A Amnistia Internacional Portugal e a Kolbeh — Comunidade Iraniana Portuguesa, organizadores do evento, convidaram várias personalidades a participar na vigília, nomeadamente o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, mas nenhum apareceu, apenas o partido Iniciativa Liberal (IL) se fez representar.
“Os iranianos não parecem ser humanos como outros, aos olhos da comunidade internacional, é incompreensível”, lamentou em declarações à Lusa uma das representantes da Kolbeh, Tina Sabounati, lembrando que Portugal viveu em ditadura e, por isso, deveria ser mais sensível a esta causa.
Na sua opinião, a razão do desinteresse pela defesa da liberdade no Irão é o facto de não pertencerem à União Europeia e o apoio que falta aos iranianos contrasta com o que tem sido dado pelos políticos aos ucranianos, vítimas da ofensiva militar lançada pela Rússia.
O governo iraniano anunciou, na quinta-feira, a primeira execução relacionada com os protestos no país, que começaram há três meses, a de um jovem de 23 anos, Mohsen Shekari, cujo crime, segundo Tina Sabounati, foi apenas protestar.
“Estamos a apelar à comunidade internacional para os países com representação no Irão enviarem observadores para os julgamentos” dos manifestantes, afirmou à Lusa Paulo Fonte, diretor de campanhas da Amnistia Internacional, lembrando que Shekari foi executado sem acesso a um advogado da sua escolha e num “julgamento de fachada”, realizado pelo Tribunal Revolucionário.
Os cerca de 70 participantes da vigília, quase todos iranianos, homens e mulheres, seguravam cartazes apelando ao “fim da crise de impunidade no Irão” e à proteção dos direitos humanos, e no chão colocaram t-shirts brancas manchadas com sangue e um cartaz onde se lia “juntos somos mais fortes”, acompanhado de fotografias de iranianos mortos nos últimos anos em protestos.
Vários iranianos presentes na vigília deram os seus testemunhos da repressão do Irão, rodeados de velas acesas que contrastavam com as luzes natalícias que iluminam a Praça do Município.
A onda de manifestações sem precedentes no Irão começou por causa da morte de Mahsa Amini, de 22 anos, violentamente agredida e detida na rua em Teerão a 13 de setembro pela polícia da moralidade (responsável pelo cumprimento do rígido código de vestuário feminino), porque embora envergasse o obrigatório ‘hijab’ (véu islâmico) este deixava à vista parte do seu cabelo. Horas depois de detida, foi transportada em coma para um hospital, onde morreria três dias depois.
Os protestos assumiram ainda maiores dimensões e evoluíram, reivindicando agora o fim do regime teocrático designado como “República Islâmica”, fundado em 1979 pelo ayatollah Ruhollah Khomeini, autoridade religiosa xiita iraniana e líder espiritual e político da revolução que nesse ano depôs o xá do Irão, Mohammad Reza Pahlavi.
Em quase três meses de protestos, morreram mais de 500 pessoas e pelo menos 15.000 foram detidas, segundo a ONG Iran Human Rights.
As autoridades iranianas estimaram em 300 o número de mortos, 50 dos quais membros das forças de segurança do país.
Após quase três meses de contestação social, foi anunciada, de forma algo confusa, a dissolução da polícia da moralidade, responsável pela detenção e morte de Amini, mas o anúncio não acalmou a situação, agora agravada pela execução do primeiro manifestante.
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