“Já chegou o momento de o mundo, sobretudo a Comunidade Europeia, se pronunciar de maneira contundente, porque esta gente não tem vergonha, não tem escrúpulos, não tem dignidade nenhuma”, declarou Maria José Castro à agência Lusa e à Antena 1, em Caracas, pouco antes de participar numa nova marcha de protesto contra o Governo do Presidente Nicolás Maduro.

“Esta ditadura não tem poder, não tem povo, não tem dinheiro, nem poder para manter-se. Eles mantêm-se sobre a mentira e a ameaça”, vincou, sublinhando poder “garantir que na Venezuela pelo menos 80% dos militares não concordam” com o regime.

A portuguesa, que já chegou a ser detida pelas autoridades, insiste que “não tem medo” e que a repressão “é uma obra de teatro para atemorizar” a população.

“A Venezuela é um teatro. Há um poder corrupto, tão corrupto que prefere morrer e matar em vez de se entregarem, mas irão direto para a cadeia”, disse a portuguesa, que apelou aos jornalistas para irem para a linha da frente das manifestações, vincando “Para onde se dá o combate, à frente da guerra. Têm que ir lá e ver. Aí há jovens dispostos a dar a vida. Estão descalços, gente pobre, miúdos da escola, alguns velhinhos, país e mães que estão vendo o país perder-se”.

Questionada sobre se não sentia medo respondeu que “não” e que é preciso derrotar “o mal”.

“Porque teria medo, se este país tem-me dado tudo? Deus é a minha base, quem me deu os princípios morais para luta e ser melhor pessoa cada dia e isso é que ensino às minhas filhas (…). Isto terminará quando toda a Venezuela se una”, frisou.

Para esta portuguesa, até os criminosos são pessoas de fé na Venezuela, como “não se consegue em nenhuma parte do mundo”.

“O venezuelano é uma pessoa de fé, um diamante em bruto que temos que polir para dar luz à Venezuela. As pessoas têm que continuar a lutar para que surja uma Venezuela nova, com outras bases morais, com dignidade e com essa fé que mantém este país em pé”, frisou.

Por outro lado, explicou que no dia em que travou o avanço de um carro de combate militar estava marchando com milhares de pessoas.

“Nunca tinha visto uma coisa assim [viaturas militares] e vejo rapazes a fugir, preparando-se para enfrentar aquele poder, sem armas, apenas com um pano tapando a boca e pedras nas mãos. Pensei que tinha que ir com eles, não podia fazer outra coisa. Na metade do percurso ajoelhei-me e encomendei-me a Deus, o meu guia e a minha força. Rezei, levantei-me e fui falar com os militares, pedi-lhes não atacassem os rapazes, que tinham direito a ser ouvidos”, relatou.

No entanto, as forças de segurança “não querem ouvir o povo falar, não querem deixar chegar até a um organismo do Estado, nem ao Ministério Público, nem à Controladoria, nem a um ministério, nada de nada”, lamentou.

A portuguesa explicou que ouviu os militares darem ordem para atacar com força, olhou e viu pessoas em cadeiras de rodas, idosas, pelo que não podia “permitir” que atacassem “cidadãos desarmados”, que “apenas pediam respeito pelos seus direitos, que apenas querem crescer e evoluir”.

“Fui a correr e coloquei-me frente a uma ‘tanqueta’ (viatura militar) e disse ao motorista que eu era um soldado de Deus, não vou fugir daqui e ele disse-me: afaste-se senhora, afaste-se! Eu respondi, não vou afastar-me”, explicou.

A portuguesa disse que já aprendeu a enfrentar o gás lacrimogéneo e que tem uma técnica própria.

“Respiro profundamente e retenho a respiração mais ou menos um minuto, que é o tempo que dura no ar, depois vou soltando o ar e uso um paninho. O que mais me afeta são os olhos e para isso também tenho o meu segredo”, relatou.