A sua história de vida funde-se com a da emigração portuguesa, tendo deixado Portugal ainda em criança rumo a Nova Iorque, onde a adaptação "foi muito difícil", mas que acabou por lhe dar ferramentas para o futuro, como contou à Lusa.

Formou-se em engenharia e trabalhou na gigante de tecnologia IBM, mas por pouco tempo, pois logo soube que não seria feliz nessa área.

E foi essa infelicidade que a engenharia lhe trouxe que o levou a entrar no mundo da restauração.

"Surgiu a oportunidade de comprar um restaurante português-brasileiro aqui em Nova Iorque, que era de um casal de Viseu que se queria reformar, e acabei por finalizar a compra. Pedimos dinheiro emprestado, fizemos aqueles sacrifícios todos e, a partir daí, a minha vida desenrolou-se neste setor", afirmou o empresário, que já teve seis restaurantes nos Estados Unidos da América.

Além da restauração, Alfredo Pedro contou ainda, com orgulho, que foi o "primeiro hoteleiro português em todos os Estados Unidos": "Isso ninguém me pode tirar", frisou.

Contudo, sendo um homem de "relações fáceis", que gosta do contacto com os clientes, viu na "frieza" dos hotéis um impeditivo a expandir essa vertente do negócio, mantendo atualmente apenas um hotel, no Algarve: o “Carvi Beach Hotel”.

Toda esta experiência acumulada ao longo dos seus 68 anos, resultaram num novo espaço aberto este mês, no coração de Manhattan, chamado "Bica Café", que conta com a participação dos filhos, que acabaram por seguir as pisadas do pai.

Com um nome escolhido ao pormenor, o "Bica" surgiu da ideia de abrir um café típico português no centro de Nova Iorque e, segundo Alfredo Pedro, o intuito é abrir novas unidades pela cidade.

"É um espaço muito português, a começar pelo próprio chão, com padrões bem portugueses. Depois serviremos o típico pastel de nata entre outros produtos feitos aqui, no nosso espaço, por uma conceituada ‘chef’ pasteleira de nacionalidade uruguaia", afirmou.

Além dos pastéis de nata, o "Bica" oferece ainda petiscos tradicionais portugueses como torresmos, bolinhos de bacalhau, sanduíches de porco desfiado e saladas de bacalhau.

Também a culinária brasileira está presente no menu deste café, tal como tem sido tradição no percurso na restauração de Alfredo Pedro, como açaí, coxinhas, brigadeiros, entre muitos outros.

Junto ao "Bica", a família de Alfredo abrirá ainda este mês o “Ipanema”, um sofisticado restaurante português-brasileiro, um conceito que "dá certo", assegurou.

Neste momento, existem poucos restaurantes portugueses em Manhattan, algo que Alfredo Pedro lamentou, sublinhando que quem perde com a situação é a própria cozinha portuguesa que acaba menos divulgada.

"Há milhares de restaurantes italianos, chineses, japoneses, em Nova Iorque, mas portugueses há cada vez menos. Existe apenas outro restaurante típico português aqui em Manhattan - o 'Leitão' -, mas não o vejo como concorrente, porque no final estamos os dois a promover a nossa cozinha, a nossa língua e os nossos costumes", advogou.

"Temos de nos unir. Nós, portugueses, não somos unidos, não nos apoiamos uns aos outros. Infelizmente, vejo que todos os outros restaurantes típicos portugueses aqui no centro de Nova Iorque já fecharam. É muito caro manter as rendas aqui e cada vez somos menos", lamentou.

O "Ipanema", localizado ao lado do "Bica", contará com um menu pouco extenso, mas com "bons pratos portugueses", como arroz de pato ou amêijoa à bolhão pato, e do lado brasileiro contará com moqueca, feijoada e picanha.

O novo espaço terá ainda uma sala privativa, destinada a negócios ou momentos mais intimistas, que contará com uma homenagem à Amália, personalidade portuguesa de quem Alfredo Pedro era amigo próximo e que atendia muitas vezes nas suas passagens por Nova Iorque.

E o atendimento a personalidades do mundo artístico é o que não falta no percurso deste empresário português, que chegou a deixar à espera por uma mesa previamente reservada, durante 10 minutos, a atriz e princesa do Mónaco Grace Kelly, no seu primeiro restaurante.

"Tive de a colocar na pior mesa que tinha. No final pedi-lhe desculpas e Grace Kelly agradeceu o atendimento e prometeu voltar, algo que não chegou a acontecer, porque viria a perder a vida num trágico acidente", recordou Alfredo Pedro.

*Por Marta Moreira, da agência Lusa