“Tenho 73 anos e felizmente a minha cabeça ainda não está senil e, portanto, estou a oferecer o meu ‘know-how’ de 47 anos do Serviço Nacional de Saúde para poder, se quiserem, colaborar e explicar como é com o empenho que se faz isto”, disse em entrevista à agência Lusa, a propósito dos 30 anos do primeiro transplante hepático em Portugal, assinalados hoje.

O especialista defendeu que a modernização e a inovação são fundamentais para reter os profissionais, observando, contudo, que os vencimentos dos médicos e dos enfermeiros não são os adequados.

“Mas se vamos pensar que é só através do dinheiro que vamos conseguir competir com a [medicina] privada isso é impossível”, porque o que pagam a especialistas de renome não é possível o SNS pagar, “mas é possível melhorar muito”, defendeu.

Eduardo Barroso integrou a equipa liderada pelo cirurgião João Pena, que realizou o primeiro transplante hepático em 23 de setembro de 1992 no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, e mais tarde, em 2005, criou neste hospital o Centro Hepato-Bilio-Pancreático e de Transplantação, um dos maiores centros de transplante da Europa.

Para o cirurgião, que dirigiu o centro até à sua reforma em 2018, o SNS deve ser organizado em centros de referência, um modelo que defende há 30 anos e tem estado “um bocadinho” parado devido à pandemia.

“Ponham os olhos no que foi feito no Curry Cabral” e apliquem a outras áreas, apelou, lembrando a luta para a criação do centro que contou sempre com o apoio das administrações do hospital para conseguir as condições para funcionar.

“É por isso é que hoje em dia há condições únicas no Curry Cabral para se poderem tratar doentes complexos nesta área”, disse, sublinhando: “O acesso é total, universal e gratuito. Estamos muito orgulhosos disso”.

É por este modelo de organização, que permite que “não morram doentes que não deviam morrer” e que os doentes tenham confiança, que Eduardo Barroso luta há 30 anos.

No seu entender, “é um absurdo total” um doente que tem um cancro do pâncreas e vive no Algarve ou em Santarém seja operado nos hospitais locais que “não têm condições nem massa crítica para tratar essas doenças”.

“O doente fica muito contente de ser operado na sua terra, mas na sua terra pode não haver condições para o fazer”, disse, frisando que “há doenças muito complexas e muito difíceis de tratar” que devem ser acompanhadas em centros de referência para criar “massa crítica”, poder ter casuística e poder investigar.

O médico explicou que, no centro criado no Hospital Curry Cabral, que faz parte do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, "foram formados cirurgiões com grande qualidade”, porque tiveram centenas de doentes para tratar.

“Ser operado ao fígado, ao pâncreas no Curry Cabral, é ter a garantia de que os cirurgiões são experientes (…). São verdadeiros craques a fazer aquilo que sabem. Agora se lhes pedirem para fazer uma cirurgia do esófago ou da mama não sabem fazer. Por isso, temos que mandar para outros centros” que fazem essas cirurgias, sublinhou.

Questionado se a direção executiva do SNS, criada no âmbito do Estatuto do SNS, é uma mais-valia para uma organização em rede, disse ser fundamental, mas insistiu que é preciso ouvir as pessoas que tiveram experiência nessas áreas.

“Se não quiserem ouvir a minha opinião não ouçam, tenho muita coisa a que me dedicar. Agora, pelo menos, vejam o que nós fizemos, o que foi criado dentro do Serviço Nacional de Saúde, vejam o que é Centro Hepato-Bilio-Pancreático e de Transplantação”, frisou o especialista, que está agora na Fundação Champalimaud.

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