Em setembro de 2015, a dirigente do Bloco de Esquerda Catarina Martins denunciava, durante uma ação de campanha, que as creches em Portugal são mais caras do que as universidades.
Mas pode não ser assim, se a creche estiver na universidade. E se os alunos bolseiros puderem pagar com uma parte da bolsa para terem os filhos por perto ou se os funcionários pagarem uma mensalidade calculada em função do rendimento.
Nas universidades de Lisboa e Coimbra é assim.
“Para mim, as vantagens são todas”, contou à agência Lusa Priscila Souza, aluna do 2.º ano de Direito e mãe de uma menina de cinco anos, Lorena, que leva consigo para a universidade.
Mãe e filha chegam de manhã às instalações da Universidade de Lisboa para as respetivas aulas e atividades, de onde saem ao final da tarde, à semelhança de muitas outras famílias.
Como bolseira de ação social, Priscila beneficiou da bolsa também no infantário. “Além de estar perto do curso que frequento, para mim é tudo ótimo, o sítio, o sistema de educação”.
A creche dos Serviços Sociais que Lorena frequenta é a mesma que Isabel Dias frequentou na infância, quando a mãe era aluna da Faculdade de Letras.
Aos 19 anos, está novamente na universidade, agora como aluna do Instituto Superior Técnico, mas mantém as memórias, do recreio, das atividades, do cantinho dos livros e da educadora.
“Gostava muito dela, havia uma ligação bastante boa, Lembro-me bem disso”, sorri.
A creche neste espaço nasceu de uma ocupação pós-25 de Abril, quando as funcionárias dos refeitórios exigiram um local para deixarem os filhos em segurança enquanto trabalhavam.
“Os horários de trabalho eram alargados, trabalhavam muitas vezes a servir almoços e jantares”, recordou o administrador dos Serviços de Ação Social da Universidade de Lisboa, David Xavier.
A diretora, Dulcínia Morgado, entrou ao serviço já depois de 1974, mas lembra-se do tempo em que serviam jantares às crianças: “Quando fiz a entrevista para o emprego perguntaram-me se podia sair às 21:30”.
Hoje, o infantário recebe 100 crianças e tem planos de expansão, pelo que está a ser remodelado um edifício junto à Reitoria.
O administrador admite que se trata se um serviço de responsabilidade social que traz vantagens à universidade, do ponto de vista da satisfação dos utentes e da produtividade.
Na Universidade de Lisboa existem mais dois infantários.
O “Letrinhas”, gerido pela Associação de Estudantes, funciona na Faculdade de Letras e acolhe 16 crianças, debatendo-se neste momento com dificuldades de financiamento.
No Instituto Superior Técnico, encontram-se cerca de 75 crianças no pré-escolar e 42 na creche. A iniciativa partiu da Associação do Pessoal desta antiga escola da Universidade Técnica.
“A oferta era muito escassa, aqui perto não havia creches e muitas vezes os funcionários tinham de trazer os filhos para o trabalho e não tinham o desempenho desejado”, recordou a diretora pedagógica, Manuela Alves.
A Universidade de Coimbra foi pioneira, ao criar este serviço, em 1973, para apoio aos alunos.
“Havia muito mais alunos com filhos no 1.º Ciclo (licenciatura) do que hoje”, contou a administradora dos Serviços de Ação Social, Regina Bento.
Hoje, a instituição tem 55 crianças na creche e 75 no jardim-de-infância, de várias proveniências.
“A universidade é cada vez mais procurada por investigadores estrangeiros que vêm para Coimbra com a família e procuram um pacote com alojamento e serviços como este”, revelou a responsável.
A universidade oferece essa possibilidade, tem algumas residências destinadas a esse fim e disponibiliza também serviços médicos.
Segundo Regina Bento, o regulamento foi alterado para poderem ser acolhidos bebés a partir dos dois meses: “Normalmente as creches só aceitam bebés a partir dos quatro meses, mas os estudantes não têm licença de maternidade”.
A Universidade Nova de Lisboa dispõe de uma creche no polo da Caparica, onde está situada a Faculdade de Ciências e Tecnologia, mas não facultou qualquer informação.
Na Universidade do Minho, o projeto consta no plano de investimentos, mas falta-lhe financiamento. Cerca de um milhão de euros é a estimativa do reitor, António Cunha, para pôr o serviço no terreno, o que poderá acontecer nos próximos três anos.
“Depende muito de haver programas para investir neste tipo de infraestruturas e neste momento não há”, lamentou.
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