Disposta na Praça da República desde a madrugada do passado dia 25 de Abril, essa instalação exibe 41 flores concebidas em esponja colorida por artesãos locais, cada uma delas com cerca de dois metros de altura e representando uma das mortes que nesse concelho do distrito de Aveiro já foram atribuídas ao vírus SARS-CoV-2 desde o início da pandemia.
Após uma visita ao hospital de campanha instalado na Arena Dolce Vita e depois da passagem por um fabricante do pão-de-ló local, Marcelo Rebelo de Sousa não encontrou nada que se parecesse com as multidões que o costumam acompanhar neste tipo de iniciativas, mas recebeu aplausos dos poucos populares que com ele se cruzaram no caminho.
Uma das munícipes que parou para o cumprimentar era parente de uma funcionária do próprio gabinete da Presidência e isso proporcionou uma breve e animada troca de impressões sobre a simpatia da Manuela conhecida de ambos. Outra residente revelou-se neta da primeira vítima mortal de covid-19 em Ovar e esperava Marcelo junto à Casa-Museu Júlio Dinis para lhe agradecer o apoio emocional que esse lhe conferiu logo após o óbito da avó.
Daniela Sousa Valente, neta da referida vítima, já tinha sido referida por Marcelo num discurso ao final da tarde no hospital de campanha local, quando ele mencionou a proximidade que sentira para com a população vareira durante o cerco sanitário, à medida que contactava à distância com diferentes entidades para acompanhar a evolução epidemiológica da doença.
Foi nesse contexto, aliás, que o Presidente da República começou por contactar Daniela, enquanto familiar da primeira vítima mortal de covid-19 no município. Isso resultou em várias mensagens escritas e chamadas telefónicas ao longo dos dias seguintes, o que a cidadã vareira reconheceu hoje tê-la ajudado a superar um momento difícil.
Antes de confessar à Lusa que "só agora é que a família está a começar a fazer o luto", Daniela repetiu, por isso, o convite para Marcelo assistir em julho à missa a celebrar em memória da sua falecida avó, o que ele já se dispusera a fazer semanas antes, por telefone, e hoje confirmou, estendo o convite ao Primeiro-Ministro, António Costa.
Perante os jornalistas, Daniela também pediu que se acabassem certas "mentiras" que vêm prejudicando a imagem da população de Ovar e apelou a Marcelo para que insista na necessidade de a população manter o devido distanciamento social de forma a reduz novos riscos de contaminação. Assumia ter com isso dois objetivos: "Que se volte à normalidade - e que volte o nosso Carnaval".
Daniela não esteve lá, mas o Presidente da República tinha pouco antes deixado a mesma mensagem na Arena Dolce Vita, ao defender que, neste momento, dificilmente haverá "por esse mundo fora" alguma localidade "menos arriscada do que Ovar" em termos de contágio por SARS-CoV-2.
A perspetiva de Marcelo Rebelo de Sousa é esta: "O futuro é olhar para o exemplo de Ovar e fazer de Portugal, em grande, o que os vareiros fizeram de Ovar".
O novo coronavírus responsável pela presente pandemia de covid-19 foi detetado na China em dezembro de 2019 e já infetou mais de 5,1 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais mais de 335.000 morreram. Ainda nesse universo de doentes, mais de 1,9 milhões foram já dados como recuperados.
Em Portugal, onde os primeiros casos confirmados se registaram a 02 de março, o último balanço da Direção-Geral da Saúde (DGS) indicava 1.289 óbitos entre 30.200 infeções confirmadas. Desses doentes, 576 estão internados em hospitais, 7.590 já recuperaram e os restantes convalescem em casa ou noutras instituições.
No caso concreto de Ovar, esse município de 148 quilómetros quadrados e cerca de 55.400 habitantes esteve em estado de calamidade público devido a contaminação comunitária pelo vírus SARS-CoV-2 entre 17 de março e 18 de abril, o que implicou um cerco sanitário a todo o território, com controlo policial de entradas e saídas, e o encerramento da maioria da atividade económica local.
O último balanço da autarquia regista um total acumulado de 40 óbitos e 713 casos confirmados de covid-19, sendo que, desses, apenas 55 se encontram atualmente ativos. Esta manhã, a DGS ainda atribuía ao concelho um acumulado de apenas 651 diagnósticos por SARS-CoV-2.
Comentários