A posição do Bangladesh foi transmitida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Shahidul Haque, que declarou naquele órgão das Nações Unidas que “não é possível” acomodar mais refugiados rohingya no território bangladeshiano.
Os problemas colocados no processo de regresso de centenas de milhares de rohingyas a Myanmar “vão de mal a pior”, alertou Shahidul Haque, apelando ao Conselho de Segurança da ONU para tomar medidas “concretas”.
“O Bangladesh, que se mostrou recetivo e responsável, com empatia por uma minoria perseguida num país vizinho, é que paga o preço?", questionou o representante.
Shahidul Haque acusou ainda as autoridades de Myanmar de “promessas vazias” durante as negociações entre os dois países para o repatriamento gradual dos vários milhares de rohingyas atualmente refugiados em campos no Bangladesh.
O êxodo dos rohingyas teve início em meados de agosto de 2017, quando foi lançada, no Estado de Rakhine (oeste de Myanmar), uma operação militar do exército birmanês contra o movimento rebelde Exército de Salvação do Estado Rohingya devido a ataques da rebelião a postos militares e policiais.
Desde então, mais de 740 mil rohingya procuraram refúgio no vizinho Bangladesh, sobretudo na zona de Cox’s Bazar, e sem grandes esperanças de um regresso rápido às respetivas casas.
A campanha de repressão do exército de Myanmar contra esta minoria muçulmana já foi classificada pela ONU como uma das crises humanitárias mais graves do início do século XXI.
Após o acordo com o Bangladesh, Myanmar aceitou o regresso gradual de refugiados, mas a ONU sempre insistiu na necessidade de garantir a segurança destas pessoas.
O embaixador de Myanmar junto da ONU, Hau Do Suan, disse, por sua vez, que o governo birmanês está a fazer o seu melhor, pedindo paciência.
O representante de Naypyidaw enumerou “imensas barreiras físicas e psicológicas", apontando para a necessidade de existir “tempo e paciência, bem como coragem, para construir uma confiança mútua entre as diferentes comunidades”.
Na mesma sessão do Conselho, a enviada da ONU para Myanmar, a suíça Christine Burgener Schraner, advertiu que “os progressos são muito lentos” na resolução da crise dos rohingyas, afirmando que a perspetiva da realização de eleições naquele país em 2020 pode atrasar ainda mais uma solução.
A enviada deslocou-se cinco vezes a Myanmar e esta foi a primeira vez que relatou publicamente as suas diligências ao Conselho de Segurança da ONU.
“As minhas primeiras cinco visitas colocaram em evidência os enormes desafios que exigem um apoio internacional considerável”, frisou Christine Burgener Schraner, que assumiu o cargo em abril de 2018.
Myanmar, de maioria budista, não reconhece esta minoria e impõe múltiplas restrições aos rohingyas, nomeadamente a liberdade de movimentos.
Desde que a nacionalidade birmanesa lhes foi retirada em 1982, os rohingyas têm sido submetidos a muitas restrições: não podem viajar ou casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais).
A violência contra esta minoria, descrita pela ONU como limpeza étnica e um possível genocídio, incluiu o assassínio de milhares de pessoas, a violação de mulheres e de crianças e a destruição de várias aldeias.
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