“Além de darmos parte do IRS [Imposto sobre o Rendimento das pessoas Singulares] a IPSS [Instituições Particulares de Solidariedade Social], podíamos poder escolher uma empresa de comunicação social” para atribuir essa verba, propôs o especialista, em declarações à agência Lusa.
Segundo Gustavo Cardoso, “a primeira vantagem” desta medida “era que envolvia os cidadãos no problema da comunicação social”, isto numa altura em que “a maior parte dos portugueses considera que o setor dá lucro e está muito bem de saúde”, mostrando “uma grande discrepância com a realidade”.
A posição surge depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter questionado no final de novembro se o Estado não tem o dever de intervir face à crise da comunicação social, considerando que há uma "situação de emergência" que já constitui um problema democrático e de regime.
“O facto de o Presidente da República ter falado sobre o assunto introduz uma discussão, mas colocar nas mãos dos cidadãos a possibilidade de apoiar uma determinada comunicação social era uma forma de criar o incentivo, de obrigar as empresas a também elas tentarem cativar a atenção das pessoas para as apoiarem, escolhendo umas em detrimento de outras, o que iria levar a uma lógica de inovação também e tinha vantagem de ser do Estado sem ser do Estado diretamente, envolvendo os cidadãos”, acrescentou o investigador.
Como inconveniente, apontou que “parte destas empresas têm como objetivo o lucro, porque algumas são empresas cotadas e estão num mercado competitivo”, pelo que “equipará-las às IPSS e a outras entidades de solidariedade social seria uma coisa difícil de aceitar”, que implicaria uma sensibilização para a importância do setor.
Ainda falando sobre o papel do Estado no setor, como apontou Marcelo Rebelo de Sousa, Gustavo Cardoso indicou que é preciso “manter o tipo de apoios que existem” e também “repensá-los”, em áreas como a formação, a contratação (reduzindo prestações sociais), os equipamentos, a circulação (porte pago) e a digitalização.
Acima de tudo, “manter os destinatários que já temos”, desde logo a imprensa regional e o setor público, onde se incluem órgãos como a Lusa e a RTP, vincou.
Outra medida sugerida pelo também sociólogo foi a criação de “uma cultura de ‘startups’ [empresas com potencial de crescimento rápido] associada à comunicação social”.
“Aí ou se criam apoios diretos do Estado para financiar incentivos nesse campo ou as empresas mudam e passam a lançar marcas que não sejam suas, fazendo como investigação científica ou numa lógica de ‘business angel’ [investidores], exemplificou.
Estas empresas juntariam, assim, “quem percebe de informática com quem percebe jornalismo na lógica de fazerem coisas diferentes”, acrescentou Gustavo Cardoso.
Já recordando o negócio falhado de compra do grupo Media Capital pela operadora Altice, Gustavo Cardoso questionou se “não é tempo, efetivamente, de experimentar, ter empresas de telecomunicações, televisões, rádios e jornais sob o mesmo chapéu de titularidade e propriedade”.
“Não quer dizer que seja assim para todos, […] mas não vamos rejeitar essa ideia porque isso é mau”, frisou, considerando que esta junção “teria vantagens em termos económicos”.
Caso esta ideia avançasse, “teria de envolver sempre dois, que seriam os dois maiores grupos privados de comunicação social, a Media Capital e a Impresa”, já que “um só pode não ser o mais equilibrado para o sistema dos media português”.
“Vejo com muita dificuldade que, em termos de financiamento direto, existam outras formas que não passem por juntar a capacidade criativa e inovadora na área das telecomunicações com a capacidade produtora de conteúdos das empresas de media”, considerou o responsável.
Gustavo Cardoso foi, inclusive, um dos autores de um estudo prospetivo sobre “Modelos de negócio e comunicação social” lançado em 2015 e com previsões até 2020, apoiado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e pelo centro de investigação universitário do Instituto Universitário de Lisboa (CIES-IUL).
Na obra, lê-se que, “sem tornar o jornalismo atrativo, não é possível atribuir-lhe valor social”.
“Numa lógica de manutenção da atratividade no curto prazo é possível evoluir de um jornalismo tradicional para uma prática de jornalismo digital ou, numa lógica de manutenção da atratividade no médio longo prazo, optar por evoluir para um jornalismo em rede”, lê-se na obra.
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