Em declarações à agência Lusa, e salvaguardando a diferença entre agressividade por impulso e agressividade planeada, a investigadora Joana Ferreira Gomes alertou para necessidade de compreender melhor a PHDA, uma perturbação que é ainda muito estigmatizante.
“Não sabemos o que provoca. Existem suspeitas e pode haver um componente genético (…). Também se acredita que há fatores ambientais associados como a exposição a mais poluição. Não é uma alteração que possamos evitar. É algo que nasce com a criança, se desenvolve nos primeiros anos de vida e é diagnosticado na primeira infância”, disse a professora da FMUP.
A PHDA é uma condição que tem por base alterações neurobiológicas, que se manifestam numa grande dificuldade em inibir e ajustar o comportamento em função da situação, e com impacto marcado no funcionamento familiar, escolar e social.
“As pessoas só veem os comportamentos mais disruptivos e associam-nos a falta de educação e algo que é da vontade da criança (…). Muitos pais reportam incompreensão de quem até lhes é próximo. Dizem-lhes ‘ele comporta-se assim porque não o educas’ ou ‘se fosse comigo dava-lhe dois açoites’. Daí que seja muito importante entender melhor esta perturbação. Todas as pessoas [educadores, familiares, etc.] que estão à volta da criança têm um papel”, sublinhou.
No estudo – que está integrado num projeto de investigação chamado M2Child – foram analisadas 72 crianças entre os 6 e os 10 anos, residentes em Portugal, sendo que 38 tinham Hiperatividade e Défice de Atenção e 34 tinham um desenvolvimento típico.
As crianças foram recrutadas através do ‘site’ criado para o projeto, por divulgação nas redes sociais e por indicação de pediatras do neurodesenvolvimento.
Além de Joana Ferreira Gomes, o trabalho publicado no Frontiers in Psychiatry teve como autores Sofia Marques (Universidade Lusíada/CIPD), Teresa Correia de Sá (FMUP/i3S), Benedita Sampaio Maia (i3S) e Micaela Guardiano (ULS São João).
De acordo com o resumo enviado à Lusa, além da agressividade impulsiva, foi registado que crianças com PHDA apresentam também mais sintomas depressivos, mais flutuações de humor e dificuldades em controlar e regular as suas emoções.
À Lusa, Joana Ferreira Gomes descreveu que a agressividade impulsiva e a falta de controlo inibitório (dificuldade em evitar distrações e impulsos) relacionam-se, nestas crianças, com desregulação emocional, sintomas depressivos e “emoções negativas”, como “frustração, sentimento de culpa, medo e remorso”.
“Estávamos a contar que as crianças com PHDA tivessem mais agressividade por impulso, mas também têm mais sintomas de ansiedade e depressão e isso entristeceu-nos”, sintetizou a investigadora.
O grupo de investigadores – que inclui psicólogos, nutricionistas, neurocientistas, pediatras do neurodesenvolvimento, microbiólogos, entre outros profissionais – aconselha “abordagens à medida de cada criança” e a promoção da regulação das emoções para diminuir os comportamentos agressivos.
Joana Ferreira Gomes adiantou que o projeto global poderá vir a integrar adolescentes e adultos, de forma a estudar esta perturbação na trajetória de vida.
“Pensa-se que estas patologias de neurodesenvolvimento têm tendência a aumentar, não só porque se está mais atento ao diagnóstico, mas porque efetivamente há estímulos novos, modos de vida diferentes e fatores ambientais”, concluiu.
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