Esta não é a primeira transladação dos ossos de Eça de Queiroz. Primeiro, em 1900, de Paris, onde morreu, para Lisboa (cemitério do Alto de S. João) e depois, em 1989, de Lisboa para Santa Cruz do Douro. A acontecer a terceira trasladação está prevista para dia 27 de setembro.

Esta disputa é, simultaneamente, familiar e política, com autarcas, ex-autarcas e ministros a posicionarem-se do lado de uns e de outros. O ex-presidente da Junta de Freguesia de Santa Cruz do Douro, do PSD, está contra. Do outro lado está a Fundação Eça de Queiroz, dirigida pelo escritor Afonso Reis Cabral, e o atual presidente da Junta de Freguesia da localidade, eleito pelo PS. Com eles está ainda José Luís Carneiro, antigo autarca de Baião e atual ministro da Administração Interna, que participou ativamente nesta decisão do Estado português de atribuir honras de Panteão ao romancista do século XIX.

Quanto aos familiares: há 13 herdeiros a favor da trasladação e seis contra. Segundo a lei, só os bisnetos podem ter a palavra no que concerne à mudança dos restos mortais do escritor.

São estes seis herdeiros que se opõem. Segundo o Observador, já enviaram cartas de protesto ao presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Agora, vão avançar com uma providência cautelar. Ao Observador, José Maria Eça de Queiroz afirmou que “as honras de Panteão se façam sem os restos mortais, usando apenas uma placa ou uma estátua”, como recentemente aconteceu com o diplomata Aristides de Sousa Mendes.

Ao Observador, Pedro Proença, advogado especialista em direto civil explicou que “uma vez que os familiares vão avançar com uma providência cautelar, o juiz pode querer saber o que é que o próprio Eça deixou escrito e tomar isso em consideração, pois é uma argumento forte”.

O texto que aborda de forma óbvia o tema intitula-se “Os Grandes Homens de França” e, nele, o escritor deixa claro que considera os “panteões” uma coisa que serve para o Estado, pois será sempre humanamente impossível decidir o que é “um grande homem”.