Se há prova de que os tempos são realmente excecionais, a última madrugada foi só mais um caso concreto disso mesmo. Ao vírus, o desporto não lhe escapa. E a política também não. Ou não tivesse tido lugar a primeira convenção nacional de um partido norte-americano de forma virtual. Sem arenas, estádios ou grandes espaços pintados com as cores da América e do partido. Tudo digital.
É um aspecto importante porque estas convenções funcionam como ponto transitório para as eleições, uma vez que os partidos nomeiam oficialmente o candidato que vão endossar. Neste caso em concreto, a convenção democrata, que arrancou na segunda-feira na cidade de Milwaukee, no estado do Wisconsin, e que decorre até quinta-feira, vai nomear oficialmente Joe Biden e Kamala Harris com as caras do partido.
Não houve multidões para galvanizar, mas assemelhou-se a um talk-show, tanto que atriz Eva Longoria foi a anfitriã que abriu o painel. Por causa da transmissão, dos vídeos gravados, das mensagens transmitidas em alta definição mas que parecem criadas para um canal de YouTube e não para uma transmissão nacional para ganhar eleitores.
Mas se há algo a retirar da noite de ontem é que os democratas não se coibiram de atacar Trump e as suas políticas relativamente ao combate à pandemia ou a falta de capacidade para unir uma nação em torno dos protestos contra a injustiça racial. Na linha da frente desta mensagem, a estrela da noite foi a ex-primeira-dama, Michelle Obama, que não poupou Donald Trump.
"Mais de 150 mil pessoas morreram e a nossa economia está num caos por causa de um vírus que este Presidente desvalorizou durante demasiado tempo", acusou a mulher de Barack de Obama. (Contudo, não ficaria sem resposta. Hoje, no Twitter, o presidente republicano alertou Michelle Obama que não seria Presidente se não fosse "pelo trabalho feito pelo marido dela".)
Depois, enfatizou que as coisas estão mal, mas que podem correr ainda pior. Aliás, foi mais longe e quase que aplicou in loco a Lei de Murphy na sua mensagem, ao dizer que se os norte-americanos não votarem em Joe Biden ("como se as nossas vidas dependessem disso") as coisas vão, efetivamente, piorar. E é por isso que Trump é "o Presidente errado" para os Estados Unidos.
No entanto, não esteve sozinha. Na noite de abertura da Convenção Nacional Democrata, Bernie Sanders voltou a decalcar a falta de noção e capacidade de liderança do presidente republicano no combate ao coronavírus, a quem também acusou de não ter capacidade para dar uma resposta às mudanças climáticas. "Nero tocava enquanto Roma se incendiava, Trump joga golfe", criticou o senador.
A família de George Floyd também enviou uma mensagem em vídeo, assim como o Governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, que também contribuiu para a primeira noite (de quatro) que vão coroar Joe Biden. Cuomo, político que ganhou popularidade nos últimos meses por falar abertamente sobre a luta contra a covid-19 num dos estados mais afetados, atacou novamente o modelo de resposta de Trump à pandemia, explicando que entre "toda a dor e lágrimas, a nossa maneira [de combate ao vírus] resultou".
São tempos diferentes mas a realidade é que não tarda há meio ano que o teletrabalho foi iniciado e as plataformas virtuais são a resposta para este tipo de eventos, como aconteceu há pouco tempo com a Collision, a prima da nossa conhecida Web Summit. A convenção democrata não é exceção.
A agência Lusa escreveu que "o mundo virtual é o novo campo de batalha política". E os democratas atacam o eleitorado com podcast ou uma app ("Vote Joe"), instrumentos que, entre outros, se tornaram mais importantes do que nunca na campanha de Joe Biden, que aos 77 anos, concorre a Presidente.
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