O impeachment de Dilma Rousseff gerou reações distintas: do congelamento de relações anunciado pelo governo da Venezuela, passando pela retirada do encarregado de negócios do Equador em Brasília, até o "respeito" declarado pelos governos de Argentina, Estados Unidos, Chile e Paraguai.
A Venezuela "decidiu retirar definitivamente o seu embaixador" no Brasil, Alberto Castellar, "e congelar as relações políticas e diplomáticas com o governo que surgiu desse golpe parlamentar", anunciou a Chancelaria venezuelana, num comunicado.
No Twitter, o presidente Nicolás Maduro condenou o que chamou de "Golpe Oligárquico da direita".
Toda la Solidaridad con @dilmabr y el PueblodeBrasil,condenamos el GolpeOligárquico de la derecha¡Quién Lucha Vence! https://t.co/0MkBrgsTwE
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) 31 de agosto de 2016
"Há um governo usurpador [no Brasil], que ninguém escolheu", denunciou Maduro, garantindo que os Estados Unidos estão "envolvidos no golpe".
"Hoje é um dia triste para a história do Brasil e da América Latina, porque orquestrou-se um golpe de Estado agressivo da oligarquia (...) É contra a América Latina inteira e o Caribe. É contra nós, que lutamos pela justiça e pela igualdade", manifestou.
Maduro contou que conversou por telefone com Dilma Rousseff, "com muito sentimento, com muito amor", e disse-lhe que a Venezuela "não a vai abandonar". "A história ainda não terminou, e o Brasil conta com a Venezuela", disse o presidente Maduro.
A Venezuela também reagiu através de um comunicado do Ministério das Relações Exteriores, condenando o ato que "substituiu ilegitimamente a vontade de 54 milhões de brasileiros".
Outro aliado de Dilma e do ex-presidente Lula da Silva, o Equador retirou o seu encarregado de negócios, Santiago Javier Chávez Pareja, e até agora o principal representante diplomático em Brasília.
Em maio, Quito já tinha convocado para um encontro o seu embaixador no Brasil, Horacio Sevilla. Desde então, este não voltou ao posto e, em junho passado, foi nomeado representante permanente do Equador na ONU.
O governo do Equador disse que a embaixada ficará a cargo do terceiro-secretário. Embora não tenha mencionado o congelamento das relações, advertiu que "provavelmente tenha algum tipo de afetação à relação bilateral".
O presidente da Bolívia, Evo Morales, também convocou o seu embaixador no Brasil, após condenar o "golpe parlamentar".
Na mesma linha, a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) - na voz de seus membros Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua - condenou o "golpe de Estado parlamentar" no Brasil.
Segundo o representante suplente da Nicarágua, Luis Ezequiel Alvarado, isso demonstra "que as forças regressivas do hemisfério continuam a trabalhar com o objetivo de desestabilizar e de provocar golpes de Estado contra os governos progressistas da região".
Mas também há quem respeite o processo. Adotando uma postura mais moderada, o governo argentino de Mauricio Macri disse que "respeita" o processo de destituição de Dilma, por parte do Senado brasileiro, e reafirma a sua vontade de "continuar pelo caminho de uma real efetiva integração com base no absoluto respeito pelos direitos humanos, as instituições democráticas e o Direito Internacional".
Nos Estados Unidos quem falou foi o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby, que disse que "as instituições democráticas brasileiras agiram dentro do seu respeito constitucional". "Foi uma decisão feita pelos brasileiros e obviamente respeitamos isso", acrescentou.
Kirby espera que as relações diplomáticas continuem com Brasília. O porta-voz do Departamento de Estado disse que os Estados Unidos "estão confiantes de que continuaremos as fortes relações bilaterais entre os dois países".
O mesmo tom foi adotado pelo governo do Chile, que se declarou "respeitoso" quanto à decisão e manifestou a sua confiança na capacidade de o "Brasil resolver os seus próprios desafios, por meio da institucionalidade democrática".
O Paraguai respeita a decisão tomada pelas instituições democráticas brasileiras e vai procurar aprofundar as relações políticas, económicas e comerciais com a nova administração de Michel Temer, anunciou o chanceler Eladio Loizaga, em declarações à AFP.
"Para nós, foi uma decisão tomada pelas instituições democráticas brasileiras. Como tal, nós respeitamos", afirmou Loizaga, na primeira reação do governo do Paraguai ao impeachment.
"Agora vamos buscar o aprofundamento das nossas relações nas várias vertentes: económicas, comerciais e políticas", completou o ministro das Relações Exteriores, acrescentando que o governo paraguaio "manteve relações mais do que cordiais nesse processo" com o Brasil.
Ao ser questionado sobre a decisão da Bolívia, Equador e Venezuela de retirar os seus embaixadores de Brasília, respondeu: "São as opiniões deles".
Loizaga manifestou o seu desejo de que essa decisão "ajude a acelerar uma saída para a crise que temos no Mercosul".
A ex-presidente Dilma, publicou no Twitter uma série de mensagens onde prometeu "lutar sempre" pelo Brasil.
Um carinhoso abraço a todo povo brasileiro, que compartilha comigo a crença na democracia e o sonho da justiça #LutarSempre
— Dilma Rousseff (@dilmabr) 31 de agosto de 2016
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