"Recuso conformar-me com a ideia de que a Europa está condenada. Devemos empenhar-nos em não deixar de procurar salvar aquilo que foi a criação mais importante que o ser humano produziu nos últimos 60 anos e que garantiu paz e prosperidade. A Europa que queremos deve ser a mais ampla, participada e democraticamente controlada possível, mas que não seja uma fuga para a frente nem que dê um passo maior do que a perna", afirmou.

O chefe de Governo participava no debate parlamentar de preparação para o próximo Conselho Europeu, que decorre entre quinta e sexta-feira em Bruxelas, e focou os cinco cenários traçados pelo documento da instituição liderada pelo luxemburguês Jean-Claude Juncker, que vão de um "mero retrocesso ao mercado único", passando pela "geometria variável" [diferentes opções para diferentes países] até ao pré-federalismo.

"Não passamos um cheque em branco ao Livro Branco. Participaremos de forma construtiva porque não desistimos de salvar a Europa deste caminho para o abismo", continuou, classificando como um "grande elefante na sala" a necessidade de completar a União Económica e Monetária (UEM).

António Costa destacou a perspetiva de progresso, contemplada nos cenários três, quatro e cinco, entre a geometria variável e o aprofundamento, defendendo que "o futuro deve combinar o melhor de cada um e evitar o pior que todos têm, desejavelmente".

"A geometria variável pode ser um mal menor, mas é sempre um perigo porque tem um efeito potencialmente dissolvente. Há Estados que não querem avançar e que querem mesmo recuar. Prefiro, obviamente, que haja uma porta pela qual possamos avançar todos. Não podendo todos, devem poder avançar os que querem", disse.

O deputado do PSD Miguel Morgado concluiu que a próxima reunião de chefes de Estado e de Governo da União Europeia "é só para cumprir calendário", pois "as ideias e as conclusões estão previamente tomadas" e defendeu uma "integração realista" e a urgência de completar a União Bancária.

"O Governo [português] anda a reunir com países do Sul e os três maiores foram logo a correr para o diretório alemão. A Europa a várias velocidades já existe. Uns Estados-membros têm euro, outros estão no espaço Schengen, cláusulas de saída... Há uma Europa 'a la carte'", afirmou, referindo-se à recente cimeira dos países do Sul, em Lisboa, por contraponto ao posterior encontro, em Paris, dos líderes de França, Alemanha, Espanha e Itália.

A líder do BE, Catarina Martins, assegurou que "já ninguém leva a sério as promessas de renascimento da Europa".

"Juncker viu que o motor estava avariado e decidiu falar da caixa de velocidades", criticou, classificando a situação de caricata, numa Europa que se prepara para "acabar com os fundos de coesão" e tornar-se a "Europa da divergência", rendida ao discurso do presidente norte-americano, Donald Trump.

O deputado do CDS-PP Mota Soares vincou que "não se pode adiar decisões fundamentais, referindo igualmente o "mecanismo de supervisão dos depósitos" da União Bancária porque "a Europa "precisa de alinhar as suas expectativas com a realidade".

"Este rumo não tem futuro. Podem lançar-se Livros Brancos e fazer-se cimeiras de poderosos, mas não se resolverão os problemas dos povos, menos ainda a várias velocidades e com pelotões da frente", condenou o comunista João Oliveira para quem falta um sexto cenário - o da libertação da submissão ao euro e reconquista da soberania nacional.

A líder parlamentar ecologista Heloísa Apolónia lamentou os "cenários distantes da realidade e dos problemas concretos dos cidadãos europeus", com "componentes de militarismo e de securitarismo que nada diz às pessoas".

"A União Europeia deve avançar. Não é impossível que haja geometrias variáveis com quem quiser ir mais longe em certas áreas. Essas geometrias variáveis não podem ser a regra nem obedecer a uma simples lógica de diretórios ou de exclusão de Estados-membros só porque são médios, pequenos, periféricos ou têm dificuldades", declarou o socialista Vitalino Canas, partilhando o "otimismo" do primeiro-ministro sobre o futuro da Europa.