António Costa anunciou na terça-feira a sua demissão do cargo de primeiro-ministro, após se saber que é alvo de uma investigação do Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitas num processo relacionado com negócios sobre o lítio, o hidrogénio verde e um centro de dados em Sines terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos.
A demissão de António Costa fez com que o Presidente da República convocasse eleições antecipadas, depois de reunir com o Conselho de Estado, para 10 de março do próximo ano. Hoje, António Costa voltou a falar ao país.
O primeiro-ministro demissionário, a partir do Palácio de São Bento, começou logo por pedir desculpas pela apreensão dos mais de 75 mil euros do gabinete do seu chefe de gabinete, Vítor Escária, afirmando que tal o deixou envergonhado: "Mais do que magoar pela confiança traída, envergonha-me perante os portugueses".
Prosseguindo o seu discurso, António Costa ainda deixou uma aviso para o futuro, não querendo que se “desperdice oportunidades estratégicas e para que futuros governos não percam instrumentos essenciais”.
Com esta afirmação, Costa abriu o leque sobre alguns dos pormenores do caso do Hidrogénio e do Lítio, que agora está sob investigação e envolvido num manto negro. Acerca do porto de Sines lembrou o “valor estratégico da maior importância”, e deixa o pedido de que “o país não pode não aproveitar o lítio”. Disse ainda ser necessário “reduzir o conflito” entre a preservação da zona especial de conservação e o investimento: “isto significa ação política, não é delegável a competência própria". Insistiu que num investimento como este, "o maior em Portugal desde a AutoEuropa", os investimentos “nunca podem resultar de uma mera decisão arbitrária de qualquer membro do Governo”.
Em reação ao discurso de António Costa, os partidos com assento parlamentar não viram com 'bons olhos' o discurso de António Costa. O Chega acusou hoje o primeiro-ministro de "tentativa de condicionamento" da justiça na sua comunicação ao país, com o PAN a considerar que as palavras de Costa se trataram de uma ação de 'greenwashing. A Iniciativa Liberal voltou a insistir na demissão de João Galamba. O Bloco de Esquerda recorreu ao ditado popular "as desculpas não se pedem, evitam-se". E se assegura que evitá-las teria sido fácil, bastava ter ouvido os avisos do BE", afirmou Pedro Filipe Soares. Rui Tavares, do Livre, resumiu a declaração do Primeiro-Ministro demissionário como tendo sido "chorar sobre leite derramado".
O prato principal do dia foi o discurso de António Costa, mas hoje também ficamos a conhecer a candidatura de José Luís Carneiro a secretário-geral do PS. O atual ministro da Admnistração Interna esteve na sede do PS, em Coimbra, onde afirmou que se candidata com "espírito de firmeza e pés na terra", assumindo um projeto que respeite e preserve a "identidade e autonomia" do partido.
No final, José Luís Carneiro não deixou de fora o primeiro-ministro demissionário, deixando assim uma "homenagem a António Costa, por um legado político de uma vida integralmente dedicada ao ideário do PS. Agradeço-lhe a confiança para o exercício dos cargos para que me nomeou e que sempre procurei desempenhar com inteira dedicação e honestidade", recebendo uma salva de palmas após estas palavras.
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