“Apesar dos repetidos apelos da Bélgica sobre este assunto, deve notar-se que o senhor Rusesabagina não recebeu um julgamento justo e equitativo, particularmente no que diz respeito aos direitos da defesa”, disse Sophie Wilmès, através de uma declaração.

A ministra belga adianta que “a presunção de inocência não foi respeitada” e que “estes elementos de facto põem em causa o julgamento e a sentença”.

A Câmara do Supremo Tribunal para Crimes Internacionais e Transfronteiriços em Kigali declarou Rusesabagina, 67 anos, culpado de formar e financiar um grupo terrorista por liderar a Frente de Libertação Nacional (FLN), a ala armada do seu partido, o Movimento Ruandês para a Mudança Democrática (MRCD).

O antigo gerente que inspirou o filme “Hotel Ruanda”, que deixou de comparecer no tribunal em março por achar que não iria receber um julgamento justo, foi preso em 31 de agosto no aeroporto internacional de Kigali, numa detenção que a sua família e advogados descreveram como um “rapto”.

“Decidimos que o seu papel na criação do NLF, o seu fornecimento de fundos e a compra de telefones seguros para a sua utilização, tudo isto constitui o crime de cometer terrorismo. Considerámo-lo, portanto, culpado do crime de terrorismo”, disse a juíza Beatrice Mukamurenzi, ao ler o veredicto.

Rusesabagina foi considerado culpado “in absentia” numa audiência que ainda não terminou e diz respeito a um caso conjunto em que está a ser julgado juntamente com 20 membros da FLN.

Os 20 suspeitos incluem dois antigos porta-vozes da FLN, Callixte Nsabimana e Herman Nsengimana, que se encontram sob custódia policial por ataques cometidos em 2018.

O antigo gestor foi alvo de nove acusações de terrorismo, incluindo a formação de um grupo armado irregular, pertença a um grupo terrorista e financiamento do terrorismo, bem como homicídio, rapto e assalto à mão armada, como um ato de terrorismo.

Rusesabagina foi gerente do famoso Hotel Thousand Hills, na capital ruandesa, e alojou mais de mil tutsis e hutus moderados para os salvar dos hutus extremistas, durante o genocídio de 1994.

O antigo gestor tornou-se um adversário altamente crítico do Presidente ruandês, Paul Kagame, e vivia no exílio entre a Bélgica e os Estados Unidos da América, onde criou uma fundação para promover a reconciliação a fim de evitar mais genocídios.

Estes eventos inspiraram mais tarde o filme “Hotel Ruanda”, o que lhe trouxe um amplo reconhecimento mundial. Em casa, porém, foi criticado por muitos sobreviventes que o acusaram de explorar o genocídio em proveito pessoal.

O genocídio começou em 07 de abril de 1994, após o assassinato, no dia anterior, dos Presidentes do Ruanda, Juvénal Habyarimana (hutu), e do Burundi, Cyprien Ntaryamira (hutu), quando o avião em que viajavam foi abatido sobre Kigali.