Os bombeiros não têm a certeza de conseguir conter o fogo e a prioridade é manter a estrutura intacta.

O silêncio imperava nas margens do Rio Sena enquanto centenas de pessoas aguardavam para conseguir um vislumbre da Catedral de Notre-Dame em chamas. Algumas pessoas levavam os braços à cabeça, outras diziam que os polícias estavam a mentir quando informavam que não era possível atravessar a Pont Neuf por causa do incêndio.

Frederique e o seu filho Remy estavam a vir do trabalho e da escola quando se aperceberam da comoção no símbolo de Paris.

“Decidimos parar para ver o que se passava. Estamos aqui há uma hora. Está mesmo a arder e é muito triste, é um monumento muito importante e um símbolo de Paris”, disse Frederique, que é parisiense e vive no 19.º bairro, no norte da cidade.

Emocionada, preferiu não continuar a falar.

Para o local acorreram cerca de 400 bombeiros e vários polícias para fazer a segurança da pequena ilha onde se situa a centenária catedral.

No entanto, nas imediações da catedral, o tempo de resposta dos bombeiros já está a ser questionado. “Entraram aqui clientes a dizer que estava tudo a arder, eu fui espreitar ao fundo da rua e vi realmente o fumo. As pessoas começaram a sair daqui, os polícias chegaram, mas os bombeiros ainda demoraram uma boa meia-hora a chegar”, disse Francis, responsável de um restaurante nas imediações da Notre-Dame.

Tudo indica que o incêndio terá tido origem nos trabalhos de restauro que estavam a decorrer na catedral e a prefeitura de Paris já abriu um inquérito às causas e à resposta das autoridades a este incêndio.

Hermano Sanches Ruivo, vereador da Câmara de Paris para os Assuntos Europeus, disse à Lusa que todos os processos foram “respeitados” e, por isso, não há feridos a lamentar.

“Há muitas coisas que vão ser ditas, mas há processos que estão estabelecidos em relação à Notre-Dame. A primeira preocupação são as pessoas. Não temos indicação de nenhum desrespeito pelos processos, os processos foram respeitados e não ficou nenhuma pessoa ferida”, afirmou o eleito lusodescendente local, em declarações à agência Lusa, relembrando que o monumento é o mais visitado de Paris e começou a arder quando ainda decorriam visitas.

Sem conhecer ainda a extensão total dos estragos, mas sabendo desde já que são “de grande dimensão”, segundo foi dito pela Câmara de Paris aos jornalistas ao cair da noite, a prioridade dos bombeiros de Paris que ainda estão a combater a chamas é manter a integridade da estrutura, mesmo se o pináculo da catedral colapsou.

Quanto ao resto, os bombeiros não asseguram neste momento que será possível controlar completamente o incêndio.

As cinzas negras cobrem a praça João Paulo II, que fica em frente à catedral, pintando o tradicional pavimento cinzento de Paris de negro.

Para os comerciantes à volta de Notre-Dame, a preocupação é também económica.

“Eu nem tive tempo de ver nada. Os turistas começaram a ser retirados e nem vi. Isto vai ter um grande impacto na nossa atividade, vivemos da Notre-Dame, ainda por cima nesta altura da Páscoa”, relatou Rajid, que tem um pequeno café onde serve refeições rápidas e crepes.

O incêndio na catedral de Notre-Dame de Paris começou cerca das 18:50 locais (17:50 em Portugal) e atingiu toda a estrutura do edifício, segundo o porta-voz do monumento, André Finot.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, que tinha um discurso à nação agendado para esta noite, centrado em medidas de revitalização económica, adiou a comunicação em consequência do incêndio.

“Notre-Dame de Paris consumida pelas chamas. Emoção de uma nação inteira. Pensada para todos os católicos e para todos os franceses. Como todos os nossos compatriotas, estou triste esta noite por ver a arder uma parte de nós”, escreveu Macron na rede social ‘Twitter’, antes de se dirigir para o local.

Entre as primeiras mensagens de pesar e de solidariedade contam-se as dos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, bem como dos chefes de governo da Alemanha, Angela Merkel, e de Espanha, Pedro Sanchéz.

A catedral de Notre-Dame foi edificada em 1163 e iniciou a função religiosa em 1182, embora os trabalhos de construção tenham prosseguido até 1345.

*Por Catarina Falcão, da agência Lusa