“Para que não discutamos: esta pouca vergonha está a chegar ao fim, temos de cuidar da economia”, disse o chefe de Estado bielorrusso, numa alusão ao movimento de contestação inédito que tem ocorrido nas últimas semanas naquele país, em declarações citadas pela agência oficial BELTA.
Nas mesmas declarações, interpretadas como um aviso e feitas durante uma visita a uma empresa na cidade de Orsha, a cerca de 200 quilómetros a noroeste da capital Minsk, perto da fronteira com a Rússia, Lukashenko garantiu, no entanto, que na Bielorrússia as pessoas não serão “perseguidas” pelas suas opiniões.
“Há aqui jornalistas. Metade deles pode ter a sua própria opinião, mas não andam pelas ruas a incomodar o país num momento em que existem rastos (de tanques de guerra) junto às fronteiras”, disse Lukashenko, que esta semana acusou a Polónia de ter planos para ocupar a região fronteiriça bielorrussa de Grodno, o que levou ao reforço das tropas da Bielorrússia na fronteira.
Em protestos antigovernamentais ocorridos na quinta-feira em Minsk, a polícia da Bielorrússia deteve 265 pessoas, incluindo meia centena de jornalistas, divulgou hoje a organização de direitos humanos bielorrussa Vesná.
Durante a visita de hoje, o chefe de Estado abordou as prioridades económicas e realçou que todas as empresas do país, públicas e privadas, devem funcionar “nas mesmas condições”, afirmando que o Governo bielorrusso levará em conta “a lealdade ao Estado, e não a Lukashenko”.
“Isto é para evitar o que aconteceu agora. A maioria dos empresários privados começou a duvidar, e muitos deles não só duvidaram, como começaram a comportar-se de forma desonesta”, prosseguiu o líder da ex-república soviética.
O Presidente bielorrusso assegurou igualmente que Minsk não receia as sanções ocidentais, medidas que já enfrentou no passado.
“Sobrevivemos. E vamos também sobreviver agora. No mundo não faltam pessoas boas. Por isso não precisamos de ser intimidados”, frisou Alexander Lukashenko, acusando diretamente o Ocidente de querer derrubá-lo para alcançar e enfraquecer a Rússia, o forte aliado de Minsk.
Para os ocidentais, “a Bielorrússia é apenas um trampolim para a Rússia, como sempre”, defendeu.
E concluiu: “Ao contrário de Hitler [líder da Alemanha nazi entre 1933 e 1945], que enviou o seu exército para Moscovo, estão a tentar quebrar o poder atual, substituí-lo por um novo que irá pedir ajuda militar a um outro país e destacará tropas”.
A Bielorrússia tem sido palco de um movimento de contestação inédito desde as eleições presidenciais realizadas em 09 de agosto.
No poder há 26 anos, o Presidente Alexander Lukashenko enfrenta há várias semanas protestos contra a sua reeleição para um sexto mandato, que a oposição bielorrussa considera fraudulenta.
Mais de sete mil pessoas foram detidas e pelo menos três manifestantes já morreram durante os protestos, que têm sido fortemente reprimidos pelas forças de segurança.
A União Europeia e os Estados Unidos criticaram a eleição de 09 de agosto e têm encorajado as autoridades bielorrussas a dialogarem com a oposição.
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