O sul e o leste da Ucrânia tornaram-se alvos preferenciais da ofensiva russa que este domingo completa dois meses. Durante este período, mais de cinco milhões de ucranianos deixaram o país e sete milhões transformaram-se em deslocados internos, o maior êxodo na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
O exército russo anunciou esta manhã que realizou 1.908 ataques com artilharia e mísseis nas últimas 24 horas.
"Estão bombardear-nos literalmente a toda a hora", escreveu o governador da região oriental de Lugansk, Sergei Gaidai, no Telegram.
Gaidai deu queixa de dois mortos e dois feridos em Zolote, após disparos com artilharia russa e pediu às pessoas que vivem perto da linha de frente para "saírem desse lugar, se tiverem a oportunidade".
O governador da região oriental de Kharkiv, Oleg Sinegubov, assegurou no Telegram que as forças ucranianas retomaram três povoados próximos à fronteira com a Rússia depois de "ferozes batalhas".
Ontem, o subcomandante das Forças do Distrito Militar do centro da Rússia, Rustam Minnekayev, afirmou que Moscovo prioriza agora "estabelecer um controle total sobre o Donbass e o sul da Ucrânia".
Desta forma, acrescentou, será estabelecido "um corredor terrestre" entre os territórios separatistas pró-russos de Donetsk e Lugansk, na região oriental do Donbass, com a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.
A conquista do sul da Ucrânia também permitirá ajudar os separatistas da região moldava da Transnístria, "onde também observamos casos de opressão da população de língua russa", completou o militar, cuja declaração levantou preocupações na Moldávia.
Ataques em Odessa
Pelo menos oito pessoas morreram, e 18 ficaram feridas no bombardeamento russo da cidade portuária de Odessa, no sul da Ucrânia, este sábado.
Inicialmente, o chefe de gabinete da Presidência ucraniana, Andrii Yermak, fez saber por Telegram que o número de óbitos situava-se nos cinco. "Odessa: cinco ucranianos mortos e 18 feridos. E são apenas os que conseguimos encontrar" até agora, anunciou Yermak. "É provável que o número seja maior", completou, acrescentando que, entre os mortos, está "um bebé de três meses".
No entanto, foi o próprio Zelensky a adiantar mais tarde que um novo balanço apontava para oito mortes.
No Facebook, a Força Aérea Ucraniana destacou que as forças russas dispararam uma série de mísseis de bombardeiros Tu-95 sobre o Mar Cáspio.
Dois mísseis atingiram uma instalação militar e dois edifícios residenciais. Outros dois foram destruídos pelo sistema de defesa antiaérea, relatou a mesma fonte.
"O único objetivo dos ataques de mísseis russos contra Odessa é o terror", denunciou o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, no Twitter.
Kuleba pediu a construção de "um muro entre a civilização e os bárbaros que atacam cidades pacíficas com mísseis".
Esta sexta-feira, a empresa norte-americana de imagens de satélite Maxar Technologies divulgou imagens que alegadamente mostram duas grandes valas comuns nas cidades de Manhush e Vynohradne.
Estas revelações ocorreram no mesmo dia em que a ONU alertou sobre possíveis "crimes de guerra" russos na Ucrânia. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, viaja para Moscovo e Kiev na próxima semana.
Cidade-fantasma
Após dois meses de fogo sustentado pela artilharia russa, o povoado de Lysychansk, a somente 14 quilómetros das forças terrestres russas, tornou-se numa cidade-fantasma. Somente um pequeno mercado coberto no centro da cidade continua a funcionar, proporcionando alimentos e outros mantimentos aos habitantes que permaneceram no vilarejo.
"Isto vai acabar mal", disse uma senhora que fazia fila para comprar verduras, temendo um bombardeamento similar ao de 8 de abril que matou mais de 50 pessoas na estação ferroviária de Kramatorsk.
Na madrugada deste sábado, os canais de informação ucranianos não noticiaram a ativação de qualquer alerta de bombardeamento em todo país, algo incomum neste conflito. Apesar disso, não foi observada uma queda considerável no número de ataques reivindicados pelo Exército russo.
Em Kharkiv, por exemplo, os habitantes relataram terem vivido mais uma noite de terror. "Não conseguimos dormir. Passámos a noite inteira num corredor", contou Yelena, uma mãe de família, à AFP.
Com ou sem trégua, o conflito ameaça prolongar-se. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, considerou "realista" estimar que esta guerra vá durar até o fim de 2023. E os Estados Unidos convidaram 40 países para uma reunião na Alemanha, na próxima terça-feira, para discutir as necessidades de segurança de longo prazo da Ucrânia.
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