Prestes a comemorar cinco anos como líder da UGT, no dia 21, e numa altura que estão em discussão as medidas do Governo de combate à precariedade e de dinamização da contratação coletiva, Carlos Silva defende um entendimento entre os parceiros sociais, apesar das posições divergentes já assumidas pela CGTP e pelas quatro confederações patronais.
“Somos seis [parceiros sociais] e cabe agora a cada um perceber, nas matérias que estão em cima da mesa […] se vamos ou não agarrar esta oportunidade ou vamos permitir que, não havendo entendimentos, seja o parlamento a tomar decisões”, afirma o dirigente da UGT.
Carlos Silva diz que “no início” da atual solução governativa houve “algum temor sobretudo por parte dos empresários” de que a Concertação Social perdesse força, nomeadamente quando o executivo avançou sozinho com o aumento do salário mínimo acordado com o Bloco de Esquerda.
“Acho que houve um momento de alguma distração de alguns parceiros sociais no final de 2017 quando se perdeu a oportunidade de dar ainda mais força à Concertação: foi a incapacidade de alguns parceiros perceberem que um acordo naquele momento era importante para se combater essa imagem que se criou em 2015 de que agora a Concertação não valia nada e que tinha sido tudo deslocalizado para o parlamento”, diz Carlos Silva.
Porém, para o líder sindical, o conjunto de medidas laborais apresentado agora pelo Governo aos parceiros sociais “veio dar um contributo muito importante para dinamizar o papel da Concertação Social no país”.
O problema, diz Carlos Silva, é que, apesar de as empresas dizerem que também querem combater a precariedade, depois fazem “o velho choradinho de sempre”, a dizer que “isto está difícil, que não aguentam”.
“A contratação a prazo quando foi implementada no Código do Trabalho era a exceção. Transformou-se rapidamente na regra e as entidades empregadoras abusaram desta regra”, sublinha o líder da central sindical.
Para Carlos Silva, o Governo, “de uma forma inteligente”, decidiu penalizar as empresas com excesso de rotatividade de trabalhadores ao criar uma taxa anual sobre os empregadores que, a ser aplicada, “só o será no final de 2019”.
“Isto não tem a ver com o ciclo eleitoral, tem a ver com o espaço temporal de um ano e meio, quase dois anos, de dar tempo às empresas para alterarem o seu comportamento”, defende.
Em relação à negociação coletiva, Carlos Silva lembrou que a UGT apoia a manutenção da norma da caducidade, mas esta “não pode servir como arma de arremesso e de intimidação dos sindicatos e dos trabalhadores”, pelo que tem de ser fundamentada e com regras.
Apesar das confederações patronais recusarem alterações à lei laboral e a CGTP considerar as propostas do Governo insuficientes, Carlos Silva diz que “o princípio do compromisso” é chegar a um entendimento.
“É como na diplomacia: se ninguém acredita que não é possível haver um momento de pacificação entre os Estados Unidos e a Rússia, por que é que também nós devemos entender que a Concertação é trazer para a mesa dos parceiros sociais o princípio da habilidade diplomática. Temos de nos entender”, afirma.
“O documento que o Governo apresentou é muito importante para o deixarmos cair. Eu acho que os parceiros sociais têm de ter a sagacidade e a perspicácia de pegar no documento e percebermos todos até onde é que podemos ir dentro das nossas áreas de intervenção”, concluiu o líder da UGT.
Quanto à segunda fase da revisão das reformas antecipadas, Carlos Silva diz que ainda não viu qualquer proposta do Governo, apesar de a matéria já estar a ser discutida com os partidos que sustentam a maioria parlamentar.
"A segunda fase [das reformas antecipadas] não foi levada à Concertação Social, não foi levada aos parceiros. Portanto, estar a pronunciar-me sobre aquilo que o Governo apresentou aos partidos, não conheço", diz, lembrando que a UGT defende o fim do fator de sustentabilidade (que corta 14,5% da pensão) aos 60 anos de idade e 40 de descontos.
Carlos Silva acredita que o Governo apresente aos parceiros sociais uma proposta sobre a segunda fase das reformas antecipadas no primeiro semestre do ano, embora o executivo não se tenha comprometido com uma data concreta na Concertação Social.
Carlos Silva tomou posse como secretário-geral da UGT em 21 de abril de 2013, substituindo João Proença, para um mandato de quatro anos, tendo sido reeleito em março de 2017 para um segundo mandato.
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