André Ventura discursava antes de apresentar o comunicador e empresário Nuno Graciano, “para vencer”, junto ao Padrão dos Descobrimentos, perante várias dezenas de dirigentes, apoiantes ou meros transeuntes em exercício físico na zona ribeirinha de Lisboa ocidental.

“Aqui, na Câmara de Lisboa, onde tinham pensado que nos isolavam, que nos deixariam de fora da solução de disputa, com um candidato que mais não tem feito do que destruir a idade, como é o caso Fernando Medina [atual presidente do município], ou com um outro candidato [o ex-comissário europeu e social-democrata Carlos Moedas] que daria para gerir um banco, mas nunca para gerir a cidade de Lisboa”, disse o deputado único do partido da extrema-direita parlamentar.

O líder do Chega defendeu que a candidatura em Lisboa “é a expressão maior de como o politicamente correto nunca amordaçará” o seu partido e de “como o sistema nunca” o “calará”.

“Quando todos pensam que nos fazem um cordão sanitário, temos a força para romper e dizer que no Chega mandamos nós”, vincou Ventura.

Segundo o presidente do partido populista, Graciano é “um lutador, alguém que sabe que estar em cima pode ser uma passagem para voltar a estar em baixo, que sabe que, mesmo nos momentos mais duros, se não lutarmos, não temos nada porque ninguém nos dá nada de graça”.

Após o discurso de Ventura e antes da chegada ao microfone da instalação sonora do candidato, alguns apoiantes jovens gritaram: “Nuno, avança, com toda a confiança”.

Graciano diz que Lisboa tem "problemas muito graves" e precisa de "abanão"

"Lisboa tem vários problemas muito graves. Há um abanão que, de facto, esta cidade necessita", disse Nuno Graciano perante perto de uma centena de apoiantes e militantes do partido.

“A política autárquica é uma política de proximidade, é uma política onde nós podemos de facto conhecer, onde eu quero conhecer e vou conhecer a dona Joaquina, o tio Manuel, o jovem Jorge. Quero conhecer toda a gente. Vou calcorrear a cidade toda”, salientou Nuno Graciano.

O cabeça de lista do Chega à autarquia lisboeta disse, em tom de brincadeira, que “o único patrocínio” que vai pedir a Ventura “é para sapatos”, para poder andar por toda a cidade.

“Quero conhecer as pessoas, quero entrar na casa das pessoas”, reforçou o candidato ao município de Lisboa, atualmente presidido por Fernando Medina (PS).

“Quanto ao projeto político para a Câmara de Lisboa, é o no que nós neste momento estamos a trabalhar, é cedo para falarmos, mas há coisas que me chocam”, realçou, dando com exemplos o decréscimo do número de habitantes na cidade e o preço dos quartos para estudantes.

Relativamente aos resultados que pretende alcançar nas eleições autárquicas, que deverão realizar-se entre 22 de setembro e 14 de outubro, Nuno Graciano disse apenas que o “objetivo é trabalhar rigorosamente todos os dias para fazer de Lisboa uma cidade melhor”.

Durante o seu discurso, o agora candidato do partido populista, que já foi protagonista de diversos programas de entretenimento na TVI, SIC e CMtv, referiu que no Chega encontrou democracia e defendeu que “a liberdade não é a mesma coisa que libertinagem”, aludindo aos ataques de ódio que diz ter sofrido nos últimos dias.

“A libertinagem é, ao fim de quatro ou cinco dias de ser anunciado o meu nome para a Câmara de Lisboa, haver um ‘hashtag’ ‘Graciano bom é Graciano morto’. Isto é libertinagem. Isto é um excesso de liberdade que é dado às pessoas”, sustentou.

No fim da iniciativa, onde apesar do uso geral de máscara não foram respeitadas as distâncias de segurança estabelecidas devido à pandemia e onde algumas pessoas trocaram beijinhos, foi cantado o hino.

Nuno Graciano tem 52 anos e, após uma carreira de mais de 20 anos nos ecrãs portugueses, enveredou, há cerca de cinco anos, pela vida de empresário, com uma marca de queijo regional.

O socialista Fernando Medina foi “n.º 2” do seu antecessor, o atual primeiro-ministro, António Costa, desde 2013, ocupando depois a vaga deixada pelo futuro líder do PS em 2015. Medina ganhou as eleições autárquicas de 2017, mas perdeu a maioria absoluta de que gozava e ainda não assumiu a recandidatura.

Na capital, até agora, registou-se o anúncio de candidatura de Carlos Moedas, apoiado por PSD, CDS-PP, Aliança, PPM, MPT, e a Iniciativa Liberal prometeu estar autonomamente na “corrida”, após a sua primeira opção, o empresário Miguel Quintas, desistir prematuramente por razões pessoais.

A deputada bloquista Beatriz Dias está pré-aprovada pela concelhia “alfacinha” do BE como cabeça-de-lista. O PCP ainda não anunciou candidato, mas o dirigente comunista João Ferreira, já vereador e eurodeputado pela coligação com “Os Verdes” (CDU), mereceu renovados elogios do secretário-geral do partido, Jerónimo de Sousa.

As eleições para os cidadãos escolherem a configuração de executivos municipais, assembleias locais e juntas de freguesia, têm de ser marcadas pelo Governo para entre 22 de setembro e 14 de outubro.

Em Portugal há 308 municípios (278 no continente, 19 nos Açores e 11 na Madeira), e 3.092 juntas de freguesia (2.882 no continente, 156 nos Açores e 54 na Madeira).