Os cerca de 4,2 milhões de eleitores dinamarqueses são chamados a votar depois da primeira-ministra, a social-democrata Mette Frederiksen, ter sido forçada a convocar eleições antecipadas por um dos partidos que apoiavam o seu Governo, o partido Social Liberal.

Elogiado pela sua gestão da crise da pandemia de covid-19, acabou por ser precisamente uma decisão com ela relacionada a fazer cair o Governo do reino da Dinamarca, que ordenou – sem fundamento legal, segundo uma investigação posterior – o abate de mais de 15 milhões de visons, devido a uma mutação do coronavírus, provocando a ira de centenas de criadores, no país que era até então o maior exportador mundial de peles deste animal.

Frederiksen qualificou de “estranho” antecipar as eleições a meio de uma crise internacional “energética, económica e de segurança”, devido à invasão e guerra na Ucrânia por parte das forças russas, e garantiu que o seu partido, se vencer, apostará na formação de um governo amplo.

Após as eleições de junho de 2019, quando se tornou, aos 41 anos, a mais jovem chefe do executivo da Dinamarca, Mette Frederiksen empreendeu uma política rigorosa em relação a refugiados e imigrantes, em nome da defesa do Estado-Providência, como a limitação da percentagem de pessoas não nascidas na Dinamarca que podem habitar em certos bairros, na tentativa de favorecer a integração.

Hoje a questão da imigração, pelo acolhimento dado aos refugiados ucranianos, mas sobretudo porque os partidos têm visões muito próximas, deixou de ser tema na campanha eleitoral, dominada sim pelas questões da inflação, a crise energética e uma guerra em solo europeu que causa fortes preocupações de segurança nos dinamarqueses.

Um forte exemplo da insegurança que sentem é Bornholm, uma ilha a meio caminho entre a capital dinamarquesa, Copenhaga, e Kaliningrado — um enclave russo à beira do mar Báltico entre a Polónia e a Lituânia — onde se registou um aumento do número de voluntários para a guarda local, um ramo voluntário das forças armadas dinamarquesas.

Mette Frederiksen, agora com 44 anos, continua a ser a favorita do eleitorado para chefiar um Governo, com as sondagens a dar-lhe 49,4% de apoio, contra 27,4% para o conservador Søren Pape Poulsen e 23,3% para o liberal Jakob Ellemann-Jensen, ambos candidatos para lhe suceder.

Mas as sondagens são muito próximas no que toca ao voto no “bloco vermelho”, composto por vários partidos de esquerda liderados pelos sociais-democratas, com 47% a 50%, contra 49% a 50% para o “bloco azul”, que inclui nomeadamente o Partido Liberal, o Partido Conservador e três partidos nacionalistas de direita.

O panorama político dinamarquês está mais fragmentado do que nunca, com treze partidos em condições de conquistarem lugares no parlamento (mais de 2% dos votos), segundo as sondagens.

“Os eleitores dinamarqueses estão mais voláteis do que nunca. Cerca de 45% mudaram de partido desde a última eleição”, disse o analista político Kasper Hansen, da Universidade de Copenhaga, citado pela France-Presse.

As sondagens mostram ainda que será difícil algum dos blocos ter uma maioria no parlamento, de 179 lugares e onde o maior partido tem atualmente apenas 48, sem o apoio dos deputados das regiões autónomas da Gronelândia e Ilhas Faroé.

Frederiksen e o seu partido social-democrata esperam formar uma grande coligação e evitar a ascensão ao poder da direita e extrema-direita, numa eleição a que as capitais europeias estão particularmnete atentas depois das recentes vitórias de figuras de extrema-direita na Suécia e em Itália.

A afluência dos eleitores é tradicionalmente elevada na Dinamarca. Em 2019, 84,6% dos cerca de 4,2 milhões de eleitores votaram.