O que se deve valorizar mais, o impacto que causa ou o terror que expressa? Para Stuart Franklin, presidente do júri do World Press Photo, que esta manhã anunciou como vencedora da edição deste ano a fotografia que registou a expressão do assassino do embaixador russo em Ancara, a resposta é clara. A foto em causa, considera, “reafirma a associação do martírio e publicidade” e por isso votou contra a sua escolha, conforme explica em artigo de opinião publicado no jornal inglês The Guardian.

"Esta imagem de terror não deveria ser a fotografia do ano. Eu votei contra", afirma. "Desculpa, Burhan. É a fotografia de um crime, do assassino e da vítima, ambos na mesma imagem, e moralmente tão problemática como a publicação de uma decapitação por um terrorista".

A imagem, captada por Burhan Ozbilici, fotógrafo da Associated Press, faz parte de uma série intitulada "An Assassination in Turkey" ("Um assassinato na Turquia"), que também conquistou o World Press Photo na categoria "Spot News - Stories". A foto escolhida pelo júri do prémio internacional mostra o polícia turco de pé, ao lado do corpo do embaixador Andrei Karlov, após o assassinato, que ocorreu durante um discurso, na inauguração de uma exposição de arte na capital da Turquia.

No artigo de opinião publicado pelo The Guardian, Stuart Franklin admite que a fotografia de Burhan Ozbilici "tem impacto, sem dúvida", e ele era favorável que vencesse na categoria de "Spot News - Stories", mas não para foto do ano.

"Colocar esta fotografia num pedestal tão alto é um convite àqueles que contemplam a espetacularidade destes palcos: reafirma a associação do martírio e publicidade", considera ainda.

Franklin elogia o trabalho do fotógrafo turco e considera que merece reconhecimento, mas recorda que o debate sobre esta questão não é novo e que o seu voto contra foi por recear que os grandes prémios amplifiquem as mensagens de terroristas pela publicidade adicional.

É a terceira vez que a cobertura de um assassinato vence o concurso World Press Photo, sendo a mais conhecida, a da morte de um suspeito guerrilheiro Vietcong, captada por Eddie Adams em 1968.

A imagem vencedora deste ano foi escolhida entre 80.408 fotografias submetidas a competição por 5.034 fotógrafos de 125 países e o júri premiou 45 fotógrafos de 25 países, em oito categorias.