Marcelo Rebelo de Sousa evoca e agradece a Eduardo Lourenço
Numa nota publicada no site da Presidência da República, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, escreve que Eduardo Lourenço "foi, desde o início da segunda metade do século passado, o nosso mais importante ensaísta e crítico, o nosso mais destacado intelectual público".
De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, o ensaísta nunca esteve “alheado dos debates do nosso tempo, nem das vicissitudes da política”.
“Devemos-lhe algumas das leituras mais decisivas de Pessoa, que marcam um antes e um depois, e um envolvimento, muitas vezes heterodoxo, nas questões religiosas, filosóficas e ideológicas contemporâneas, do existencialismo ao cristianismo conciliar e à Revolução”, enalteceu.
Entre “todos os intelectuais portugueses da sua envergadura”, na perspetiva do chefe de Estado, “nenhum outro foi tão alheio à altivez, à auto-satisfação, ao desdém intelectual, ao desinteresse pelas gerações seguintes”.
“Vencedor de diversos prémios, incluindo o Pessoa e o Camões, distinguido por quatro vezes com ordens nacionais, e também reconhecido no estrangeiro, o Prof. Eduardo Lourenço deu-me a honra de integrar o Conselho de Estado”, elencou.
Marcelo Rebelo de Sousa apresentou as suas sentidas condolências aos familiares “pela perda deste amigo, deste sábio, desta figura essencial do Portugal em que vivemos”.
António Costa recorda “camarada” com quem aprendeu muito
"É, para mim em particular, um momento de grande tristeza. Trata-se de um amigo, um camarada, de alguém com quem tive a oportunidade de privar, de aprender muito, e que nos deixa", afirmou António Costa, que falava aos jornalistas à margem das comemorações do 1.º de Dezembro, em Lisboa.
O primeiro-ministro realçou que este momento é também "um convite a conhecer a obra" de Eduardo Lourenço e de prosseguir a reflexão que o ensaísta deixa.
"Seguramente seria a sua vontade", acrescentou.
António Costa sublinhou ainda a importância de Eduardo Lourenço na reflexão sobre "os fatores da intemporalidade nacional", destacando o livro "Labirinto da Saudade", "seguramente um dos mais notáveis ensaios da ensaística portuguesa".
Graça Fonseca lamenta perda de “uma das mentes mais brilhantes” do país
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, classificou de “uma das mentes mais brilhantes deste país”.
“Não posso deixar de lamentar profundamente a morte de Eduardo Lourenço, uma das mentes mais brilhantes deste país”, disse Graça Fonseca, numa mensagem enviada à agência Lusa.
A ministra acrescentou que “Eduardo Lourenço foi um pensador, arguto e sensível como poucos, e incansável combatente do caos dos dias”.
Catarina Martins agradece intervenção de “um pensador imprescindível”
À agência Lusa, Catarina Martins referiu que “Eduardo Lourenço viveu quase um século, no qual emprestou ao país o seu pensamento e a sua intervenção”.
“Foi filósofo, ensaísta, professor e, sobretudo, um pensador imprescindível. E teve, ao longo da vida, uma inquietude que o levou a marcar presença em momentos determinantes”, enalteceu.
A coordenadora bloquista recordou ainda que, “mesmo nestes últimos anos de vida, encontrou forças para marcar presença quando era imprescindível afirmar a solidariedade que une contra o ódio que divide”.
“A sua morte é uma enorme perda, resta-me agradecer o que nos deixa”, sublinhou.
Jorge Sampaio recorda "o grande humanista da contemporaneidade"
"É com grande emoção que recordo o pensador das profundidades do ser e da existência, o cultor insigne das letras, das artes e da cultura, um grande humanista da contemporaneidade, para quem ser português era indissociável do ser europeu e vice-versa", escreve Jorge Sampaio, na sua mensagem de pesar.
"Eduardo Lourenço foi, é e será sempre uma das maiores referências da cultura portuguesa, quer pela sua extensa obra, quer pela [sua] inesgotável profundidade e originalidade", assegura.
"Para quem teve o privilégio de o conhecer mais de perto, ele era também um extraordinário contador de histórias, subtil observador da realidade e dotado de um sentido de humor único", recorda Jorge Sampaio.
Para o ex-Presidente e jurista, "Eduardo Lourenço tinha o talento raro de elevar qualquer conversa, por trivial que fosse, trazendo pontos de vista inesperados, informações e conhecimentos novos ou fazendo comentários que parecendo anódinos traziam sempre à tona o avesso das coisas".
"Tive a fortuna de privar diversas vezes com Eduardo Lourenço nas mais diversas circunstâncias. Quero ressaltar a sua enorme inteligência, o seu comovente desprendimento, a sua modéstia ou até mesmo humildade, bem como o seu agudo sentido de humor", escreve Sampaio.
O antigo Presidente da República (1996-2006) recorda o episódio do ensaísta, quando, um dia, um jornalista lhe perguntou "porque nunca se doutorara, ao que ele terá respondido: 'Olhe, esqueci-me'”.
"Eduardo Lourenço deixou-nos hoje. Perdi o meu vizinho à mesa do Conselho de Estado, perdi um muito querido amigo por quem tinha uma estima e uma admiração ímpares, Portugal perdeu um dos seus mais notáveis cidadãos. Restam-nos o seu pensamento, os seus escritos, onde poderemos colher força para continuar à procura do rasto de Eduardo Lourenço escondido nas entrelinhas", conclui Jorge Sampaio.
Ana Gomes curva-se "em tributo" ao pensador
"RIP! querido Eduardo. Curvo-me em tributo", escreve a militante socialista e pré-candidata à Presidência da República.
"Que ironia, sabermos do seu desaparecimento no dia 1.º de Dezembro", escreveu Ana Gomes, numa alusão ao dia da Restauração da Independência, em 1640, e ao cospmopolitismo de Eduardo Lourenço e à universalidade da sua obra.
"Eduardo Lourendo, um português cosmopolita que, com infatigável lucidez, pensando em voz alta o país, ajudou a fazer e, portanto, a defender Portugal. Até de si próprio".
Gulbenkian recorda "pensador de espírito livre e olhar profundo"
Numa mensagem de "profundo pesar pela morte do professor Eduardo Lourenço, colaborador de longa data e administrador não-executivo da Fundação entre 2002 e 2012", a presidente do Conselho de Administração, Isabel Mota, destaca "a sua imensa cultura, alavancada por uma enorme sede de conhecimento e interesse pelo sentido das coisas, o seu amor pela História, o seu discreto sentido de humor".
“Pensador de espírito livre e olhar profundo, aberto e sempre diferente sobre as questões, o professor Eduardo Lourenço deu, ao longo dos anos, um importante contributo na forma de se pensar o destino português”, disse a presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota, citada pelo comunicado da instituição.
Recordando “um amigo”, Isabel Mota destaca “a sua imensa cultura, alavancada por uma enorme sede de conhecimento e interesse pelo sentido das coisas, o seu amor pela História, o seu discreto sentido de humor, tão característico dos homens de grande sabedoria.”
“Uma referência que há de permanecer em nós apesar de, neste momento, deixar a Fundação Calouste Gulbenkian de luto”, conclui.
Fundação EDP lamenta morte de "um dos grandes portugueses do nosso tempo"
“Português, europeu e cidadão do mundo, pensou criticamente, com filosófico poder de análise e poético dom de síntese, os grandes temas da nossa história (e também os seus esconderijos e enganos) e os grandes tópicos da nossa cultura (e sobretudo os seus tótemes e tabus)”, lê-se numa nota enviada à Lusa pela Fundação EDP.
Para a fundação, que é mecenas da inventariação e estudo do acervo Eduardo Lourenço, “nada do que de importante ou significativo aconteceu lhe passou ao lado e tudo foi atravessado pela sabedoria da sua palavra, pela lucidez da sua inteligência e pela vastidão da sua cultura”.
Aquela entidade destaca a sua “atenção intensa” e “reflexão incansável” nos mais variados campos do saber, desde a filosofia, à história, política, jornalismo, literatura, arte, música ou o cinema e o seu “pensamento original e ativo” desde a juventude.
Cineasta Miguel Gonçalves Mendes lembra homem de "grande candura"
Em 2018, foi protagonista e narrador da sua própria história, num filme de Miguel Gonçalves, que teve antestreia a 23 de maio, dia em que Eduardo Lourenço completou 95 anos.
O realizador, hoje, em declarações à Lusa, recordou o ensaísta como “uma das vozes mais incríveis e que melhor pensou Portugal”.
“Numa época tão histriónica como a que vivemos, é efetivamente uma voz que nos vai fazer muita falta, pela sua candura e porque ele nos fazia sistematicamente relembrar que talvez a maior beleza do ser humano seja a sua capacidade pré-empatia e para se colocar no lugar dos outros, que é uma coisa que infelizmente nos dias de hoje nos está a faltar”, afirmou Miguel Gonçalves Mendes.
Com o filme, intitulado “Labirinto da Saudade", que adapta a obra homónima de Eduardo Lourenço e traça uma viagem através da cabeça do pensador português, Miguel Gonçalves Mendes quis “quase cristalizar uma espécie de portugalidade, que de alguma forma estava quase a desaparecer”.
“Pessoas que tinham entrado no nosso imaginário, que construíram uma imagem que nós temos de Portugal, como Fernando Pessoa, Agostinho da Silva, Teixeira de Pascoaes, Saramago. E, no filme, o que se passa dentro da cabeça do Eduardo é quase como se ele entrasse em contacto com esse seus amigos ausentes e também com os amigos presentes e vivos, que de alguma forma dão conteúdo a essa imagem de país. Por isso também participam [Álvaro] Siza Vieira, Jorge Sampaio, Ramalho Eanes”, contou.
O realizador recordou que a rodagem, que em grande parte aconteceu num hotel no Buçaco, como forma de apresentar Eduardo Lourenço como um hóspede que revisita, em cada divisão, pensamentos e fases da vida, “foi muito bonita”.
“Porque apesar dos seus 93/94 anos, Eduardo predispôs-se a entrar neste jogo quase infantil do que é brincar ao cinema e do que era tentar entrar na sua cabeça”, partilhou.
Em maio de 2018, Eduardo Lourenço admitiu, em entrevista à Lusa, que “entrou no filme sem saber que estava a entrar num filme”, e considerou haver uma “tal incompatibilidade” entre ele e ser ator, que não se via nesse papel.
“Aquilo era uma espécie de visita ao Buçaco, sem programa propriamente dito, e a gente tinha que inventar umas situações e umas falas com muitas personagens, meus amigos ou não, quase todos eles meus amigos, e eu não podia adivinhar o que é que saía dali e continuo na mesma, porque ainda não o vi”, disse na altura.
Miguel Gonçalves Mendes fala de Eduardo Lourenço como um homem “de uma doçura tremenda, de uma grande generosidade, de um grande sentido de humor e, sobretudo, de uma grande candura, que acho que é importante realçar”, no momento atual. “Numa época em que toda a gente grita tão alto às vezes é importante esta questão da empatia”.
“Isto é, eu acho que o Eduardo é efetivamente um ícone do pensamento, tanto à esquerda como à direita, neste país, exatamente por isso, porque ele nos fazia lembrar que a Política é a arte do consenso. O oposto disso é a guerra. Então há esse lado de nos sabermos colocar no lugar do outro que para mim é essencial”, defendeu.
Miguel Gonçalves Mendes destacou ainda um outro feito de Eduardo Lourenço: “Temos que lhe estar agradecidos também pela forma como, de alguma forma, nos devolveu Fernando Pessoa, que até a uma certa altura estava bastante esquecido e desaparecido”.
Elisa Ferreira destaca "olhar lúcido e original" do pensador
"Eduardo Lourenço foi filósofo e ensaísta notável", escreve Elisa Ferreira numa mensagem publicada na sua página na rede social Twitter.
"O seu olhar lúcido, original e heteredoxo ajudou-nos a pensar Portugal, a reflectir sobre nossa identidade e sobre nosso lugar na Europa. Deixa-nos um 'labirinto de saudade', mas também uma vasta reflexão sobre caminhos a trilhar", conclui a comissária europeia da Coesão e Reformas.
Câmara da Guarda decreta dia de luto municipal na quarta-feira
“Enquanto presidente da Câmara Municipal da Guarda, na convicção de que interpreto, fielmente, o sentimento de todos os guardenses, determino o cumprimento de um dia de Luto Municipal, gesto que simbolicamente visa enaltecer um dos ilustres nomes da nossa cidade”, refere Carlos Chaves Monteiro, no voto de pesar.
Segundo o autarca, “a produção ensaística de Eduardo Lourenço, abrangendo diversas áreas, da literatura e da arte aos acontecimentos políticos contemporâneos, tornou-se um fenómeno singular na cultura portuguesa, orientada por uma constante argumentação personalista, que se traduziu em mais de 40 livros e inúmeros artigos, prefácios, críticas e recensões”.
“Expoente máximo do ensaísmo literário e cultural contemporâneo, Eduardo Lourenço foi unanimemente reconhecido no meio universitário com quatro Doutoramentos Honoris Causa e no meio cultural e social com a atribuição de vários prémios nacionais e internacionais, para além de condecorações do Estado Português, Francês e Espanhol, e de inúmeras homenagens”, acrescenta.
Carlos Chaves Monteiro refere ainda que, “através do desafio da criação, na Guarda, em 1999, de um Instituto da Civilização Ibérica que unisse as duas Universidades mais antigas da Península (Coimbra e Salamanca), Eduardo Lourenço retornou simbolicamente à sua cidade como diretor honorífico do Centro de Estudos Ibéricos e como patrono da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, inaugurada em 2018 e que conta com grande parte do seu acervo literário”.
João Soares: "Honra à memória de Eduardo Lourenço"
O ex-ministro da Cultura, João Soares, “na hora triste da morte de Eduardo Lourenço", utilizou o Facebook para partilhar o testemunho de “profundo respeito pela sua memória”.
“O professor Eduardo Lourenço é alguém para com quem, como português e como socialista, tenho um sentimento de profunda gratidão e dívida. Que perdura, e perdurará, na sua obra. Vou hoje reler o prefácio aos ‘Lusíadas’ que aceitou reeditar (estive com Adelio Gomes modestamente envolvido no pedido de reedição desse prefácio) há um par de anos na linda edição da Livraria Lello. Honra à memória de Eduardo Lourenço”, escreveu.
Francisco Louçã diz que Eduardo Lourenço "será lembrado como o ensaísta mais marcante das últimas décadas"
O economista e antigo dirigente do Bloco de Esquerda (BE) Francisco Louçã salienta, também no Facebook, que Eduardo Lourenço “será lembrado como o ensaísta mais marcante das últimas décadas, e era-o”.
“Será venerado como um exigente europeísta, que não cedia ao maniqueísmo financeiro, e era-o certamente. Será homenageado como um pensador da esquerda e um criador de pontes, como era. E deve ser recordado como um ser humano excecional, de amizade inquebrantável e fiel às interrogações que nos levam para a frente. Adeus, Eduardo”, lê-se na publicação de Francisco Louçã.
Autarcas de Porto e Lisboa recordam o ensaísta, da geografia ao ‘labirinto da saudade’
O Facebook foi também a plataforma usada pelos autarcas do Porto, Rui Moreira, e de Lisboa, Fernando Medina, para recordarem o ensaísta.
A acompanhar uma fotografia de Eduardo Lourenço, Rui Moreira partilhou uma citação de Eduardo Lourenço, datada de 13 de janeiro de 2019: “O Porto é o porto. Basta! O nosso norte é aqui”.
Já Fernando Medina lembra que “a morte do ensaísta, professor universitário, filósofo e intelectual português acontece num dia com particular significado para Portugal e para os portugueses”.
“Foi precisamente sobre o que é ser português e sobre a nossa identidade que Eduardo Lourenço refletiu, escreveu, falou. E era fascinante ouvi-lo falar. Da complexidade das coisas e do ser, com uma desassombrada simplicidade. Esta sua singularidade é bem a marca da sua vida e obra. Desaparece o homem, mas o seu legado e pensamento ficam para os descobrirmos e nos descobrirmos no ‘labirinto da saudade’ que é tão português”, escreveu o presidente da Câmara de Lisboa.
Marisa Matias: "Na falta que nos fará, encontremos na sua obra as pistas para um futuro mais justo"
A eurodeputada do Bloco de Esquerda (BE) e candidata à Presidência da República, Marisa Matias, usou o Twitter para recorda o “interprete ímpar” da “singularidade” portuguesa, “um pensador generoso e atento, um construtor de pontes em tempos de incerteza”.
“Na falta que nos fará, encontremos na sua obra as pistas para um futuro mais justo. Obrigada, Eduardo Lourenço”, lê-se na publicação.
Valter Hugo Mãe lamenta a morte de “uma das mentes mais brilhantes e cordiais” que conheceu
No Facebook, o escritor Valter Hugo Mãe escreveu sobre o desaparecimento de “uma das mentes mais brilhantes e cordiais” que conheceu.
“Eduardo Lourenço, pensador de profunda beleza, faleceu hoje aos 97 anos. Agradeço-lhe a obra e a elegantíssima maneira de lidar com cada um, que muito me honrou. Este ano empobrecemos demasiado”, lê-se na publicação.
“Portugal e o mundo perderam um pensador absolutamente incrível”, escreveu o diretor do Centre for Cross Border Studies
O diretor do Centre for Cross Border Studies, na Irlanda, Anthony Soares, escreveu no Twitter que “Portugal e o mundo perderam um pensador absolutamente incrível”, “o filósofo que procurou Portugal no seu labirinto”.
Conselheiro de Estado, professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa.
José Gil destaca "sistematicidade do pensamento" de Eduardo Lourenço
O filósofo José Gil destacou a “sistematicidade do pensamento” do ensaísta Eduardo Lourenço, que morreu hoje aos 97 anos, destacando que essa característica “faz dele um grande pensador”.
“Do Eduardo Lourenço já se disse hoje muita coisa, eu gostaria de dizer apenas que quando se diz que o Eduardo Lourenço é o maior pensador, ou um grande pensador, é preciso saber o que se esconde sob a palavra”, afirmou José Gil, em declarações à Lusa.
Para o filósofo, a palavra pensador, “em Eduardo Lourenço, é uma maneira de indicar a sistematicidade do seu pensamento”.
“Não foi só um grande pensador pela inteligência extraordinária que tinha, pela sua capacidade de análise da literatura, da política, de outros domínios da mitologia portuguesa, etc., mas pela capacidade que tinha de - a partir de um pensamento dos princípios filosóficos que ele elaborou, e que é um pensamento trágico, como ele lhe chamou – irradiar para seguir as linhas coerentes da sua crítica, da sua análise, do seu comentário em todos estes domínios”, referiu.
José Gil sublinha que “é a sistematicidade desse pensamento que faz de Eduardo Lourenço um grande pensador”.
O filósofo lembrou que Eduardo Lourenço “foi sempre polémico, foi sempre pioneiro nas intervenções que teve em instaurar perspetivas diferentes contra o que habitualmente se pensava”.
No entanto, “apesar de toda essa polémica, controversa, que houve à volta dos seus livros, à volta das suas intervenções, ele era certamente mais que estimado como figura intelectual”.
“Era respeitado, porque havia ali uma monumentalidade de pensamento que nós não conhecíamos e não conhecemos, apesar de termos grandes figuras na intelectualidade portuguesa”, afirmou.
Câmara de Guimarães manifesta "profundo pesar" e destaca "legado literário"
“Homem de trato afável e simplicidade desarmante para alguém da sua estatura intelectual e notoriedade, Eduardo Lourenço deixa-nos um precioso legado literário e ensaístico, fundamental para a compreensão de Portugal e dos portugueses”, pode ler-se na nota emitida pela autarquia.
O documento recorda que o filósofo português fez parte do conselho geral da Fundação Cidade de Guimarães, órgão de aconselhamento e acompanhamento de Guimarães Capital Europeia da Cultura, em 2012.
“Tendo prontamente aceitado o convite para integrar aquele órgão, Eduardo Lourenço deslocou-se diversas vezes a Guimarães para participar nas suas reuniões, invariavelmente enriquecidas com a sua visão, o seu pensamento e a sua cultura”, vinca o texto.
Domingos Bragança manifestou o seu “profundo pesar” e endereçou à família enlutada “as mais sentidas condolências”.
Nuno Júdice destaca a "visão lúcida" de Portugal do pensador
“Sempre me impressionou a forma como, a falar, encontrava a forma certa para entender e se dar a entender, quer sobre os artistas de que falava – desde logo Antero de Quental e Fernando Pessoa – quer, sobretudo, sobre o que podemos chamar ‘o que somos’”, disse à Lusa Nuno Júdice, recordando que conhecia Eduardo Lourenço “há muitos e muitos anos”, tendo privado com ele em muitos acontecimentos literários.
O também ensaísta, ficcionista e professor universitário destacou em Eduardo Lourenço a “grande procura da sua escrita, a razão de ser da nossa existência, identidade e permanência”.
“Esse aspeto da sua escrita e obras… ninguém como ele terá entendido a existência de Portugal e dos portugueses como uma dinâmica que encontrava razão de ser indispensável na Europa”.
Nuno Júdice, que dirige a revista Colóquio/Letras, publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian, considerou ainda que Eduardo Lourenço era uma “pessoa com quem era fascinante falar”, pela visão que tinha e transmitia sobre qualquer assunto.
“Nos últimos anos, muitas vezes ia ter connosco à Gulbenkian e comentava as coisas do dia e era fascinante ver como a partir de coisas sem qualquer importância conseguia falar e desenvolver as suas ideias de uma forma diferente e que nos fazia ver a realidade de uma outra forma”, explicou.
Expressando-se a título pessoal, o poeta considerou a morte de Eduardo Lourenço a “perda de um grande amigo, mas sobretudo de uma pessoa, talvez a última, a ter esta visão de Portugal e dos portugueses tão lúcida”.
Centro de Estudos Ibéricos lamenta perda do diretor honorífico
“O CEI lamenta a perda do seu diretor honorífico e endereça sentidas condolências à família, perpetuando a memória deste intérprete maior da cultura ibérica e universal que marca o século XX português”, refere, numa nota de pesar, a coordenadora do CEI Alexandra Isidro.
Considerado “expoente máximo do ensaísmo literário e cultural contemporâneo, Eduardo Lourenço foi unanimemente reconhecido no meio universitário com quatro doutoramentos Honoris Causa e, no meio cultural e social, com a atribuição de vários prémios nacionais e internacionais, para além de condecorações do Estado Português, Francês e Espanhol, e de inúmeras homenagens”, lê-se.
“Através do desafio da criação, na Guarda, em 1999, de um Instituto da Civilização Ibérica que unisse as duas Universidades mais antigas da Península (Coimbra e Salamanca), Eduardo Lourenço retornou simbolicamente à sua cidade como diretor honorífico do Centro de Estudos Ibéricos e como patrono da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, inaugurada em 2008 e que conta com grande parte do seu acervo literário”, lembra a coordenadora do CEI.
António Guterres descreve Eduardo Lourenço como "uma grande referência cultural e moral do nosso tempo"
"É uma grande referência cultural e moral do nosso tempo. Toda a vida pensou Portugal, como realidade em que as raízes antigas se projetam num futuro de exigência, de abertura e de diálogo. Foi um humanista e um europeísta empenhado e crítico, preocupado com os egoísmos e a indiferença quanto à liberdade", salientou o secretário-geral das Nações Unidas.
Na mesma mensagem, António Guterres observou ainda que Eduardo Lourenço "ensinou a importância da cidadania ativa com forte consciência da justiça social".
"O seu patriotismo orientado para o futuro valorizou sempre as prioridades para a Educação, a Ciência e a Cultura. Muito continuaremos a dever ao seu exemplo e à sua memória", acrescentou o antigo líder do PS entre 1992 e 2002.
Editora Gradiva destaca "pensador genial" de hoje e de sempre
“A Gradiva lamenta profundamente a perda do Homem, do grande intelectual e pensador genial da atualidade e de sempre. Mais até do que o Autor incontornável, lembramos hoje o Amigo e enviamos as nossas condolências à sua família”, afirma em comunicado a editora que reuniu toda a obra do filósofo e ensaísta português, que morreu hoje, em Lisboa, aos 97 anos.
Para Guilherme Valente, editor da Gradiva, “partiu hoje outra grande figura de Portugal”.
“Não restam muitas. Ficam os livros, para sempre. Os livros que a Gradiva publicou, editou, e os textos dispersos que o autor organizou, alguns em colaboração com outros organizadores”, acrescentou.
Sublinhando que do muito que poderia ser dito sobre Eduardo Lourenço, muito ficaria ainda assim por dizer, a editora evoca nas suas palavras “o jogo do ‘tudo’ e do ‘nada’, dicotomia só aparentemente simples, recorrendo aos contrastes na sua análise crítica e com atenção especial ao tempo: o antes, o agora e o ‘depois’”.
“E, porventura, o recurso ao ‘nada’ será o reconhecimento da grandeza do ‘tudo’, todavia injusto se não celebrar de algum modo o ‘tudo’ que as coisas interpretadas foram, o ‘tudo’ que são, o ‘tudo’ que podem ser e serão: consagração de humanidade, da própria vida, em confronto com o vazio, a apatia, a morte”, acrescenta.
Na opinião dos seus editores, é “irreparável” a perda desta “intensa fonte de reflexão, da densidade, da dimensão que caracterizam a genialidade do grande ensaísta”, mas também é “inequívoco que Eduardo Lourenço é intemporal”.
Para Guilherme Valente, e toda a equipa editorial, “foi um verdadeiro privilégio privar e interagir” com Eduardo Lourenço e “fixar o seu pensamento numa coleção dedicada à reunião os seus textos, tal como foi o seu desejo”.
Ministro da Cultura de Espanha lamenta morte de “grandíssimo” intelectual
“Morreu um grandíssimo intelectual português, um grandíssimo filósofo e professor que merece ser recordado. […] e lamento muito o seu desaparecimento”, disse José Manuel Rodríguez Uribes numa declaração enviada à agência Lusa em Madrid.
O ministro da Cultura de Espanha recordou que o filósofo português foi galardoado com o Prémio Camões e o Prémio Pessoa, “os dois grandes prémios das letras portuguesas”.
Sublinhou em seguida que Eduardo Lourenço foi “um grande ensaísta", professor na Universidade de Coimbra que publicou “numerosas obras”, tendo dado como exemplos “O Labirinto da Saudade”, “Heterodoxia”, que considerou ser “a sua primeira grande obra”, e “Nós e a Europa”.
“Morreu hoje com 97 anos, um dia depois dos 85 anos que se cumpriram sem Fernando Pessoa, a sua grande referência, sobre o qual trabalhou e publicou”, disse o responsável governamental que também é um filósofo de direito espanhol e membro da comissão executiva do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE).
Câmara de Coimbra destaca “brilhantismo e combatividade”
A bandeira do município de Coimbra, que condecorou Eduardo Lourenço com a Medalha de Ouro da Cidade em 2001, vai ser colocada em meia haste, informou a autarquia, em nota de imprensa enviada à agência Lusa.
"Eduardo Lourenço foi um notável cidadão. A partir de Coimbra, com a liberdade que nos carateriza, interpretou e refletiu sobre Portugal, pensou e interrogou sobre a Europa e o mundo, e deixou-nos um património que durante séculos guiará o pensamento filosófico sobre a sociedade contemporânea", afirmou Manuel Machado, citado na nota de imprensa da Câmara de Coimbra.
Na mensagem, o autarca manifestou "um profundo agradecimento a Eduardo Lourenço, pela sua estima e enriquecimento à cidade de Coimbra, que muito o preza".
A nota da Câmara de Coimbra recorda a "forte ligação" do ensaísta à cidade, onde ingressou primeiro na Faculdade de Ciências e depois na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde concluiu a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, tendo ali lecionado como professor assistente.
Carlos Reis enaltece o "grande ensaísta literário"
“Acerca do desaparecimento de Eduardo Lourenço e das reações que ele tem motivado, a minha primeira reação é esta: não institucionalizemos Eduardo Lourenço. Lembremos a sua obra, a sua pessoa e a sua constante intervenção na nossa vida pública, mas não façamos dele a figura sacralizada que ele não quereria ser”, considerou o vencedor do Prémio Eduardo Lourenço 2019, num depoimento enviado à agência Lusa.
Na opinião de Carlos Reis, Eduardo Lourenço “foi um grande ensaísta literário, ou seja, alguém que cruzou a sua palavra com a palavra dos grandes escritores que leu: Antero de Quental, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Carlos de Oliveira, Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Eugénio de Andrade, Agustina Bessa-Luís José Saramago e muitos mais”.
O que de “inimitável” existe na palavra do ensaísta literário que Eduardo Lourenço foi, é a “capacidade para manter viva a voz do ensaísta, como voz outra, relativamente à dos escritores com quem ele dialoga. E também para ser, com eles e à sua maneira, um escritor”.
Com a morte de Eduardo Lourenço, “desaparece alguém que viveu tempos e mudanças históricas drásticas que ele ajudou a interpretar, com o seu pensamento e constante disponibilidade para o enunciar”.
Recordando que o filósofo português foi “formado, do ponto de vista intelectual, no tempo do salazarismo”, sublinha que “partiu para um exílio que se assemelha a outros, de grandes figuras da nossa vida cultural que, como ele, pensaram e problematizaram Portugal olhando-o de fora”.
“E desse exterior observou a Revolução de Abril, a descolonização, a integração europeia de Portugal, com as suas ilusões e com as suas falácias. Fê-lo sem nunca abandonar uma relação estreita, praticamente umbilical, com a terra onde nasceu”, recorda o professor de português, especialista em estudos queirosianos.
Nesse sentido, considera que Eduardo Lourenço ficou sempre o cidadão nascido em São Pedro do Rio Seco, a curta distância da fronteira com Espanha, e que “isso dava-lhe uma autoridade inquestionável para refletir sobre Portugal e sobre os portugueses, sem deixar de ser, como foi, um verdadeiro cidadão do mundo”.
“Um dia, há muitos anos, Eduardo Lourenço escreveu, no seu diário: ‘Gostaria de viver num convento onde o superior fosse Álvaro de Campos.’ E acrescentou: ‘Em lugar de nos perdermos na contemplação de Deus, adoraríamos noite e dia a sua Ausência’”, recordou Carlos Reis.
Para este ensaísta, “nada mais fascinante do que podermos testemunhar essa conjunta adoração da Ausência de Deus. Um Deus que, para Lourenço mais do que para Campos, foi sempre, como a morte, um mistério impenetrável”.
Lídia Jorge diz que Eduardo Lourenço foi o intérprete do pensamento português
"Eduardo Lourenço é o ensaísta e filósofo que melhor representa o nosso pensamento, de uma forma não cética nem irónica, e, ao mesmo tempo, apaixonada, por ter conseguido juntar o seu pensamento racional com uma sensibilidade emocional profunda", comentou a escritora, em declarações à agência Lusa.
Para a escritora, amiga do ensaísta, Eduardo Lourenço "conseguiu captar, de forma única, o lado luminoso e obscuro da cultura portuguesa" ao longo de mais de 70 anos.
Lídia Jorge admite que o facto do ensaísta ter vivido na Alemanha, no Brasil e em França, fez com que ganhasse um certo distanciamento para analisar o que é ser-se português, "mas a sua inteligência e sensibilidade conseguiria criar esse retrato de Portugal da mesma forma, se nunca tivesse saído do país, porque ele era brilhante".
"Tinha uma cultura humanista vastíssima, e não era uma erudição banal. Era profunda e cheia de sabedoria", acrescentou a autora, comentando ainda o temperamento do ensaísta: "Aliava a generosidade, a alegria e a vivacidade. É raro encontrar um filósofo tão brilhante, e ao mesmo tempo tão humilde, como ele era".
A escritora recém-galardoada com o Prémio da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, considera "fundamental que a obra de Eduardo Lourenço seja divulgada e o seu importantíssimo legado transmitido aos mais jovens".
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