O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, encabeçou a comitiva de comunistas e do Partido Ecologista "Os Verdes" num breve passeio de barco pelas águas serenas e de tons verdes, com as ilhas barreira da Armona, Culatra ou Farol à vista, a partir do caíque Bom Sucesso.

A embarcação de pesca e transporte de mercadoria de 18 metros, típica da região e do século XVIII, originalmente com duas velas latinas, é agora sustentada por um motor de 160cv que atinge uma velocidade máxima de 8,5 nós (cerca de 15 quilómetros/hora).

Com o mestre olhanense João Neto, de mão firme no enorme leme de madeira, o líder comunista e o cabeça-de-lista da CDU por Faro nas legislativas, Tiago Raposo, foram ouvindo as queixas de um viveirista local, com explorações de ameijoa e ostra, João Carlos, de 56 anos e desde os oito "a viver do marisco".

"Tenho um neto, mas não o quero aqui nesta vida porque acho que não tem futuro", lamentou o mariscador, dos 147 impedidos de produzir numa certa área da Ria Formosa devido à interdição por poluição desde há seis anos.

Ao todo, João Carlos tem 23.500 metros quadrados de viveiros inativos pelos quais paga na mesma a licença de exploração de 1.100 euros por ano, no Ilhote Negro e Ponta da Arte.

Perto das boias com bandeiras que delimitam os diversos viveiros de moluscos bivalves, o deputado comunista Paulo Sá lastimou o facto de já estar em funcionamento uma nova Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), mas a proibição da atividade de exploração de marisco se manter.

O deputado lamentou também a falta de investimento em dragagens para uma melhor navegabilidade e renovação das águas da ria, com o movimento das marés.

"É compatível proteger a natureza e, ao mesmo tempo, as atividades económicas tradicionais. O PAN [Pessoas-Animais-Natureza], por exemplo, tem uma perspetiva de tirar as pessoas e a pegada humana. O PAN refugia-se muito na multa, na sanção. É proibicionista. Mas já existiam aqui pessoas e atividades em harmonia muito antes de se fazer e classificar o Parque Natural da Ria Formosa", afirmou.

Para o deputado do PCP, especialista nas questões económicas, mas que não vai recandidatar-se em outubro ao posto de deputado, os mariscadores "nunca fizeram mal ao ambiente, até porque vivem e dependem das riquezas naturais".

"Temos esta posição e perspetiva há muitos anos, muito antes de o PAN existir ou ser criado", frisou.