Numa carta aos diocesanos de Lisboa na abertura de um novo ano pastoral hoje divulgada no ‘site’ do Patriarcado, Manuel Clemente escreve não poder “deixar de aludir às notícias de abusos sexuais que foram aparecendo entretanto”, referentes a casos na diocese por si tutelada.
“Já tive ocasião de explicar o que se fez e continuará a fazer na diocese, para corrigir e prevenir tais casos”, continua o patriarca, referindo-se à carta aberta que divulgou no dia 29 de julho e cujo teor terá comunicado “pessoalmente ao Papa Francisco”, em audiência no dia 5 de agosto.
Nesse documento, Manuel Clemente assegurava que “desde a primeira hora” deu instruções, no Patriarcado, “para que a Tolerância Zero e a Transparência Total sejam regra conhecida de todos” quanto ao abuso de menores.
Na carta aberta em que procurava esclarecer o que “testemunhou” no caso de um padre acusado de abuso denunciado em 1999 ao anterior patriarca, José Policarpo, e revelado pelo jornal Observador, Clemente disse aceitar que “este caso e outros do conhecimento público e que foram tratados no passado, não correspondem aos padrões e recomendações que hoje” todos querem “ver implementados”.
O jornal adiantava que “duas décadas depois” o atual patriarca se encontrou com a vítima, “que não quis divulgar o caso”, pelo que não foi dado conhecimento às autoridades judiciais.
Segundo Manuel Clemente, o seu antecessor “acolheu e tratou o caso em questão tendo em conta as recomendações canónicas e civis da época e o diálogo com a família da vítima. O sacerdote foi afastado da paróquia onde estava e nomeado para servir numa capelania hospitalar”.
“Uma vez patriarca, marquei um encontro com a vítima, encontro esse que foi adiado a pedido da mesma. Em 2019, regressado do Encontro dos Presidentes das Conferências Episcopais da Europa sobre o tema ‘A proteção dos menores na Igreja’ promovida pelo Santo Padre em Roma, sobre a temática dos abusos, pedi um novo encontro à vítima, com quem conversei presencialmente. A sua preocupação era a de não haver uma repetição do caso, sem desejar de forma expressa, a sua divulgação”, referia o patriarca na carta aberta divulgada no final de julho.
Já no documento de hoje, o cardeal patriarca volta a dirigir “um pedido de perdão institucional e convicto a quem foi vitimado”, garantindo “tudo fazer para que tais casos não se repitam, ou tenham tratamento eficaz (…), seguindo as determinações civis e canónicas”, como diz que tem sido feito também no âmbito da Comissão Diocesana de Proteção de Menores, a trabalhar desde 2019.
“É o nosso indispensável contributo para a resolução de um problema que surge na sociedade em geral. No campo institucional, é inegável que a Igreja Católica em Portugal está na primeira linha da resposta a tão grave questão. E não poderia ser doutro modo”, acrescenta.
A carta de hoje dedica também grande espaço à próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorrerá em Lisboa entre 01 e 06 de agosto de 2023, com Manuel Clemente a expressar o desejo de que o evento “seja para grande número de jovens de todo o mundo uma ocasião por excelência de renovar a esperança e reforçar a solidariedade, após tempos difíceis de pandemia, guerras e dificuldades de subsistência em geral”.
Face à expectativa de que a JMJ possa ser uma oportunidade para colocar em prática os princípios da sinodalidade, o cardeal patriarca defende que a realização do evento “só pode acontecer como ‘caminho conjunto’, em que as capacidades de cada um são reconhecidas e suscitadas, rumo a um objetivo comum e evangelizador”.
“O apelo à participação na JMJ integra-se no caminho sinodal que toda a Igreja percorre neste momento, entrando agora em fase continental, depois de ter passado pela diocesana, como aconteceu entre nós”, sublinha ainda o cardeal patriarca, acrescentando que, “de um modo geral, sobressaem os apelos ao reconhecimento da qualidade batismal de todos os fiéis e da respetiva capacitação para a vida da Igreja, na variedade dos carismas e dos ministérios, laicais ou ordenados, todos eles respeitados e valorizados”.
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