Pela manhã, sobreviventes e familiares das vítimas assistiram a uma cerimónia religiosa na Abadia de Westminster, com a presença, entre outras, da ex-primeira-ministra Theresa May e do presidente da Câmara de Londres Sadiq Khan.
A 14 de junho de 2017, um congelador com defeito sofreu um curto-circuito e provocou um incêndio que se espalhou rapidamente pela torre, localizada junto ao bairro nobre de North Kensington, em Londres, devido ao revestimento de fachada altamente inflamável, feito de chapas de alumínio e polietileno.
Numa tragédia que chocou o país, 71 moradores perderam a vida e um parto resultou em nado-morto. Dezenas de famílias ficaram desalojadas, deslocadas por anos para acomodações temporárias.
Cinco anos depois, três delas permanecem sem moradia permanente e nenhuma acusação criminal foi apresentada, porque a polícia decidiu aguardar pelo fim de uma investigação que pode durar até 2023.
À tarde, a associação de vítimas organiza uma missa ecuménica, que contará com a presença do príncipe William, segundo na linha de sucessão ao trono britânico, e da sua esposa Kate. O duque e a duquesa de Cambridge também participarão numa oferenda de flores em frente à torre, diante da qual encontrar-se-ão com sobreviventes e familiares.
Entre eles estará o português Tiago Alves, 25 anos, que morava com os pais e a irmã no 13º andar e estava a ver televisão quando o fogo começou de madrugada."O meu pai abriu a porta e gritou que tínhamos que nos vestir e sair", embora a ordem oficial fosse ficar dentro e esperar os socorristas, lembrou.
"Descemos a correr, mas o meu pai não parava de bater à porta de todos os moradores do 13º andar", contou.
Alves já notava a falta de manutenção de um prédio administrado pelo governo local do distrito londrino de Kensington e Chelsea e o contraste com as luxuosas casas próprias da área.
"Uma pessoa atravessava a rua e via a diferença entre um prédio de habitação social e uma casa de 5 milhões de libras. O governo tinha um problema de atitude conosco. Para eles, éramos apenas pessoas a viver numa habitação social", disse ele à Big Issue.
Agora, Alves e sua família militam "para que algo assim não volte a acontecer". "A única maneira de obter justiça é continuar a nossa luta, continuar a nossa campanha por mudança", declarou à agência de notícias britânica PA.
As vítimas "enfrentaram a negação constante dos responsáveis de que Grenfell estava coberto por um revestimento tão inflamável quanto gasolina", denuncia Matt Wrack, secretário-geral do sindicato dos bombeiros.
Os socorristas foram criticados pelo seu atraso e a sua resposta ao incêndio, mas muitos deles, que dizem ainda estar traumatizados com o que aconteceu, devem participar numa marcha silenciosa organizada após a missa ecuménica.
"Eles aguentaram a espera por acusações criminais que continuam até hoje. Inspiram-nos a todos com a sua luta implacável por justiça e continuamos solidários com eles a cada passo do caminho", acrescentou Wrack, referindo-se aos moradores.
Num país onde todas as estruturas de governação local devem fornecer um certo número de moradias sociais, cerca de 640.000 pessoas vivem em prédios que mantêm o mesmo revestimento altamente inflamável nas suas fachadas, segundo dados do jornal The Times.
Incapaz de arcar com o alto custo de remover o revestimento, os moradores não apenas se encontram numa situação perigosa, como viram as suas parcelas de seguro aumentarem e, em alguns casos, precisam de pagar por um serviço altamente dispendioso de resposta contra incêndios 24 horas por dia.
Além disso, a maioria não pode vender ou alugar os seus apartamentos - que os ocupantes podem comprar - porque os bancos não estão dispostos a conceder hipotecas para esses imóveis.
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