Artigo atualizado às 21h00

A diretora-geral aproveitou a ocasião para anunciar esta sexta-feira que Portugal vai começar a administrar a terceira dose da vacina contra a covid-19 a pessoas com mais de 65 anos na próxima semana. Para já, segundo explicou, a prioridade passa por inocular as pessoas "com idade avançada", ou seja, com mais de 80 anos, mas também os idosos que residam em lares.

"Vamos iniciar a terceira dose de reforço a pessoas com 65 ou mais anos, sendo que neste grupo etário a prioridade são as pessoas que têm 80 ou mais anos e as pessoas que são utentes de lares e da rede de cuidados continuados e de outras instituições similares", referiu Graça Freitas em conferência de imprensa.

O objetivo passa por "estimular a imunidade" das doses anteriores, dando "um reforço a essa imunidade". Por outras palavras, esta terceira dose não significa "que as pessoas tenham perdido totalmente a imunidade"; significa, sim, que vai "reforçá-la novamente para o nível ótimo".

Esta informação não é, contudo, nova, pois o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, no início da semana, já tinha anunciado que os portugueses com mais de 65 anos iam começar a ser vacinados com a terceira dose a partir de 11 de outubro.

"É muito relevante as pessoas aderirem a esta dose de reforço, é esta dose que vai novamente estimular a sua imunidade e pô-los com um nível de proteção máxima contra doença grave, contra hospitalização e contra morte", apelou Graça Freitas, sublinhando que "não é apenas mais uma dose, mas uma garantia de proteção".

Questionada sobre a situação das pessoas a quem só foi administrada uma dose da vacina por terem recuperado recentemente da covid-19, Graça Freitas esclareceu que atualmente não há indicação para administrar uma dose de reforço nesses casos.

Ainda relativamente às pessoas que estão na lista para receber a terceira dose, a diretora-geral acrescentou que a inclusão dos profissionais de saúde está a ser ponderada, mas para já não são prioritários.

Neste sentido, em declarações ao Público, o epidemiologista e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Manuel Carmo Gomes já tinha defendido que, depois das pessoas com mais de 65 estarem vacinadas, os profissionais de saúde também deviam receber uma dose de reforço da vacina — algo que faz sentido porque "são os que tomaram a vacina há mais tempo, alguns já foram vacinados há nove meses, e porque estão mais expostos à infeção".

Graça Freitas salientou ainda que, relativamente aos imunossuprimidos, já está a ser administrada uma dose adicional da vacina contra o SARS-CoV-2 há algumas semanas.

Gripe e covid-19: um sistema de vacinação misto (ou de "co-administração")

Sobre a gripe, a responsável pela DGS esclareceu que Portugal nunca teve "tantas vacinas como agora [este ano]", cerca de 3 milhões de unidades. Até ao momento já foram administradas 130 mil doses, 63 mil das quais em maiores de 80 anos.

Quanto à vacinação, Graça Freitas disse esperar que decorram de forma mista. Isto é, entre centros de saúde e os centros de vacinação dedicados para o efeito. E de acordo com as características da população e da densidade populacional.

Já sobre o regime de convocatórias, segundo a diretora-geral, vai ser "muito parecido" com a primeira e segunda fase de vacinação contra a covid-19. "Os próprios centros de saúde, em proximidade e porque conhecem bem estes utentes, têm mecanismos para os alcançar e convocar e convidar a virem à vacinação”, acrescentou a diretora-geral apelando para que os mais velhos “cheguem ao inverno com a sua proteção, quer contra a covid-19, quer contra a gripe, no máximo que a ciência nos permite e o seu sistema imunitário também".

"Seria ótimo para as pessoas, porque é muito mais confortável irem uma vez vacinar-se com duas inoculações e também é muito mais fácil para os nossos enfermeiros, para a nossa logística e para os nossos serviços", explicou ainda.

No entanto, explicou Graça Freitas, a decisão está dependente da publicação de uma norma da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a chamada coadministração.

A expectativa da diretora-geral da Saúde é que esse documento seja publicado ainda hoje, no mesmo dia em que será também publicada a norma da DGS sobre a administração da 3.ª dose a pessoas maiores de 65 anos.

Se isso não acontecer até ao início da próxima semana, quando se prevê o arranque do processo, a DGS seguirá com o plano alternativo, que implica um intervalo de 14 dias entre a administração das duas vacinas.

"Ir por um caminho ou ir por outro implica logísticas diferentes", ressalvou, de maneira a explicar que ainda não é possível determinar em que dia arrancará a administração da dose de reforço.

Graça Freitas também falou sobre a vacina que irá ser utilizada na inoculação da terceira dose e explicou a sua escolha.

"Apenas uma vacina tem já autorização da EMA para administração da terceira dose. Nós cumprimos os procedimentos em relação ao regulador, por isso, aguardámos que saísse o resumo das características do medicamento. Essa vacina é a da Pfizer, a da moderna também submeteu os ensaios clínicos para poder vir a ser aprovada, mas até ao momento a aprovada é a da Pfizer e o esquema recomendado é seis meses depois da dose administrada", explicou a diretora-geral, que distingue este esquema do dos imunossumprimidos.

"Os imunossumprimidos podem receber a vacina da pfizer ou da moderna e o intervalo entre as doses é mais curto, no mínimo 28 dias, mas estamos a recomendar um bocadinho mais", disse.

"Vacinação é um sucesso"

Antes, a responsável tinha começado a conferência de imprensa indicando que o país se encontra "numa fase epidémica ligeira a moderada" e que o processo de  "vacinação contra a covid-19 é um sucesso".

Posteriormente, sublinhou a importância dos estudos — no país e lá fora — em curso sobre a proteção concedida pela vacinação, nomeadamente para compreender concretamente o período de imunidade que estas concedem.

"Sempre tivemos esta interrogação: primeiro saber se a vacina era imunogénica, se nos dá imunidade; depois, quanto tempo é que essa imunidade dura e quanto [tempo] dura a proteção", começou por dizer.

"O que os estudos têm indicado é que, de facto, com o passar do tempo, sobretudo nalguns grupos, há uma atenuação desta proteção. Há um decaimento dessa proteção. É bom que se diga que as pessoas não ficam desprotegidas. As pessoas continuam a ter proteção. Não têm é proteção ótima, que nós queremos que elas tenham num contexto pandémico", continuou.

Ainda no âmbito da imunidade, Baltazar Nunes, responsável da unidade de investigação epidemiológica do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), acrescentou que a "efetividade contra doença sintomática diminui para cerca de 30%, 40% ao fim de 5 meses".

No grupo etário dos 80 e mais anos, "temos visto um decaimento da efetividade contra hospitalização, que medíamos em cerca de 80% no primeiro mês após a segunda dose, para cerca 60% quatro a cinco meses após a segunda dose”, adiantou o especialista.

Baltazar Nunes referiu ainda que, nesta faixa etária, as vacinas contra o vírus SARS-CoV-2 apresentam uma proteção contra morte de 87% no primeiro mês após a vacinação completa, percentagem que baixa para cerca de 75% nos quatro a cinco meses seguintes.

Já no que se refere à faixa etária dos 65 aos 79 anos, o especialista do INSA disse que não foi registado um “decaimento da efetividade” contra a doença grave, mas sublinhou que, como estas pessoas foram vacinadas posteriormente, o tempo de observação para o estudo é menor.

"No grupo etário dos 65 ou mais anos, temos observado sempre, medida de três a quatro meses após a segunda dose, uma efetividade 95% a 93%", disse Baltazar Nunes, ao assegurar que estes estudos do INSA “têm estado em linha com os resultados de outros países que têm aplicado as mesmas vacinas”.

De acordo com Baltazar Nunes, os dados permitem também confirmar que a proteção da vacina contra a doença ligeira é menor do que contra a doença grave.

"Temos verificado que a efetividade da vacina contra a infeção sintomática [doença ligeira] tem decaído com o tempo, nomeadamente, na população com 80 ou mais anos, mas também na população com 65 aos 79 anos", referiu.

Nos casos de doença ligeira, a efetividade atingiu um máximo de 70% a 80% no primeiro mês a seguir ao esquema completo de vacinação, mas decaiu para cerca de 30% a 40% após quatro a cinco meses.

85% da população (ou muitíssimo perto disso) está vacinada 

A diretora-geral da Saúde sublinhou que Portugal já atingiu a meta simbólica, isto é, da população que pode ser ser inoculada, 85% já se encontra com o esquema vacinal completo.

"É um valor simbólico. É muito importante o simbolismo, mas é uma questão de uma décima a mais ou menos. Não me atualizei nas últimas horas, mas creio que estaremos lá ou pelo menos muito próximo. É um bom valor e acho que nunca é demais agradecer aos que vacinaram e agradecer os que têm o processo de vacinação completo. Acho que se há momento que o país se pode orgulhar, é de facto este, em que atingimos os 85% com o esquema completo", salientou Graça Freitas.

Nesta conferência estiveram presentes a Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, e o responsável pela Unidade de Investigação Epidemiológica do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), Baltazar Nunes.

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