“Temos vindo a insistir na necessidade de travar a emigração de enfermeiros, com incentivos concretos, claros, que permitam que os nossos melhores profissionais continuem no nosso sistema e junto das suas famílias. Apesar do silêncio que temos encontrado do lado de quem decide, não vamos desistir de explicar aos enfermeiros que não podem aceitar negociar uma carreira, que lhes pague com migalhas o que deve ser retribuído com pão”, afirmou Ana Rita Cavaco.

A bastonária falava no Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha de São Miguel (Nonagon), na Lagoa, no encerramento do primeiro Congresso de Enfermagem dos Açores.

Ana Rita Cavaco admitiu que “a Ordem não pode imiscuir-se em questões sindicais”, mas disse que tem um mandato para “defender a dignidade da profissão”, alegando que “o salário é um fator decisivo na construção ou destruição dessa mesma dignidade”.

“Os enfermeiros não servem só para acudir a uma pandemia, os enfermeiros não podem continuar a acudir a pandemias, com 20 anos de experiência profissional, a ganhar pouco mais de 900 euros líquidos por mês. É disto que estamos a falar”, apontou.

“Se há esse compromisso social, na altura, se for preciso, de fazer greve, de vir para a rua, de lutar pelos nossos direitos, quero ver se abrem a janela para bater palmas também”, acrescentou.

Nos Açores, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros elogiou o sistema de incentivos à fixação de profissionais em algumas ilhas, que o executivo açoriano de coligação PSD/CDS-PP/PPM prevê implementar até ao final do ano, e apelou ao Governo da República (PS) para que siga o exemplo.

“Os incentivos concretos anunciados por este executivo constituem um bom ponto de partida, um mecanismo importante de sinalização da urgência que temos em garantir que não faltam enfermeiros junto das populações. Gostava muito que esse exemplo fosse seguido pelo Governo da República”, salientou.

Ana Rita Cavaco destacou o “contributo decisivo” da Ordem dos Enfermeiros nos Açores para a “reforma das políticas públicas de saúde” e disse ter esperança num “caminho de entendimento” com o executivo açoriano.

“É muito cedo para fazer uma avaliação séria sobre as mudanças que começam a ser desenhadas para a saúde dos açorianos. Gosto de ser isenta (…) A verdade é que os primeiros sinais deixam-nos com a esperança de que possamos construir, Ordem e Governo Regional, um caminho de entendimento, que funcione em nome das pessoas e para as pessoas”, vincou.