"E a festa de Saint Jean?" é a pergunta mais frequente que portugueses e franceses colocam a João Veloso. Este português, oriundo de Guimarães e que vive há quase 60 anos em Clermont-Ferrand, segunda cidade com mais portugueses em França, transformou esta tradição portuguesa em festa municipal.
Mas este ano, devido à covid-19, a festa foi cancelada. "Como por todo o lado, derivado à situação em que estamos, tivemos de cancelar. Tínhamos o programa preparado e tudo", lamentou João Veloso, em declarações à agência Lusa.
A festa de São João (ou Saint Jean) começou a ser organizada por João Veloso, presidente da associação Os Camponeses Minhotos, em 1986 e de um festival de ranchos folclóricos passou a uma das maiores festas da cidade, acolhendo entre 20 e 30 mil pessoas de toda a região.
Sem esta festa, a associação que também tinha outras atividades previstas e que foram anuladas, pode vir a passar algumas dificuldades.
"Este ano não sei como é que vamos fazer. Era um ano cheio de atividades. Só o rancho tinha um ano completo com muitas deslocações", indicou.
Esta associação autofinancia-se, recebendo também alguns apoios locais, e as suas atividades têm sempre permitido pagar os 2.500 euros mensais do empréstimo pedido há alguns anos para a construção da sede e as contas correntes.
"Acho que vamos conseguir sobreviver. Temos pedido às empresas, aos bancos e ao Governo português, mas sabemos que eles também não nos podem dar. Vamos batendo às portas que podemos", confessou o líder associativo.
Também a associação Biblioteca Portuguesa de Clermont-Ferrand, que começou por ser uma biblioteca de livros em português, mas é hoje uma associação dedicada ao futebol amador, conta com algumas dificuldades na próxima época.
"A nossa sorte é que tínhamos dinheiro de lado e uma tesouraria em dia. Mas se isto continuasse mais três meses, ia haver problemas. Pagámos o campeonato completo e ele ficou a meio e não houve retorno nenhum, espero que haja um gesto na próxima época", disse Jorge Vaz, presidente da associação.
Os custos de ter duas equipas de seniores no campeonato amador da região podem ascender a 18 mil euros, entre licenças e seguros. Um montante custeado inteiramente pela associação que vive dos lucros do seu bar, dos seus convívios ao sábado, alguns patrocinadores e dos seus sócios.
"Estamos a recomeçar pouco a pouco, com a reabertura do bar e dos jantares. Mas não é ainda como antes", declarou o presidente.
Conhecidos pela sua "paixão pelo futebol" em Clermont-Ferrand e com várias equipas no futebol amador, a comunidade portuguesa não vai baixar os braços, garantiu.
"Está fora de questão que o futebol acabe", concluiu Jorge Vaz
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