúdo desse documento "vai ao encontro das várias medidas cautelosas que temos vindo a tomar e que vamos continuar a tomar”, porque "regresso à atividade mais normal não é incompatível com aquilo que é a manutenção da contenção social e das medidas que temos tomado ao longo de todo este tempo".

Graça Freitas, completou esse ponto, advogando a necessidade de "equilibrar durante algum tempo nas nossas vidas o retorno à atividade normal num mundo com Covid, com alguma contenção", dizendo não ser possível "recuar a 30 de dezembro de 2019". "Vamos ter de compatibilizar uma nova forma de estar na vida, que é voltarmos às nossas atividade gradualmente, como diz o decreto, mas ao mesmo tempo continuarmos a observar medidas de controlo de infeção", concluiu a diretora-geral da Saúde.

Descompressão das medidas de contenção tem de ser aplicada à realidade portuguesa

A possibilidade de começar a descomprimir as medidas de contenção está em cima da mesa, mas Graça Freitas alertou que os exemplos que estão a ser dados por outros países não podem ser seguidos como critério único.

"A grande vantagem que temos em Portugal é que começámos o nosso período epidémico mais tarde do que outros países, e portanto vamos acompanhar diferentes critérios que estão a ser adotados por diferentes países para ver qual é aquele que se adaptará melhor à nossa realidade”, explicou a diretora-geral da Saúde.

Um dos critérios mencionado, por exemplo, é o indicador R0, sendo este "o número de pessoas que é necessário infetar para que a epidemia se mantenha, ou seja, o que é que cada infetado transmite a um determinado número de pessoas". Na Noruega, foi convencionado que "estaria na altura de descomprimir as suas medidas de contenção" quando o valor baixasse para 0,7, ou seja, "quando uma pessoa infetasse, em média, 0,7 pessoas", explicou a diretora-geral da Saúde.

Esse valor, porém, tem de ser lido consoante as característica de um país da Noruega, não podendo ser importado para Portugal sem atender às especificidades do nosso país. "Não há um valor milagroso", sublinhou Graça Freitas.

Quanto às políticas a serem tomadas em Portugal, a diretora-geral da Saúde disse que o país "tem neste momento um grupo grande de cientistas e de médicos de saúde pública a avaliar qual será a altura ideal para começarmos a descomprimir em relação às medidas de contenção, como é que isso poderá ser feito e quais vão ser os critérios que vamos ter de observar".

São mais de 2000 os profissionais de saúde infetados 

Durante a conferência de imprensa, o secretário de Estado da Saúde revelou hoje que há 2.131 profissionais de saúde infetados com o novo coronavírus, entre os quais 396 são médicos, 566 enfermeiros e os restantes 1169 são assistentes operacionais, técnicos e outros profissionais.

A revelação foi feita depois de uma pergunta quanto aos dados de um inquérito da Escola de Saúde Pública (ENSP), tornado público na quarta-feira e que revela que mais de seis em cada 10 casos suspeitos de Covid-19 em profissionais de saúde não foram submetidos a vigilância ativa e apenas um quarto realizou o teste nas primeiras 24 horas.

A este respeito, a diretora-geral da Saúde, sem comentar diretamente o estudo, apontou que nenhum dos valores lhe "parece à partida estranho”.

“Um profissional de saúde ou uma pessoa que precise de ficar isolada durante 14 dias porque foi um contacto próximo de um caso, não necessita obrigatoriamente de fazer teste, porque quer este dê positivo ou negativo, esta pessoa tem à mesma de fazer a sua quarentena de 14 dias por causa do seu período máximo de incubação”, explicou Graça Freitas, quanto os profissionais infetados que não foram diagnosticados de imediato.

Quanto aos profissionais em vigilância ativa, a diretora-geral da Saúde considerou que esta aplica-se a quem não é capaz de monitorizar os seus sintomas, sendo "contactado por um profissional de saúde para saber se teve febre, se teve tosse, se teve sintomas respiratórios que possam levar a suspeitar que se tornou positivo ou que se tornou um casos suspeito”.

Os profissionais de saúde, explicou, não "carecem de ficar em vigilância ativa", já que são pessoas que têm "a capacidade de fazer autovigilância, o que se chama de vigilância passiva", sendo eles a reportar os seus sintomas.

Clínicas de hemodiálise têm de criar circuitos e equipas distintas

Uma das questões levantadas durante a conferência foi quanto ao caso de uma clínica de hemodiálise que registou casos Covid-19 e se mantém aberta. A este respeito, Graças Freitas frisou que as clínicas têm de criar circuitos próprios.

“Obviamente os doentes em diálise são doentes graves para ter uma doença de risco por Covid-19. Nestas circunstâncias, aqueles cuja sua sintomatologia e patologia de base o justifique vão obviamente para os hospitais. No entanto, as clínicas têm indicações e procedimentos bem definidos”, disse Graça Freitas.

A diretora-geral da Saúde referiu que as clínicas devem ter "um circuito para doentes Covid-19 e um para não Covid, sendo que ambos os circuitos não só devem ser "separados fisicamente", como também ter "equipas distintas”.

Apesar do período de pandemia, Graça Freitas deixou um apelo a que os doentes continuem a fazer hemodiálise, recordando que "os casos graves estão a ser acompanhados nos nossos hospitais”.

Os números da pandemia

Portugal regista hoje 629 mortos associados à Covid-19, mais 30 do que na quarta-feira, e 18.841 infetados (mais 750), indica o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

O relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de quarta-feira, indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortos (355), seguida pelo Centro (146), pela região de Lisboa e Vale Tejo (115) e do Algarve, com nove mortos.

O boletim regista quatro óbitos nos Açores.

Relativamente a quarta-feira, em que se registavam 599 mortos, hoje observou-se um aumento percentual de 5% (mais 30).

De acordo com os dados disponibilizados pela DGS, há 18.841 casos confirmados, mais 750, o que representa um aumento de 4,1% face a quarta-feira.

Quanto ao número de internamentos , no total registam-se atualmente 1.302 casos de pessoas internadas (+9%), 229 das quais nos cuidados intensivos (+10% face ao dia anterior).

No entanto Lacerda Sales congratulou o facto de nas últimas 24 horas não ter havido "nenhuma morte em cuidados intensivos, excepto no Hospital de São João, onde temos a dúvida se houve ou não um óbito confirmado”

Em sentido contrário, para o governante, ter uma alta dos cuidados intensivos representa "uma vitória de todos nós, mas representa sobretudo uma grande vitória dos profissionais de saúde”.

Quanto à capacidade de testagem do país, o secretário de Estado da Saúde anunciou também haver 208738 testes acumulados à data de hoje, tendo sido feitos uma média de "de 11 mil testes diários, cerca de sete mil no público, quatro mil no privado.”

Respondendo quanto a uma aparente diminuição do número de testes feitos nos últimos dias, Lacerda Sales disse que é “natural que haja algumas oscilações diárias”, mas defendeu que a média de 20430 pessoas testadas por milhão de habitantes comprova que está a ser reforçada a capacidade de testagem.

Quanto às encomendas de equipamentos de proteção individual, o secretário de Estado da Saúde disse que esta seana foram recebidos "cerca de 900 mil respiradores FFP2 e FFP3 e cerca de seis milhões de máscaras cirúrgicas, entre outros equipamentos como luvas, toucas e protetores de calçado," materiais que vão ser distribuídos "de acordo com as necessidades por todo o país”.

Novo coronavírus SARS-CoV-2

A Covid-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, é uma infeção respiratória aguda que pode desencadear uma pneumonia.

A maioria das pessoas infetadas apresentam sintomas de infeção respiratória aguda ligeiros a moderados, sendo eles febre (com temperaturas superiores a 37,5ºC), tosse e dificuldade respiratória (falta de ar).

Em casos mais graves pode causar pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. Contudo, a maioria dos casos recupera sem sequelas. A doença pode durar até cinco semanas.

Considera-se atualmente uma pessoa curada quando apresentar dois testes diagnósticos consecutivos negativos. Os testes são realizados com intervalos de 2 a 4 dias, até haver resultados negativos. A duração depende de cada doente, do seu sistema imunitário e de haver ou não doenças crónicas associadas, que alteram o nível de risco.

A covid-19 transmite-se por contacto próximo com pessoas infetadas pelo vírus, ou superfícies e objetos contaminados.

Quando tossimos ou espirramos libertamos gotículas pelo nariz ou boca que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo. Estas gotículas podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada. Por sua vez, outras pessoas podem infetar-se ao tocar nestes objetos ou superfícies e depois tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos.

Estima-se que o período de incubação da doença (tempo decorrido desde a exposição ao vírus até ao aparecimento de sintomas) seja entre 2 e 14 dias. A transmissão por pessoas assintomáticas (sem sintomas) ainda está a ser investigada.

Vários laboratórios no mundo procuram atualmente uma vacina ou tratamento para a covid-19, sendo que atualmente o tratamento para a infeção é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam.

Onde posso consultar informação oficial?

A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.

Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral da Saúde.