Até 2011, o Sudão era o maior país de África em extensão territorial. Depois de 2011, com a independência do Sudão do Sul, que é atualmente o país mais jovem do mundo, o Sudão apenas foi ultrapassado na dimensão pela Argélia e pela República Democrática do Congo. Faz fronteira a norte com o Egipto e é também  dividido ao meio pelo Rio Nilo. Até meados do século XX, vivia na esfera colonial egípcio-britânica e em 1956 obteve a independência.

Desde então que este país, um dos maiores de África e do mundo árabe, rico em petróleo e com uma pobreza que leva mais de um quarto da população a passar fome, atravessa sucessivos conflitos étnicos e guerras civis, protagonizou um dos piores genocídios do século XXI na região do Darfur e teve o seu presidente de então, Omar Hassan al-Bashir, com mandado de prisão emitido pelo tribunal Penal Internacional, em 2009, por crimes de guerra e contra a humanidade. Seria deposto 10 anos depois, em 2019, suceder-lhe-ia um governo provisório e, em 2021, um golpe de Estado daria origem à atual configuração do poder.

Esta manhã, a capital do país, Cartum, acordou com o som de  explosões e disparos de armas pesadas e leves.

Os acontecimentos da manhã anteciparam um dia marcado por declarações nas várias frentes internacionais, da ONU, através de António Guterres, à Liga Árabe, que se ofereceu para mediar o conflito. O Governo português fez saber que, até à data, não há registo de portugueses afetados no conflito. Já ao final do dia, o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, anunciaram a coordenação de  esforços para reduzir os conflitos no Sudão, inclusive o aumento da violência no país.

Este foi, uma vez mais, um conflito que se fez anunciar. Há exatamente uma semana, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, deu conta da sua preocupação, depois de ter falhado a assinatura de um acordo  para relançar a transição democrática após o golpe de 2021, que deveria ter tido lugar na quinta-feira, dia 6 de abril. Tratava-se de um acordo para o regresso à partilha do poder civil-militar, condição prévia para o reinício da ajuda internacional ao país.

O que divide um dos maiores e ao mesmo tempo mais pobres países de África é uma disputa de poder entre dois homens, o general Abdel Fattah al-Burhane, chefe do exército e autor do golpe de 25 de outubro de 2021, e o seu segundo no comando, o general Mohamed Hamdane Daglo, conhecido como “Hemedti”, chefe da ex-milícia da guerra do Darfur.

Os habitantes de Cartum estão entrincheirados nas suas casas na antecâmara de mais uma guerra. O Sindicato dos Médicos Sudaneses, que tem sido uma fonte regular das organizações internacionais nos conflitos que se sucedem no país, refere "um grande número de mortes e um grande número de feridos que ainda estão presos devido aos confrontos". Quase 70 anos depois da independência, a paz teima em não chegar.