"O BE vai entregar uma queixa à Comissão Europeia por violação das normas de atribuição de fundos do PRR e das ajudas de Estado. A queixa é muito simples: a atribuição de fundos do PRR, em combinação com um sistema chamado SIFIDE, está não só a violar as normas das ajudas de Estado e de concorrência a nível europeu, como está a violar as normas de atribuição dos fundos do PRR", anunciou Mariana Mortágua, em conferência de imprensa, na sede nacional do partido, em Lisboa.
Em causa está o SIFIDE, sistema de incentivos fiscais à investigação e desenvolvimento empresarial, que consiste num benefício fiscal sob a forma de dedução à coleta de IRC de despesas realizadas pelas empresas em investigação e desenvolvimento.
Além disto, continuou a bloquista, este sistema permite também a dedução do dinheiro que é gasto na compra de unidades de participação em fundos de capital de risco “que dizem que vão investir em investigação e desenvolvimento”.
“Se esse fundo de capital de risco investe ou não em investigação e desenvolvimento é toda uma outra história, e na verdade não temos grandes garantias que seja sempre assim nem formas de fiscalizar”, avisou.
A “segunda parte do problema”, explicou a coordenadora bloquista, está relacionado com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O banco de fomento tem duas linhas para financiar fundos de capital de risco, “os mesmos que beneficiam do SIFIDE”.
“[No âmbito do PRR], o Estado financia 70% da capitalização destes fundos de capital de risco, com uma condição: 30% tem que ser privado”, salientou.
Ora, de acordo com o BE, os 30% de componente privada destes fundos de capital de risco “está a ser composta por fundos SIFIDE” e ‘vistos gold’.
Para o BE, está em causa “uma crassa violação das regras das ajudas de Estado”.
“O que estamos a dizer à Comissão Europeia é denunciar que, apesar das regras dizerem que 30% dos fundos de capital de risco têm que ser privados, o que está a acontecer é que estes 30% estão a ser completados com dinheiro publico, através de benefícios fiscais de um regime chamado SIFIDE ou através de ‘vistos gold’”, sintetizou.
Mortágua acusou ainda o anterior ministro da Economia, António Costa Silva, de ter mentido na Assembleia da República, quando garantiu que estes fundos não iam poder recorrer nem a SIFIDE nem ‘vistos gold’ para financiar a sua parte privada.
“E este novo Governo não só não fiscalizou ou apertou as regras como quer alargar mais as regras de atribuição do SIFIDE e criar regras mais permissivas. Por detrás de um discurso sobre empreendedorismo e inovação está montado um negócio de exploração de fundos públicos e benefícios fiscais”, acusou.
Mortágua afirmou que o SIFIDE “custou aos cofres públicos 600ME só o ano passado”.
O BE vai avançar com a queixa à Comissão Europeia, depois de ter esgotado o recurso a instâncias nacionais, e por considerar que esta instituição “tem uma obrigação particular de fiscalizar auxílios de estado ilegais”.
“Vivemos neste mundo um bocadinho paradoxal em que quando é preciso investir na TAP, Efacec ou num banco e ficar com propriedade pública não é possível porque viola as regras de ajudas de Estado, mas depois temos regimes de benefícios fiscais que são uma sistemática violação das regras de ajudas de Estado e temos sociedades de capital de risco em Portugal que só sobrevivem à custa do Estado, são subsidiodependentes”, acusou.
A coordenadora bloquista disse não compreender porque é que a Comissão Europeia tem uma “mão tão dura” relativamente a outros casos e nestes “é permitida esta duplicação de benefícios”.
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